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408 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

fazer criticas e observações a um argumento d'esta ordem.

O sr. Consiglieri referiu-se ao estado marasmatico em que se acha o paiz. Não sei se se acha n'esse estado. Entretanto é possivel que esteja n'um estado latente de preparação, e que todos estejamos enganados, mesmo aquelles que imaginam, trazer na mão a bússola do progresso.

E quem póde dizer que não se está n'um estado latente de elaboração? Se assim é, a elaboração ha de ter bom fim, porque é collectiva, não é determinada pela vontade de ninguem, e ha de dar resultado, porque é consequencia necessaria de factos anteriores.

Nas sociedades, assim como em a natureza, não ha saltos, não ha intervallos; as cousas succedem-se por uma logica inflexivel, que está acima das resoluções individuaes, e se subtrahe ao alcance de todos. (Apoiados.)

Entre as muitas asseverações, que referiu o illustre deputado, ha uma que me causou profundo desgosto. É o partido republicano dirigido por homens que tenho por verdadeiros patriotas, embora não concorde com as suas idéas, nem com a maneira como expõem o ideal que querem alcançar.

Estou convencido de que no seu gremio se encontram homens do maior talento, e não era por isso de esperar que um dos seus membros viesse declarar, que nós ternos sido um embaraço para que a civilisação se implante na área das nossas colonias!...

Não sei, e ninguem poderá affirmar, que a mudança de regimen politico seria bastante só por si para fazer prosperar as nossas colonias.

Não sei se a mudança de regimen politico, no sentido em que a deseja o partido republicano, seria sufficiente para resolver todos os problemas que se agitam, não só na sociedade portugueza, mas em toda a parte. Parece-me que não.

Pois com effeito o partido republicano estará convencido de que pondo em pratica o seu plano, que eu, confesso, não conheço, todas as questões sociaes ficarão resolvidas?

Ficará resolvida a questão do pauperismo?

Deixarão de soffrer as classes operarias?

As graves questões que impendem sobre a sociedade moderna deixarão de existir só pelo facto da implantação do systema novo? (Apoiados.)

Todos sabem que estes factos são evolutivos, e não se podem modificar senão por vias successivas. Não se póde obter o resultado que se deseja pelos meios que imagina o partido republicano.

Eu fiz algumas affirmações sobre a importancia do partido republicano, declarando que não o considerava como um partido, mas como uma facção. Com effeito, remontando á sua origem, como é que elle nasceu?

O partido republicano deveria ter nascido naturalmente de um facto social, do estabelecimento normal de uma corrente da opinião, emfim deveria significar ou antes consubstanciar uma parte da consciência publica. Mas não é assim: nasceu esporadicamente.

Não deixarei de insistir neste ponto, embora o illustre deputado diga que é insignificante; e para lhe provar que não o é, tomo a liberdade de me referir a algumas opiniões que foram apresentadas por s. exa.

Trata-se das questões sociaes e nunca é inutil fallar n'ellas. (Apoiados.)

Quando se fallou do movimento do partido republicano na ilha da Madeira e na existência ou não existencia de uma crise agraria naquella ilha, s. exa. declarou que a crise não existia, ou que, se existia, não tinha sido a origem do partido republicano ali, isto é, que o progresso do seu partido não estava relacionado com tal facto.

O sr. Consiglieri Pedroso: - Perdão, não foi isso. Eu disse que essa crise tinha sido apenas um factor de ordem secundaria.

O Orador: - D'esse modo não se fica sabendo qual é o facto de ordem primaria. E deduzo que esse factor principal é simplesmente de ordem politica.

O facto affirmado por s. exa. é que a origem e desenvolvimento do partido republicano na Madeira não estavam ligados com a crise alludida nem com outro acontecimento social, sendo um phenomeno principalmente politico, porque a máxima intensidade d'aquelle partido dava-se no Funchal, quando era nos campos que a crise agraria se fazia sentir, sem que as idéas republicanas tivessem tido igual incremento nas freguezias ruraes.

D'aqui tiram se duas illações muito differentes sobre as idéas economicas e politicas do illustre deputado.

Em primeiro logar as formações politicas são productos de geração espontanea, e não se filiam em cousa alguma.

Por outro lado, existindo uma crise agraria nos concelhos ruraes da Madeira, essa crise não se faz sentir na capital do districto, ou sente-se muito fracamente. Isto é, declara-se uma crise agraria, e por virtude d'ella padece o agricultor, mas o proprietário não soffre.

Determina-se uma crise commercial, ou monetaria; soffre o commerciante, mas não tem nada que ver com ella nem o productor nem o consumidor.

O sr. Consiglieri Pedroso: - Essa é a theoria do sr. Fontes, que em outra occasião ouvi expor. Não é minha.

O Orador: - Se porventura o illustre deputado ouviu expor essa theoria, é mais feliz do que eu. Posso mesmo affirmar a s. exa. que não ha ninguém que possa avançar um absurdo de tal ordem.

Eu não faço mais do que tirar as legitimas consequencias das idéas apresentadas pelo sr. deputado.

Sei por experiencia que é muito facil nas condições em que estou, com um campo muito restricto, pretender illaquear o adversario em subtilezas. Por isso pedi á camara que me levasse em conta a dureza da situação em que estou collocado.

Mas o illustre deputado sabe perfeitamente que eu não venho aqui attribuir-lhe uma cousa que não fosse dita.

Aquillo que está escripto foi dito e confirmado.

O partido republicano da ilha é grande no Funchal, e não nas terras circumvizinhas ou nas freguezias ruraes. Tambem sei que é muito mais importante em Lisboa e no Porto do que nas provincias.

A monarchia está firmada no coração do povo portuguez; digo isto convicto, porque tenho por mais de uma vez estacionado em differentes pontos do reino e tenho tido occasião de apalpar de perto a opinião, ou antes os sentimentos, da população do paiz.

Qual será a rasão por que é só nos grandes centros que o partido republicano se desenvolve? porque a sua origem é illegitima, é filha de idéas falsas, cuja propaganda tem por objectivo as classes operarias.

Esta é a verdade de facto; é nas classes operarias, sempre numerosas nos principaes centros de população, que só tem recrutado o partido republicano, abusando-se da boa fé, da ignorancia e das circumstaricias desgraçadas em que muitas vezes se encontram estas classes. Sabe-se que o operario lucta frequentes vezes com crises de trabalho, e portanto com a fome. Isto succede. em França, em Inglaterra, em toda a parte.

É um facto social que a propria republica franceza não tem podido debellar. Ha muito que se trata de sanar, ou pelo menos melhorar, estas doenças do corpo social; em França o segundo imperio empregou para isso muitos e variados meios, e a actual republica lucta ainda com as mesmas dificuldades.

Mas se esta origem do partido republicano portuguez não é legitima, parecem-me totalmente illegaes os meios de que elle se serve para imbuir as classes menos illustradas, as classes pobres, fazendo-lhes antever um futuro de prosperidades e de bem-estar que lhes não póde satisfazer.

Por consequencia, nem pela origem, nem pelos meios de