APPENDICE Á SESSÃO N.° 23 DE 28 DE FEVEREIRO DE 1898 384-M
Ao passo que isto succede em Hespanha, a dois passos de nós, aos nossos olhos, como succede e tem sempre succedido em outras nações, no nosso paiz, n´este desventurado Portugal, bem digno de melhor sorte, pullulam as pequenas ambições do mando e do poder, as tristissimas invejas e intrigas de um facciosismo doentio, mesquinho e estreito, que, dominado pela obcecação mais completa dos verdadeiros principios do patriotismo, levanta campanhas irritantes contra o governo, e pretendo por todos os meios crear-lhe difficuldades, entravar-lhe a acção governativa, diminuir lhe a força de que elle tanto precisa, para não sossobrar esmagado pelas terriveis circumstancias que o rodeiam, que não creou, de que não tem culpa! (Apoiados.)
Parece que tudo se oblitera e esquece, n´este desgraçado momento, para só se dar ouvidos ao despeito e á represalia, á paixão desordenada e á retaliação politica! (Apoiados.)
E, n´esta inconsciencia, n´este desvairado caminho, não se quer ver que se aggrava cada vez mais a situação, que ella se póde tornar dentro em pouco, por culpa de todos, irreductivel, perigosissima! (Apoiados.}
Parece que a opposição faz gala de assoalhar bem alto a nossa desgraça! E querendo apresentarmos á Europa como um paiz perdido, sem recursos, desconceituado, sem meios de cumprir o que prometta, não se cansa de, n´este logar, para que bem a ouçam, ir clamando todos os dias:
«vejam esta miseria em que vivemos! Não se fiem nas palavras do governo! Orçamentos, calculos, provisões, estatisticas, elementos de apreciação, planos financeiros, é tudo uma burla! É tudo para arranjar dinheiro! Não nos emprestem nada, que perdem tudo! Acautelem-se! Desconfiem ! Isto é um paiz irremediavelmente condemnado! Estamos em bancarrota, ninguem confie nas palavras e promessas do ministro da fazenda! Não queiram ajudar-nos a sair d´esta situação! Não caíam em nos ajudar a salvar, que podem perder tudo!»
E é com estas patrioticas exclamações para os estrangeiros, que aqui têem os seus representantes a ouvir e que informam os seus governos, e é aconselhando os nacionaes a que se levantem, que se revoltem, que protestem e promovam toda a casta de resistencia, que os insignes patriotas da opposição pretendem salvar a patria! (Apoiados.)
E depois, têem a audacia de vir dizer á camara, ainda em nome d´este seu mesmo patriotismo, que tome sentido o governo, que trema, porque o paiz está revoltado, a sua agitação é enorme, a sua colera tremenda, e tudo póde naufragar de um momento para o outro, no estado de desespero e convulsão que já se começa a notar e que póde ser funestissimo pelas ameaças terriveis que já se ouvem! Não se ouve nada! (Apoiados.)
Pobre paiz! Tomara elle que o deixassem em paz. Está desenganado e bem desilludido do que valem e representam estes conselhos e indignações, da mais descarada exploração politica, com mira no poder!
Deixem-no em paz e socegado!
E já que lhe não dão nem podem dar, a felicidade e o bem estar a que elle tinha direito, deixem-no ao menos pacificamente no seu honrado labor quotidiano, entregue ao seu afanoso lidar na agricultura, no commercio, na industria, aonde, fóra do embate das ruins paixões politicas, póde ganhar dignamente, com o amargurado suor do seu rosto, o pão de que precisa, produzindo ainda o sufficiente para ir contribuindo generosamente, com sacrificio que seja, para os encargos do estado, para a sustentação do existente! (Apoiados.)
Deixem-no, pois, em socego, que é o melhor que podem fazer!
Nem o provoquem, nem o tentem illudir, nem o desinquietem e aconselhem mal, que podem ser victimas da sua justiça! (Apoiados.)
O sr, Presidente; - O sr. deputado falla ha uma hora e tem ainda um quarto de hora para concluir o seu discurso.
O Orador: - Eu vou resumir, sr. presidente, as minhas considerações, e vejo, pelo adiantado da hora, que muito me ficará ainda por dizer...
E fallam aqui os oradores da opposição, em agitação e revolução, incitando o povo a ella com as suas palavras e opiniões, sem quererem ver o grande mal que estão fazendo! (Apoiados.)
Que pensem em a promover e fomentar os desvairados e encarniçados inimigos das instituições e da ordem, os pescadores de aguas turvas que nada têem que perder, e que para fazer vingar os seus ideaes politicos, lançam mão de todos os meios, sem nenhuns escrupulos, póde compre-hender-se, vá, estão no seu papel; mas que tal façam homens que se dizem monarchicos, que têem exercido altos cargos publicos, que têem grandes responsabilidades do governo, que se apregoam conservadores, defensores até do poder pessoal, e que se jactam de ser leaes conselheiros amigos da corôa, isso é que não se comprehende nem se póde desculpar! (Apoiadas.)
Eu respeito todos as idéas politicas, todas as opiniões manifestadas, todas as espirações de liberdade, quando sejam legitimas e sinceras, quando não pretendam, com a sua acção mephytca e dissolvente, fóra do dominio legal, embaraçar e destruir a liberdade e o direito dos poderes constituidos, que todos temos o dever de acatar e defender.
Aqui, como em qualquer outra parte, respeitarei as opiniões adversas, emquanto ellas não tentarem, por meios illicitos e violentos, impor-se e querer esmagar a minha liberdade e o ideal politico que m´a garante, que tenho rigorosa obrigação de sustentar e defender, por convicção e porque assim o jurei! (Apoiados.)
Mas a minha tolerancia com os reconhecidos inimigos das instituições, ou com aquelles que o pareçam, para explorarem erradamente a opinião publica, transformando a sua palavra n´uma arma poderosa e perigosa, para fomentar a monarchia e a desordem, que podem trazer os mais tristes resultados, tem limites, e não póde ir alem do que dignamente seja permittido. (Apoiados.)
As palavras que a opposição tão inconscientemente aqui solta, são diariamente publicadas, em typo graúdo, nos jornaes mais avançados, mais adversos á monarchia e a todas as instituições existentes, e escandalosamente commentadas e exploradas, como fortes argumentos e boas rasões para as combater!
Haja, pois, mais cobro, mais cautella na lingua, e menos paixão, menos fel na alma! (Apoiados)
Fomenta-se e anima-se insensatamente d´este logar a resistencia ao projecto de conversão, para depois se vir dizer que ella existe lá fóra, que é tremenda, energica, assustadora, ameaçante até á mão armada!
Mas como se comprehende a existencia de tal revolta, de tal colera popular que ameaça desfechar em revolução, se nem sequer ha n´esta camara, noticia de alguma manifestação de protesto, nem ao menos uma unica representação, das que costumam vir em casos similhantes?! (Apoiados.)
Peço a v. exa., sr. presidente, que se digne dizer-me e á camara, se ha na mesa alguma proposta, reclamação ou representação, contra o projecto da conversão?
O sr. Presidente: - Não, senhor. Não ha cousa alguma.
O Orador: - Pois bem, não ha nada, e estamos ha tres semanas a discutir o projecto, e foi annunciada ha muito tempo a sua apresentação ao parlamento! Isto prova, que a, tal forte resistencia, a revolta ameaçante e atterradora, só existe no animo da opposição, e parece que nos seus desejos, para crear difficuldades ao governo; e que, se alguma manifestação se der fóra d´esta assembléa, nem é expontanea nem tem valor, porque é a resultante do que