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406 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

imital-o nas fórmas largas e abundantes de que sabe revestir as suas orações.

Devo começar por declarar, que o partido republicano, em nome do qual s. exa. fallou, e fez a sua propaganda, parece estar em parallelo nos processos que emprega com outro partido que conheço.

Ha infelizmente no nosso paiz um partido que segundo é declarado e confessado pelas suas vozes mais auctorisadas, e com isto não pretendo levantar questões, não tem duvida em lançar mão de meios extraordinarios de guerra, para sustentar a sua existencia, e não morrer. Não sou eu que o digo, refiro apenas uma declaração que nesta casa foi feita pelo muito digno e honrado chefe do partido progressista, a quem muito respeito e acato.

Vê-se portanto que este partido chegou a uma conjunctura suprema, que é digna de deplorar-se, e eu deploro, posto me não prooccupem os resultados que d'ahi possam advir, porque os partidos politicos não vivem pela vontade de um homem só.

Se porventura nós estamos chegados ao momento de manifestar n'esta camara que os longos debates a que assistimos outra cousa não são mais do que o clarissimo manifesto da dissensão intima que lavra n'aquelle partido, eu não tenho outra cousa a fazer senão declarar que não considero isto um mal, porque é um facto da vida das sociedades, que quando uma entidade politica desapparece necessariamente se ha de formar outra ou outras. O partido regenerador não ficaria isolado no campo constitucional, como se pretende, nem ficaria impossibilitado de governar por não poder por si só amoldar-se a todas as mutações da opinião.

Antes de vir para aqui dava-me ao trabalho de comparar a imprensa progressista com a republicana, os processos de propaganda usados por um e outro partido, e convenci-me que aquelles processos não eram diversos. Havia um parallelismo completo entre o modo por que ambos os partidos procediam; e d'aqui resultára a decadencia de um partido e o nascimento de um partido novo. Isto talvez pareça contradictorio, mas não é, e póde ter consequencias graves.

Ha um aforismo antigo que diz: corruptio unius est generatio alterius; este aforismo é applicavel inteiramente ao caso. A corrupção de um partido produz o apparecimento de outro; mas esta formação é illegitima e prejudicial, porque não é o resultado de uma funcção viva do organismo social, e sim uma geração bastarda e por isso anomala.

Devo dizer que o partido republicano é uma facção, um producto teratologico, monstruoso. Não fallo dos homens, porque esses tanto os que militam n'este partido como no partido progressista têem individualmente prestado grandes serviços ao paiz, e certamante hão de prestal-os ainda. A corrupção ou a morte de uma collectividade politica não inutihsa os individuos.

A isto acresce o systema de contradicção nas palavras e no procedimento, empregado tanto por parte do partido progressista como do republicano, a que tenho assistido nesta camara um pouco surprehendido, devo confessal-o.

Apontarei apenas alguns factos.

Referir-me-hei ao modo como se discutiu a eleição da Madeira.

Com respeito á questão previa, que se levantou por occasião de se discutir o parecer relativo a essa eleição, o illustre deputado a quem não convinha entrar na questão n'aquelle momento, todavia, durante todo o seu discurso, não fez senão discutir a eleição da Madeira. (Apoiados.) Não digo isto com intuito de offender o illustre deputado.

É uma simples apreciação que faço relativamente ao processo seguido por um homem, ou por um partido, processo que poderá parecer bom a uns e mau a outros.

Mas o illustre deputado não ficou por aqui. Continuando n'esse systema, ainda no seu ultimo discurso, aliás muito bem elaborado, declarou que, sob o ponto de vista republicano em que se collocava, não se importava com os homens, nem com os partidos, nem com os acontecimentos.

Se isto é assim, porque é que o illustre deputado se espraiou tão largamente no seu discurso, fallando da crise politica, da dictadura e discutindo, emfim, questões que eu considero findas, e creio que tambem a camara?

Se eu quizesse levantar taes questões, ser-me-ía facil provar, que, por sua parte, o partido progressista tem procedido por igual modo.

Referi-me a este systema de contradicções simplesmente para demonstrar que succede muitas vezes mesmo aos espiritos mais vigorosos e lucidos, quando não se firmam em uma base assente em methodos seguros e aspirações conscienciosas, não poderem tambem ter uma idéa determinada e fixa.

É assim, que, a meu ver, o partido republicano tem procedido dentro e fóra d'esta camara.

Se o partido republicano quizesse, por vias legitimas e legaes, exercer a sua acção immediata e directa sobre os negocios publicos, não lhe seria permittido dizer que não se importa com os homens, nem com os partidos, nem com os acontecimentos. (Apoiados.)

Parece-me que foi isto que s. exa. disse.

O sr. Consiglieri Pedroso: - Eu não fui bem comprehendido pelo illustre deputado, e provavelmente foi por defeito da minha exposição.

Referindo-me a um episodio que se dera na crise politica, disse que tanto me importava que estivessem no poder azues ou verdes. Não eram dois partidos, eram dois matizes.

O Orador: - S. exa. havia de se importar se lá estivesse o partido republicano, isto é, o partido dos vermelhos.

(Riso.)

Em todo o caso vejo que não me enganei, e que a minha idéa não tinha sido completamente inexacta.

Não se faz politica sómente para se ser partidario.

O paiz não existe para servir os partidos; pelo contrario, são estes que existem para servir o paiz. (Apoiados.)

Se o partido republicano é um partido de homens patriotas, deve collaborar nos negocios publicos e não entorpecer o andamento d'esses negocios. (Apoiados.)

Desde que uma das vozes mais auctorisadas do partido republicano faz uma declaração de tal ordem, esse partido abdica, e em virtude dessa mesma declaração deve ser extincto. (Apoiados.)

Tambem o partido progressista, depois de ter declarado arrogantemente guerra crua e intransigente ao governo, resolveu agora abster-se da discussão e propor a paz; tambem abdica.

Quando um partido se abstem é porque não tem forças para luctar e está moribundo. Attestam-n'o as dissensões profundas que lavram n'elle; n'aquelle corpo opera-se uma desaggregação invencivel, ou antes, permitta-se-me a expressão, é uma putrefacção que ali se dá.

Eu desejaria apresentar a minha moção de ordem inteiramente conforme á moção que apresentou o illustre deputado que me precedeu, mas não posso fazel-o, porque me lembro que sou cidadão portuguez, e quaesquer que sejam as minhas aspirações, a philosophia que eu sigo e a minha posição social, não deixo de ser cidadão portuguez, e para o ser preciso de respeitar as leis do paiz. Não basta vir com a lei na mão, dizer que se respeita essa lei e lel-a, é preciso cumpril-a. (Apoiados.)

O illustre deputado apresentou uma moção de ordem que é illegal para mim, e que só é permittida em um paiz como o nosso, que realmente é um dos mais liberaes da Europa; não seria nem na França republicana, nem na America do Norte que s. exa. poderia apresentar uma moção concebida em termos que as disposiçõss do regimento não permittem.