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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Lembre-se a illustre commissão dos officiaes de infanteria e cavallaria, que não lêem meios para as primeiras necessidades da vida. Um alferes, por exemplo, não póde viver decentemente com 25$000 réis por mez.

Qualquer official de pedreiro ou carpinteiro tem de salario 1$000 réis diarios.

Desculpe-me a camara o ter tomado algum calor n'esta questão, mas o meu fim principal foi protestar contra a comparação que se fez dos serviços do marechal Saldanha com os serviços do actor José Carlos dos Santos, a quem a camara concedeu uma pensão superior á que póde ter a viuva de um general de divisão.

Os serviços de um actor, por mais illustre que seja, não podem pôr-se a par dos serviços prestados pelo marechal Saldanha, nem por outros militares illustres que formaram a grande epocha de valentes soldados, taes como o duque da Terceira, conde de Avillez, que esteve preso cinco annos nas prisões de S. Julião, o que incessantemente se bateu pela independencia da sua patria. (Muitos apoiados.)

Declaro a v. ex.ª e á camara que não me esqueço dos amigos, ainda mesmo que elles tenham sido riscados da lista dos vivos.

Concluindo, peço a v. ex.ª, invocando a nossa antiga amisade, que tenha commiseração do infeliz projecto n.º 84, e que o dê para ordem do dia.

Peço tambem á camara que attenda com justiça as verdadeiras glorias nacionaes, quer nas armas, nas letras, nas artes e nas sciencias.

Tenho concluido.

O sr. Pereira, de Miranda: — Mando para a mesa um projecto, propondo algumas modificações á lei de 22 de julho do 1867, sobre sociedades anonymas. O meu illustre collega e amigo o sr. Antonio José de Seixas fez-me a honra de associar-se a este projecto.

O sr. Pires de Lima: — Quando na sexta feira passada me dirigia para esta casa, disseram-me que v. ex.ª, por uma deliberação unanime da camara, deliberação que honra sobremodo esta assembléa, havia levantado a sessão e interrompido os nossos trabalhos.

Lamento não ter estado presente quando v. ex.ª communicou officialmente aos meus collegas a triste noticia do fallecimento do Pontifice. Se estivesse, associaria a minha voz fraca e humilde á voz auctorisada de v. ex.ª e á do nosso honrado collega o sr. Carlos Testa para prestar homenagem á memoria do um dos padres que mais honrou a cadeira de S. Pedro pela austeridade do seus costumes, pela energia inquebrantavel do seu caracter, pela grandeza verdadeiramente magnanima da sua alma o sobretudo pelo exercicio constante e nunca, interrompido da mais sublime das virtudes christãs, a caridade. (Muitos apoiados.)

A critica vê-se muitas vezes seriamente enleiada, quando pretende determinar com perfeita exactidão o valor e os merecimentos pessoaes de qualquer personagem celebre, que viveu longe de nós e que nos apparece quasi sumido na penumbra de tempos remotos. E que a, phautasia em lucubrações d'esta ordem, entra ordinariamente ao lado da reflexão e empenha-se em exagerar as proporções e em avultar as formas do ente privilegiado, que logrou com seus feitos destacar-se no meio dos seus contemporaneos! A distancia de seculos opera maravilhas, e não raras veezs celebridades verdadeiramente epicas devem grande parte da sua fama unicamente á circumstancia de não terem vivido mais proximo de nós.

Mas, sr. presidente, Pio IX morreu apenas ha tres dias, as suas cinzas estão ainda quentes, e comtudo todos vêem, todos reconhecem n'elle já um personagem lendario. Vivia ainda e circumdava-lhe já a fronte, angusta e veneranda a aureola da gloria! (Muitos apoiados.)

Era nosso contemporaneo e pertencia já á posteridade, e com os seus feitos havia conquistado na historia uma pagina brilhante que ninguem ousa disputar-lhe, e cujo esplendor ninguem poderá offuscar.

No seu pontificado, que foi longo e tempestuoso, Pio IX tomou resoluções e praticou actos que não agradaram a todos. Não admira.

Não ha, não póde haver perfeita consonancia de opiniões, quando ha divergencia, e, divergencia grande e profunda nas paixões e nos interesses.

Mas cousa notavel! Os mais encarniçados adversarios de Pio IX eram os primeiros respeitadores, e os mais sinceros, dos seus dotes pessoaes e dos seus merecimentos não vulgares. (Apoiados.)

Pio IX teve muitos que combateram tenazmente a politica que elle seguiu e que em sua consciencia entendeu ser a mais proficua, á igreja, mas desceu ao tumulo sem deixar após si inimigos que amaldiçoassem o seu nome, estimado de todos. (Vozes: — Muito bem.)

Vivo, só conquistou affeições e respeitos; morto, só nos lega saudades o admirações. (Apoiados.)

Esta camara honrando a memoria do pontifico virtuoso, a si mesma se honrou.

Mas se Pio IX na sua demoraria peregrinação sobre a terra, na Africa e na Europa, no Chili, nos Estados Pontificios; agora em Imola e Spoletto, logo em Poma; já, pregando ás multidões na praça publica e fascinando-as com a sua eloquencia inspirada; já, no remanso do gabinete resolvendo com tino complicadas negociações diplomaticas; já, sustentando com energia na cabeça a toara pontificia ; agora, nos momentos fugitivos de ventura, logo, nas horas longas de infortunio; sempre e em todas as circumstancias da sua trabalhada existencia, se não houvesse edificado constantemente com as suas virtudes acrisoladas o mundo inteiro, ainda assim não mereceria senão louvores esta camara, prestando homenagem á memoria do chefe da christandade.

Acima do homem que vive hoje para morrer ámanhã está a instituição que elle symbolisa e que não morre nunca.

Acima de Pio IX, que era pó, está o principio religioso de que elle era representante na terra. (Vozes: — Muito bem.)

Somos catholicos e correspondemos fielmente aos sentimentos da nação que nos elegeu, acatando, nos tributos de respeito pagos á memoria de Pio IX, as crenças de sete seculos da monarchia portugueza, as quaes, se inspiraram outr'ora aos nossos maiores os feitos heroicos o giganteos, de que ainda hoje nos ufanâmos, ainda no presente, são um dos laços que unem mais estreitamente todos os filhos d'esta boa terra, constituindo-os uma só familia, e riando-lhes a força sufficiente para amar e defender, se tanto for necessario, a nossa independencia, e para marchar com passo seguro e firme no caminho do progresso e da civilisação. (Apoiados.)

Amo sinceramente tudo o que é verdadeiramente grande, e por isso curvo-me sempre respeitoso e submisso diante dos entes privilegiados a quem a, natureza concedeu dotes eminentes, assignando-lhes no mundo missão providencial e extraordinaria.

Alem d'isso preso e preso muito as crenças catholicas, crenças que recebi na infancia no seio da minha bondosa familia, e que, o estudo, a reflexão, e a leitura de largos annos souberam robustecer no meu coração e no meu espirito.

Por isso eu, o ultimo dos padres portuguezes, o mais humilde dos prelados d'esta terra, me associo de coração ás demonstrações que a camara, entendeu dever dar na sessão de sexta feira, ultima, e só deploro n'este momento o não haver estado presente então, para com a minha palavra e com o meu voto approvar as deliberações que ella entendeu dever tomar.

Vozes: Muito bem.

(O orador foi cumprimentado por muitos srs. Depudados,