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414 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

noso para mim ter de fallar n'este momento, tendo recebido, ha pouco a tristissima noticia da morte do meu melhor amigo africano. Foi só hoje que tive essa dolorosa surpreza.
Sr. presidente, é necessario que Silva Porto, esse velho portugues, a quem a patria tanto deve, nascido no baluarte da liberdade, o Porto que elle amava mais do que tudo e no qual almejava por ter a sua sepultura, é necessario, digo, que elle soffresse muito, que fosse enorme a sua dor para que que tomasse a resolução de suicidar-se!
Ainda ha pouco, sr. presidente, quando eu estava na costa oriental, me escrevia elle, dizendo-me que, se fosse preciso, iria lá salvar-me; mas não me foi isso necessario. Os portuguezes, conhecedores da Africa, e que se dirigem a um fim patriotico, caminham n'ella desassombradamente; porque ou se lhes abrem todas as portas ou sabem transpol-as, quando lh'as fecham.
Escusado é dizer, sr. presidente, que me associo de todo, o coração á proposta do sr. Luciano Cordeiro. . E agora permitta-me v. exa. manifestar o meu sentimento e dizer quanto me compunge o ver que, no momento em que, n'esta camará, por certo com applauso do paiz inteiro, se levanta um brado de respeito e gratidão, a pedir que se lance nos registos parlamentares um voto de sentimento pela morte de um benemerito da patria, compunge-me, digo, que aqui mesmo e n'esta occasião se levante uma mesquinhez politica. (Apoiados.)
E passo adiante.
Ouvi fallar aqui em erros do governo, na falta de organisação da força do exercito do ultramar, e não sei em que mais.
Eu quero só dizer que effectivamente as forças do ultramar não estão reorganisadas, mas é certo tambem, que ha lá mais soldados, do que cá.
Quero dizer a v. exa. que quando o ministerio actual preparava a dictadura que está sendo discutida n'esta casa em ordem do dia, e que por isso não deve discutir-se agora, nas colonias organisavam-se forças, superiores e n'esse momento tinha eu debaixo das minhas ordens 50:000 homens; isto é, muito mais do que tem Portugal no continente.
É necessario que se saiba que nas nossas colonias trabalha-se, mas sem alarde, (Apoiados) é necessario que se saiba que as ordens dadas pelo sr. Ressano Garcia quando ministro da marinha, assim comovas que foram dadas pelos dois ministros que se lhe seguiram, os srs. Arroyo e Julio de Vilhena, foram-no sentido de haver na provincia de Moçambique forças bastantes para se resistir fosse, a quem fosse.
Eu, n'este assumpto não faço politica; faço justiça a todos. (Apoiados.)
E visto que se fallou na organisação do exercito do ultramar, digo, na presença do sr. Ferreira do Amaral, um dos homens mais competentes em questões ultramarinas, que é preciso estudar bem essa reorganisação.
Não falta quem tenha estudado o que respeita á organisação do exercito do ultramar; muitos têem visto tudo o que por lá se passa; e eu tambem tenho visto o mesmo, mas mettido entre os soldados.
A reorganisação não se póde acceitar como está, porque é pessima. Se o sr. Julio de Vilhena a não acceitou é porque realmente a não achou em condições acceitaveis, e pela minha parto desde já declaro que hei de ser aqui o primeiro a combatel-a, se ella vier a debate.
Mas deixemos isto por agora, e permitta-me ainda v. exa. que eu diga duas palavras em referencia a um ponto do discurso que acaba de proferir o meu illustre amigo e collega n'esta casa o sr. Elvino de Brito.
Fallou s. exa. em influencias estranhas que podem ter sido causa do desastre no Bihé.
Eu nada sei a esse respeito, mas digo que no tempo em que cheguei ao Bihé, tambem encontrei difficuldades, e não havia lá estrangeiros alguns.
É preciso que se saiba que no interior da Africa muitas vezes se encontram dificuldades, sem serem suggeridas por nenhum estranho.
Essas difficuldades provém, em regra, da propria selvageria dos indigenas; são suggeridas por interesses mesquinhos, que se debatem lá, como aqui. (Apoiados.)
Quem sabe o que foi? Não antecipemos os nossos juizos; é preciso primeiro que se conheçam os acontecimentos e se obtenha a certeza dos factos. (Apoiados)
Em todas as minhas viagens pela. Africa, onde encontrei sempre maiores difficuldades, e onde tive de sustentar maiores luctas, foi no Bihé, para poder seguir d´ali para o interior.
Organisei tres expedições, e pouco depois todas tres desappareceram!.
Não era facil sair d'ali quando se não era negociante, quando se não estava ligado ao paiz, e quando se não tinham umas certas facilidades que nós, os portuguezes, não podemos admittir, porque nós não podemos transigir com a escravatura. (Apoiados.)
Não era facil sair do Bihé quando se não tinha experiencia, e por isso eu luctei com difficuldades; por isso luctaram com dificuldades Capello e Ivens, e todos os mais que se seguiram.
Pelo que respeita á expedição mandada pelo sr. ministro actual da marinha, unicamente faço votos pela sua boa fortuna, desejando que o dignissimo official que a commanda, o sr. Couceiro, possa seguir sem estorvos o seu caminho, e que a morte do grande africanista Silva Porto seja vingada, se é que o precisa ser. (Apoiados.)
Não posso tambem deixar de dizer que a expedição mandada organisar pelo sr. Ressano Garcia foi bem mandada.
Digo isto, mesmo sem os apoiados da maioria, porque fallo com conhecimento de causa.
Repito, o sr. Ressano Garcia fez bem em mandar a expedição, como agora o sr. ministro da marinha, mandando outra, mandou muito bem. (Apoiados.)
(S. exa. não reviu as notas tachygraphicas.)
O sr. Adolpho Pimentel: - Sr. presidente, duas palavras apenas.
Desejo, unicamente dirigir um pedido a todos os meus collegas n'esta camara, seja qual for a parcialidade política a que pertençam, seja qual for o partido sob cuja bandeira militem.
Este pedido é para que, em presença da moção do sr. Luciano Cordeiro, só haja um pensamento a animar-nos, o pensamento patriotico, deixando as luctas de politica partidaria para melhor occasião. Em face de um acontecimento que para o paiz representa um desastre, porque é sempre um desastre o mallogro de uma expedição, desastre aggravado pela perda de um dos nossos mais benemeritos africanistas, (Apoiados.) é por acclamação que devemos votar a proposta do sr. Luciano Cordeiro, (Apoiados.) pondo n'este momento de parte e deixando para occasião em que elles possam ter cabimento os assumptos de politica irritante. (Muitos apoiados.)
E tanto quero ser coherente com esta idéa, que nada mais digo, embora com todo o direito o podesse fazer desde já, em vista das considerações, bem pouco opportunas, do sr. Elvino de Brito. (Muitos apoiados.)
(S. exa. não reviu.)
O sr. Frederico Laranjo: - Sr. presidente, ao ouvir alguns dos srs. deputados d'esse lado da camara, poderia parecer que o partido progressista e os deputados republicanos se recusavam absolutamente a votar a proposta apresentada pelo sr. Luciano Cordeiro, quando o que e certo é que ninguem se recusava a isso e todos se associaram a essa proposta, que era um voto de sentimento pela morte de um portuguez illustre; se com a discussão d'essa pro-