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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Nós precisâmos indispensavelmente de um caminho de ferro que pelo norte do Hespanha facilito e abrevie por terra as communicações com a França mais do que actualmente são por mar.

O prolongamento da linha do Douro, cujas dificuldades não sou competente para avaliar, é com certeza mais facil o mais barato do que vae ser a construcção do caminho do ferro da Beira Alta.

Se depois da conclusão da linha do Douro, ficando nós já com uma linha internacional e tendo assegurado ao caminho do Douro o rendimento, de que elle é susceptivel, tivermos meios disponiveis ou pelo menos o orçamento equilibrado, julgo então justo e conveniente proceder-se á construcção do caminho de ferro da Beira Alta, ou por conta do estado, ou por adjudicação, se se eucontrar empreza que o tome em condições favoraveis; antes d'isso porém, deixar ficar o caminho de ferro do Douro incompleto, e por consequencia quasi improductivo, em relação ao producto que dará depois de concluido e ligado na rede europea, é na minha opinião inutilisar a enorme despeza feita com este caminho de ferro, que emquanto se não completar não representa senão despeza e um encargo permanente do orçamento, e parece-me que é termos as despezas de dois caminhos de ferro, sem termos a receita nem as vantagens de nenhum d'elles.

E ha ainda uma circumstancia que me parece importante, e que não prescindo de lembrar ao nobre ministro das obras publicas.

Se o caminho de ferro da Beira Alta, como se diz no projecto, se destina a ser a linha internacional, parece-me indispensavel que essa linha tenha todas as condições de velocidade e boa exploração, que se dão nas linhas da Europa, a que ella vae ser terminus o complemento.

A este respeito, informado tambem por pessoas competentes, creio que o projecto não tem as condições indispensaveis para que esta linha possa ser explorada, como o exige o fim a que se destina, mas ainda que possa, ainda que o novo caminho de ferro da Pampilhosa até á fronteira tenha essas condições de velocidade, a linha nunca póde ser verdadeiramente internacional, porque taes condições não existem na linha actualmente em exploração pertencente á companhia dos caminhos de ferro do norte e leste, que ha de fazer o movimento desde a Pampilhosa até Lisboa.

Eu não desejava de modo algum que, votando nós uma linha internacional, sujeitando-se o paiz aos sacrificios necessarios para essa construcção, a Europa, quando viesse demandar a cidade de Lisboa e seu porto, á chegada á fronteira portugueza ou á Pampilhosa, fosse convidada a entrar n'uma especie de diligencia, porque pouco mais do que isso é actualmente o serviço dos caminhos de ferro, tanto os do norte o de leste como os explorados pelo estado (Apoiados.), sendo para notar que estes ainda estão peiores do que aquelles.

Espero que o illustre ministro das obras publicas consiga tranquillisar as apprehensões que sinto, mas a empreza é realmente difficil, posto que digna e em nada superior á muita illustração e notavel talento do meu nobre amigo.

Mais teria a dizer, mas não quero demorar a discussão sobre a generalidade do projecto.

O sr. Ministro das obras publicas (Lourenço de Carvalho): - (S ex.ª não restituiu o seu discurso a tempo de ser publicado neste logar.)

O sr. Francisco de Albuquerque: — Estou convencido de que os longos discursos têem prejudicado immensamenfe o caminho de ferro da Beira Alta; não serei eu, portanto, sr. presidente, que vá pela minha parte prejudical-o ainda mais apresentando á camara um comprido arrasoado.

A minha posição especial n'esta camara leva-me, porém, a dizer alguma cousa sobre este projecto; obriga-me a varrer a minha testada.

Eu, sr. presidente, como representante de um dos circulos da Beira Alta tenho tido a infelicidade em toda a minha vida politica de não ter jamais tido a opinião dos regedores e dos cabos de policia; portanto, estando nas vesperas de dar contas aos meus eleitores da maneira por que tenho desempenhado o meu mandato, e parecendo-me que ainda d'esta vez não lograrei a ventura de ter a opinião d'esses cabos de policia e d'esses regedores, tenho mais necessidade do que outro qualquer, a não estar nas minhas circumstancias, de dar aos meus eleitores e ao paiz a rasão dos meus actos. E com relação ao assumpto que se discute com grande maioria de rasão, porque até já fui accusado em algumas partes de ter descurado esta questão, aliás importantissima, talvez a mais importante para o circulo e para a provincia que tenho a honra de representar n'esta casa. (Apoiados.)

Quando no principio d'esta sessão parlamentar o illustre ministro da marinha o sr. Thomás Ribeiro, ainda então só deputado, pediu a palavra e perguntou ao governo o que tencionava fazer ácerca do caminho de ferro da Beira Alta, eu estava tambem quasi resolvido a pedil-a e dizer alguma cousa a este respeito. Não o fiz porque entendi que não era necessario nem conveniente uma politica de espectaculo.

(Ápartes que não se ouviram.)

N'esta parte não descuro os meus deveres, nem os tenho descurado, usando dos parcos recursos de que disponho, e se não me levantei e não disse alguma cousa sobre o assumpto foi porque entendi que alem de inutil poderia ser prejudicial.

Quando, antes de se abrir a sessão, o governo tratava de organisar o projecto do discurso da corôa, eu fui ter com o sr. presidente do conselho de ministros, o nobre marquez d'Avila e de Bolama, e pedi-lhe que não deixasse de fallar n'esse documento do caminho de ferro da Beira Alta.

S. ex.ª assim m'o promelteu e eu acrescentei ao mesmo tempo n'essa occasião, como já de outras vezes o tenho feito, que para mim a questão mais altamente politica, a questão ácerca da qual não transigia com qualquer partido, fosse qual fosse, era a do caminho de ferro da Beira Alta, porque superior o muito superior a quaesquer considerações partidarias está sem duvida a consideração dos interesses publicos. (Apoiados.)

O illustre presidente do conselho de ministros, repito, prometteu-me que havia de fallar no discurso da corôa do caminho de ferro da Beira Alta. Apparecendo o discurso da corôa, eu realmente não fiquei muito satisfeito pela fórma por que n'aquelle documento se fallava do caminho de ferro da Beira.

Fui ter com o sr. ministro das obras publicas, a quem repeti quasi o mesmo que tinha dito ao sr. presidente do conselho, e acrescentei que me via forçado o tomar a palavra, quando se tratasse da discussão da resposta ao discurso da corôa, para apresentar uma emenda á parte relativa ao caminho de ferro da Beira Alta.

S. ex.ª respondeu-me, que dentro em poucos dias, talvez cinco ou seis, havia de apresentar ao parlamento uma proposta de lei a este respeito.

Eu acceitei esta rasão, já porque apoiando o ministerio tinha n'elle confiança e esperava ver realisada a promessa, já porque era tão pequena a demora, que sem inconveniente podia esperar.

N'este intervallo tomou a palavra o sr. Thomás Ribeiro para tratar do caminho de ferro da Beira Alta, e eu, que sabia o que se passava, entendi que não devia fallar no assumpto, disse até isto mesmo ao sr. Thomás Ribeiro.

Appareceu o prejecto, com o qual não concordava absolutamente, e se acaso viesse á discussão havia de apresentar-lhe algumas modificações.

O governo porém caíu, as cousas mudaram, e eu confesso que me parece que estive nove ou dez mezes sonhando, acordando agora para continuar a discussão do dia 3 do mar

Sessão de 12 de fevereiro de 1878