4 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
ruinada, gasta nas lutas e trabalhos que sustentaram para bom do nome português o glorificação da nossa bandeira.
Era necessaria a sua criação, era opportuna, fossem quaes fossem as condições do Thesouro.
Pelo que diz respeito ao ensino colonial, tambem era necessario, porque esse ensino é indispensavel aos medicos que se dedicam aos trabalhos arduos da clinica tropical, que são inteiramente differentes o tem nuances diversas da clinica continental, cujo ensinamento é ministrado nas escolas medicas do país.
Eu, usando neste momento da franqueza e lealdade que me caracteriza, não posso deixar do louvar, de uma maneira geral, a iniciativa do projecto em discussão. O Sr. Ministro da Marinha honrou-se a si mesmo, como Ministro e como profissional trazendo ao Parlamento este projecto e declarando-o uma questão aborta, do maneira a podermos todos cooperar, dentro das nossos recursos, para que este projecto saia d'aqui o melhor possivel (Apoiados do Sr. Ministro da Marinha).
Deve sor tomado como principio colonizador, segundo o meu modo de ver, o chamar para as colonias colonos que as possam fazer prosperar, mas sendo este um principio colonizador, já o não é o impormos as colonias aos colonos, sem tã0o pouco devemos aconselhá-las a estes como unico recurso do vida.
A questão colonial é, acima d" tudo, uma questão agricola. (Apoiados).
A questão commercial, que é importante, e a industrial, que começa a desenhar-se nas nossas colonias, hão de ter uma acção mais limitada.
As colonias tropicaes, sobretudo, estão destinadas a dar-nos grandes riquezas com as suas empresas agricolas, (Apoiados); mas para que as empresas agricolas prosperem e vigorem, é preciso, acima de tudo, que hajam braços vigorosos, para que, com elles, se possam engrandecer e desenvolver, e que esses braços sejam não só dos indigenas, não só dos colonos africanos que se destaquem de um ponto para outro, mas tambem de europeus, que devem desenvolver a sua actividade pelo cerebro. (Apoiados).
Todos nós sabemos as crises angustiosas por que teem passado algumas empresas agricolas de S. Thomé o Principe, sem duvida as mais prosperas de todas as empresas similares, quer pela falta de pessoal, quer pela reducção que esse pessoal soffre, resultante dos agentes morbigenos. (Apoiados).
Todos noa sabemos que o colono europeu não pode produzir sufficiente trabalho para poder dar vantagem a essas empresas agricolas, porque, o colono europeu pode produzir, quando muito, cinco horas por dia de trabalho, das 7 ás 10 da manhã e das 3 ás 5 da tarde, sendo de notar que ao 6 horas é noite nos tropicos.
Sendo assim, é preciso que nos pontos onde não haja braços sufficientes para poder fazer prosperar as empresas agricolas, se importem colonos de outras regiões, e que se adaptem ao clima, de maneira a poderem, com o seu trabalho, fazer progredir essas empresas.
A falta desses braços traz consequentemente crises extraordinarias.
É o que está succedendo em S. Thomé e Principe. Mesmo de entre as raças negras ha umas que resistem mais do que outras á acção do clima e das causas morbigenas.
Por exemplo, sabemos que nas nossas colonias os cafres resistem mais facilmente do que outras raças indigenas.
Nas colonias francesas ha duas raças que são consideradas como sendo o maximo attingido em resistencias tropicaes: as raças senegaliana e zanzibarita.
Sobretudo a raça senegaliana é considerada como modelo de resistencia, e para isso concorre tambem as praticas hygienicas a que casa raça está mais ou menos habituada e que lhe foram incutidas pelas crenças religiosas.
E a idéa mahometana, ao mesmo tempo que para o sen espirito é vantajosa, porque o fatalismo lhes explica a sua situação, é sobretudo importante pela pratica da limpeza corporea e da sobriedade a que os obriga.
Sr. Presidente: é indispensavel que nós olhemos para o problema agricola, que é para nós o problema colonial, o que vejamos a grande influencia que o medico ahi tem, quer aconselhando os agricultores, quer ministrando os sons cuidados clinicos a todo o pessoal agricola.
Ultimamente, os agricultores das possessões francesas, como alguns das portuguesas, lutando cora a falta de braços, julgaram ter resolvido o problema mandando vir individuos da raça amarella. Importaram-se chins para as culturas agricolas, mas o resultado foi deploravel, porque em pouco tempo a mortalidade subia á extraordinaria proporção do 50 por cento!
D'aqui se vê o cuidado que os colonos devem ter com a sua saude, e, ao mesmo tempo, o cuidado que o Governo deve ter com a saude dos seus colonos, não os deixando no isolamento, fornecendo-lhes medicos competentes para poderem com o seu conselho e com a sua pratica prevenir ou remediar os males que por acaso surjam.
Foi por isso que nu disse que, de uma maneira geral, não podia deixar de louvar a obra do Sr. Ministro da Marinha.
Eu, que tenho uma grande affeição ao meu partido, perante questões de administração que representem interesse publico, colloco, acima das questões partidarias, o meu país.
Na epoca presente, em que a especulação parece constituir o principio e fim de todos os actos sociaes, muitos vêem apenas nas colonias uma fonte de riqueza de onde se podem tirar proveitos immediatos.
O estadista deve, porem, ver mais. Devo olhar sobretudo para o futuro das colonias e olhar o problema sob esse aspecto.
É necessario ver nas colonias mais do que uma fonte de riqueza, é indispensavel ver nas colonias a forma do desenvolvimento intellectual e moral de um pais. É preciso que se não encare o problema colonial só pelo lado das vantagens que d'ellas possam advir, é necessario encará-lo sob um outro aspecto: o da satisfação moral que existe na levantada missão de educadores.
Entendo que muito concorrerá o medico para a consecução d'este duplo fim tão necessario para o sustentaculo do nosso prestigio colonial. Devemos impor-nos administrando bem.
Na defesa dos nossos dominios pelos nossos recursos marciaes, nem pensar devemos.
Sr. Presidente: era necessario e urgente que se seguisse o caminho dos países mais avançados como a Inglaterra, a Hollanda, a Belgica, caminhando para a grande solução do problema colonial era toda a sua amplitude, começando a fazer-se alguma cousa de positivo para o bem do pais e prosperidades das nossas colonias.
Nisto devemos estar todos unidos, não havendo dissenções partidarias (Apoiados gerava), embora não possamos deixar de discordar num ou noutro ponto. (Apoiados).
E por isso que eu, estando em desacordo sobre alguns pontos do projecto, mando para a mesa as minhas propostas, que a commissão apreciará como entender e quiser.
No momento presente e mais do que nunca as nações vão seguindo na mesma orientação. Todas cuidam em organizar um bom corpo do pessoal sanitario colonial. Devo ser esto o nosso primeiro cuidado, se quisermos, das nossas colonias auferir vantagens polo lado agricola.
Precisamos velar pela força dos operarios agricolas que estão mais expostos aos virus tropicaes.
O europeu não pode ser, como diremos, um obreiro agricola. Com effeito, os que trabalham nos melhores terrenos agricolas, terrenos araveis, nau podem produzir mais