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8 DIAIRO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Durante o tempo que demorei nas regiões tropicaes, tive occasião de observar, Sr. Presidente, a productividade assombrosa d'aquelle solo, ainda virgem de cultura em extensissimas zonas; vi toda a pujança e formosura da sua frondente vegetação, a caudal dos seus rios, o ouro das suas areias o das suas minas; experimentei o sabor exquisito e delicado dos seus bellos fructos; senti a frescura dos seus planaltos, e finalmente admirei toda aquella exuberancia de vida, todo aquelle esplendor da natureza, que um sol ardente, mas brilhante, illumina e fecunda, que chuvas periodicas, copiosissimas e torrenciaes, rogam e fertilizam. (Muito bem).

É este deslumbramento de riqueza nativa, que fascina, encanta o attrae o coluno, mas, Sr. Presidente, não o fixa, porque sob esse aspecto ridente da natureza tropical se occulta o veneno traiçoeiro que, em pouco tempo, quebranto as melhores energias do colono, entorpecendo-lhe o cerebro para a direcção das suas empresas, paralysando-lhe os braços para a realização dos seus trabalhos, enervando-lhe a alma num desalento invencivel que o leva, desamparado e descrente, ao catre de um hospital ou á vala de um cemitério. (Apoiados.- Vozes: Muito bem).

Vi ainda, Sr. Presidente, que o nosso colono, aos primeiros ataques do clima, fugia espavorido e aterrado d'essa miragem que o seduzia, d'essa opulencia que o estimulava, pura regressar á metropole, onde o aguardam, em geral, as tribulações o a miseria. (Vozes: - Muito bem).

Ora, d'este modo, Sr. Presidente, não ha colonização possivel, e som colonização não ha conquista proficua. A nossa grande epopeia africana ficaria apenas registada nas paginas gloriosas da historia.

Mas, se o colono souber que nesses longinquos países encontra o auxilio, os recursos e os meios de resistencia ao factor mais pernicioso para a sua adaptação, a confiança entrará no seu espirito, que assim liberto de um pesadelo, quebrará facilmente os elos nostalgicos que o ligavam á metropole, e o conduzirá ao trabalho e á estabilidade, condições indispensaveis para uma efficaz colonização. (Apoiados}.

E aqui temos, Sr. Presidente, como este projecto de lei, simples e comesinho, avança um passo gigantesco para a consecução do nosso patriotico desideratum. (Apoiados).

E eu sentir-me-hia mal com a minha razão profissional e com a minha consciencia de português, se levantasse o mais pequeno obice á sua completa approvação.
Sinto, mesmo, ufania, Sr. Presidente, em ligar o meu nome a um projecto d'este alcance.

Br. Presidente: ouvi com toda a attenção e com todo o agrado a voz eloquente e brilhante do meu collega e amigo o Sr. Moreira Junior, ouvi com toda a attenção e com todo o agrado a palavra talentosa e enthusiastica do meu prezadissimo amigo o Sr. Egas Moniz, e depois de os ouvir mais se me arreigou no pensamento a convicção de que a minha conducta, assignando o projecto sem declarações, foi de todo o ponto justa e correcta. (Apoiados}.

Disse o Sr. Moreira Junior, criticando a estructura economica do projecto, que poderiamos, de preferencia, dadas as circumstancias do Thesouro, ter recorrido ao appello nacional.

Este alvitre e muitos outros ainda, perpassaram pela minha mente antes de assignar o projecto, porque todos elles já haviam sido apreciados no Congresso Colonial, ultimamente realizado em Lisboa, e teem sido discutidos num jornal, a Medicina Contemporanea. Entendi e entendo, porem, que não cabe na opportunidade d'este projecto qualquer desses alvitres.

O appello ao país, Sr. Presidente, seria tentador se não houvesse exemplos frisantissimos do que elle pode dar. (Apoiados}.

Sabemos, Sr. Presidente, o que aconteceu com a subscripção nacional, por occasião do ultimatum inglês. Apesar do pais se achar então convulsionado por um movimento patriotico, intenso e sincero, derivado do uma expansão grandiosa da dignidade o brio nacionaes, affrontados cruelmente pelo injusto direito da força, a subscripção ficou mesquinha e limitada quasi exclusivamente á Familia Peai, Camara Municipal de Lisboa e funccionalismo publico. (Apoiados).

Sabemos, Sr. Presidente, o que succedeu com o pregão de propaganda contra a tuberculose. E esta terrivel doença é d'aquellas que se patenteiam aos olhos de todos, fere os pobres como os ricos, os plebeus como os nobres, poucas familias haverá que não contem, na sua linha ascendente, descendente ou collateral, a perda de um ente querido, a cruciante lembrança de uma terna affeição quebrada pela implacavel enfermidade. (Apoiados). (Vozes: - Muito bem).

Pois, apesar de tudo isto, Sr. Presidente, foi preciso que uma illustre dama, figura primacial da sociedade portuguesa, com todo o prestigio da sua proeminente posição social, com toda a sympathia do seu coração generoso, com toda a bondade da sua alma philantropica, e com to dos os recursos da sua alta gerarchia, tomasse o encargo de impulsionar essa obra profundamente meritoria. (Apoiados). E, assim mesmo, tem-se recorrido ao indispensavel auxilio do Estado, por meio de tributações municipaes e outras. (Apoiados).

E quão longe estamos ainda do desideratum que a necessidade impõe e a caridade anhela. (Muitos apoiados).

Portanto, Sr. Presidente, se estes factos se dão nas circunstancias especialissimas que aponto, o que poderiamos esperar do appello ao país para cooperar pecuniariamente na instituição de um hospital colonial e do ensino da medicina tropical, cujo alcance tão poucos comprehendem, que tenho visto pessoas illustradissimas e collocadas em eminentes posições sociaes, acolher com um sorriso desdenhoso as disposições d'este projecto, julgando-o mesmo indigno de figurar no Discurso Coroa! O que podiamos esperar, pois, do appello ao pais para uma obra d'esta natureza? Nada. (Muitos apoiados).

Accresce ainda, Sr. Presidente, triste, mas forçoso é confessá-lo, a desconfiança do pais relativa ao tino administrativo dos seus governantes, desconfiança justificavel ha tempos a esta parte (Apoiados), e que retrahiria certamente qualquer impulso dadivoso em auxilio do Governo que tentasse a experiencia.

Mas, Sr. Presidente, se algum resultado pode advir do appello ao país é, segundo penso, depois da approvação d'este projecto. Se ainda ha, no pais, energias capazes de se applicarem ás exigencias do bem publico, é agora o melhor ensejo de serem despertadas, visto que o Governo, com este projecto, mostra, de uma maneira irrefragavel, o seu proposito de fazer, sobre materia tão importante, alguma cousa util e proveitosa. (Muitos apoiados).

Sr. Presidente: occuparam-se os meus collegas e correligionarios da extincção das escolas do Funchal e de Nova Goa.

Como profissional, não posso deixar de applaudir tal idéa. Todo o individuo diplomado para exercer a carreira medica deve possuir uma completa capacidade scientifica e legal para exercer as melindrosas funcções da sua profissão.

Não comprehendo meia sabedoria em casos de tanta monta. (Apoiados).
Conheço, porem, as difficuldades politicas e administrativas que haviam de surgir, supprimindo de um jacto essas duas escolas. Antes opinaria pela transformação d'essas escolas em institutos de medicina colonial, idéa mais facilmente realizavel, no momento actual, do que a suppressão integral d'essas escolas, cujos productos scientificos são, na verdade, curiosissimos de incompetencia. (Apoiados).

Na minha clinica africana tive occasiões de apreciar os dotes scientificos dos filhos da Minerva goense.

No hospital de Lourenço Marques estiveram alguns me-