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384-L DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

dignissimo que respeito, e homens honrados e do merecimento, que considero e aprecio! (Apoiados.}

Defendo o projecto dedicadamente, porque me convenço que elle aproveita ao bem da nação, porque é um travão posto á rapida marcha para a nossa completa ruina, que me preoccupa e assusta! (Apoiados.} Estamos á beira de um perigosissimo abysmo, que tudo, tudo, póde subverter e querem-nos deixar caír n´elle? Não querem que se empreguem todos os meios para o evitar? Deveremos deixar o governo cruzar os braços e deixar-nos ir para o fundo? (Apoiados.} Mas não fazer nada, nada tentar para se sair d´esta situação asphyxiante, esmagadora, que nos opprime, que nos assoberba e ameaça, é que seria um crime, uma infamia, uma traição e fraqueza indignas de portuguezes e do estadistas!

Assim é que nada se poderia remediar! E n´esse caso são, os que nada fazem nem deixam fazer, e não nós, e não o governo, quem quer entregar o paiz ao estrangeiro, quem lhe deixará abrir a porta, pelo desleixo, pela fraqueza, pela imprevidencia, por não ter feito uma unica tentativa de resistencia!... (Apoiados.} É isso o que querem com os seus processos de opposição?!

Pois não o queremos nós, não o quero eu, como s. exa., leal e dedicado patriota, que tanto quero á minha terra, a este meu queridissimo Portugal, aonde tenho a minha familia, o meu lar, os meus parentes e amigos, e os meus modestos haveres de que unicamente vivo e não da exploração do orçamento do estado, de benesses auferidos pela politica! (Apoiados.} Nunca exerci, na minha já longa vida, commissão alguma publica remunerada, nem pertenci a algum syndicato, companhia, banco, empreza publica ou particular, commissariado ou agencia, com ligação alguma directa ou indirecta com os governos ou com o estado!

Posso dizer isto de cabeça levantada, bem alto, n´este logar e perante o primeiro auditorio do paiz, como em toda a parte!...

Portanto, quando ponho o meu trabalho, o meu estudo, a sinceridade das minhas convicções, a minha consciencia, a minha honra, como a minha alma, ao serviço de uma causa, de uma idéa, de uma questão verdadeiramente nacional e de tanta gravidade como a que se debate, é porque tenho a certeza, é porque estou bem convencido, de que ella é justa, indispensavel, urgente e inadiavel aos grandes, aos sagrados interesses da patria (Apoiados.} e da sua conservação e independencia, os unicos que aqui defendo e defenderei, no exercicio do meu direito, no cumprimento do meu dever, sem me importar com quaesquer considerações de outra ordem!... (Muitos apoiados.}

Se um ministro do meu partido ou um governo d´elle saído, hoje ou ámanhã, fizesse votar uma lei, praticasse um acto, que aborta ou disfarçadamente podesse dar logar a que se fosse abrir a porta ao estrangeiro, para que governasse ou interviesse nas cousas de Portugal, eu seria o primeiro a combatel-o e a guerreal-o com toda a energia e violencia de que sou capaz, e iria corajosamente á frente dos mais ousa-dos, dos mais indignados e accesos em justificada colera, exercer até aos ultimos extremos a minha vingança de portuguez, contra o traidor ou traidores que tal fizesse, (Apoiados.} que em tal consentisse!

Mas tal não poderá nunca succeder! Não ha portuguez algum que o faça, nem portuguezes que o tolerem, sejam de que partido for! E os ominosos tempos de 1640, dos renegados e traidores, vão longo e não se podem repetir! (Apoiados.}

N´esta abençoada e encantadora terra, que nos é tão cara, a nossa amada patria, temos as nossas casas, as nossas queridas familias, as sepulturas de nossos paes, que morreram portuguezes, e queremos tambem ter as nossas e as dos nossos filhos, (Apoiados} defendendo este sagrado torrão que nos foi berço e ha de ser sepultura, até á ultima gota de sangue! (Apoiados.}

Não seria com a minha palavra, com o meu voto, com a minha tolerancia, com a minha cooperação sincera e leal, que eu continuaria a apoiar este governo e especialmente o seu illustre e honrado chefe, em que tudo confio, se porventura podesse suspeitar que na sua obra politica, administrativa ou financeira, podia haver o mais leve intuito de entregar a nossa querida patria ao estrangeiro, abrindo-lhe as portas, facilitando-lhe a entrada!... Seria eu o primeiro, repito, a protestar bem alto, com toda a independencia da minha alma e da minha coragem e desassombro, contra o vil attentado! Seria o primeiro a revoltar-me contra elle e com as armas na mão, se, tanto fosse preciso, como estou certo que todos se revoltariam, e que as proprias pedras das calcadas se haviam de levantar, e todas seriam poucas, para lapidar quem tal ousasse, quem á tal se atrevesse! (Muitos apoiados.)

Esteja a opposição bem certa d´isto, que não a reputo, nem é, mais altivamente patriota e portugueza do que eu, do que todos os que me ouvem! (Apoiados.)

Por isso, acho mau, e isso é que se me afigura crime de lesa-nação, e estar-se aqui com palavras e opiniões, que n´este logar se não deviam ouvir, a incitar o povo á revolta, á desordem, á resistencia por todas as fórmas, aconselhando-o insensatamente a fazer o que não deve e para o que não tem rasão, pintando-lhe as cousas ainda peiores do que ellas são, illudindo-o com affirmações de todo o ponto exageradas, inexactas, e inconvenientissimas!

Tenta-se desacreditar tudo e todos, instituições e funccionarios, levar a suspeição e a desconfiança nos homens publicos ao espirito popular, e não se quer ver, n´uma cegueira continua e apaixonada, os graves perigos, as tristes consequencias que d´ahi podem resultar! (Apoiados.)

O projecto da conversão é mau, é pessimo, será tudo isso que dizem, mas até agora ainda não apresentaram nada de melhor que o possa substituir! (Apoiados.)

Isso é que seria realmente de bons patriotas, (Vozes: - muito bem.) de amigos do seu paiz, o que daria a prova do seu sincero interesse em remediar o mal, que se reconhece existe, a que o projecto se propõe dar remedio!...

Sr. presidente, eu peço desculpa a v. exa. e á camara, pelo tom mais alto e acalorado com que fallei, vigorosamente impulsionado por sentimentos e impressões que não pude dominar; mas custa-me realmente muito, como custará a todos, ver a facilidade com que de animo leve se lança do seio do parlamento, da nossa primeira assembléa nacional, da que mais responsabilidades tem, tem, tão publico pregão de descredito e de deshonra, que vão achar echo e servir de arma aos encarniçados inimigos das instituições cá dentro, e aos inimigos da nossa autonomia lá fóra, sendo vergonhoso e indesculpavel, que sejam os proprios representantes do paiz, que desempenhem um tão triste e criminoso papel! (Apoiados.)

Quando as nações atravessam periodos criticos e angustiosos, de desventura e ruina, como este por que estamos passando, os seus homens publicos mais eminentes, sem distincção de côr politica, têem um unico fito em todas as suas palavras e acções - o da salvação da patria commum!

Em vez de gastarem o tempo e as forças a guerrearem-se tristemente, e a inutilisarem-se com mesquinhas questões de um condemnavel e revoltante facciosismo, os partidos politicos unem-se sinceramente como um só, formando o partido nacional, e cooperam e trabalham todos para o mesmo honroso fim! (Apoiados.)

Haja vista, agora mesmo, o nobre e patriotico exemplo da altiva e cavalheirosa Hespanha, aonde se estão congregando todos os partidos e todos os politicos e homens de valor, em torno da mesma bandeira, a sagrada bandeira da patria e da monarchia, fazendo os mais heroicos sacrificios para ajudal-as a sair triumphantes e gloriosas, da enormes difficuldades com que tão honrosamente luctam, para manter illeso o seu patrimonio territorial e as suas respeitaveis tradições seculares! (Apoiados,)