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doutrina que sustentei annos antes de entrar para o gabinete, e sem em tal entrada pensar! (Muitos apoiados.) Não sei se todos poderão dizer o mesmo; sei só que se ha posição clara e definida é a minha (muitos apoiados). A convicção que me estava no espirito levou tempo a ganhar adhesões, mas ganhou-as. Tanto peior para quem as perdeu (muitos apoiados).

«A reacção está ali» bradou, o nobre orador apontando para o ministerio. A reacção está onde está, e o paiz sabe onde está! (Muitos apoiados.) No ministerio a reacção! Então porque tão encarniçadamente combate ella os ministros? (Apoiados.) Faz a reacção como Saturno devorando os filhos? Sabe de mais o que faz para fazer tal! (Apoiados.) Res, non verba, mais que nunca é este o caso de dizer-se! (Muitos apoiados.) Está pois a reacção onde está, e acha-se perfeitamente onde está.

O sr. Fontes Pereira de Mello: — Apoiado!

O Orador: — Apoiado, repetirei com s. ex.ª. Está com quem directa ou indirectamente a auxilia; não póde estar com aquelles a quem ella declarou guerra sem treguas! (Apoiados)!

Era a epocha da primeira regeneração uma epocha de conciliações e tolerâncias, explicou o nobre orador. Abraçavam-se os que vinham de um lado e de outro lado. Representava a liberdade e representava a ordem. Não era preciso mais para justifica-la. E porque não estará tambem hoje representada no governo a ordem e a liberdade? Porque não será igual a justificação?

Uma voz: — Ah!

O Orador: — Não se alegrem os illustres deputados, e essa alegria seria já expressiva. Não se alegrem. Se o seu exemplo nos póde justificar, o nosso não os justifica. Não ignora o nobre orador que se effectuou na Europa uma verdadeira transformação de partidos. Modificações profundas se têem operado nas tendencias e nas idéas; têem-se delimitado dois campos que não são os mesmos que eram ha annos; cada qual procura aquelle a que as suas crenças o levara. O mesmo que se vê na Europa se observa aqui. Já o reconheceram os principaes caracteres da opposição. As antigas divisas, as antigas bandeiras, podem ser tradições gloriosas, mas não actualidades reaes. Não é licito confundir os principios Com os nomes, nem dissimular atrás dos nomes os principios. A fé politica não está supersticiosamente vinculada a esses nomes. Vive das idéas e representa-se nos factos!

Sem já temer profanar as cinzas dos mortos, escudou-se o nobre orador com o nome glorioso do sr. duque da Terceira, e a memoria dos seus memoraveis feitos. Suppoz até que era uma affronta considera lo chefe do partido conservador. Em que poderia consistir a affronta? Em julga-lo chefe, ou em julga lo conservador? (Riso.) Chefe! Era-o: era-o pela sua posição, pela sua jerarchia, pelo logar que sempre occupou na vanguarda, quer nas regiões do governo, quer nos campos de batalha (muitos apoiados). Conservador! Declara s. ex.ª affrontoso o titulo! Não o tenho eu por tal. Que lh'o agradeçam os seus amigos que o usam, e creio que já lh'o terão agradecido. Conservador, é a qualificação de uma escola. Não ha desar em segui-la quando se segue conscienciosamente. Todas as opiniões respeito, e menciona-las não é offende las. Reaccionario era De-Maistre, e francamente o dizia, e não o dissimulava. Porque não hão de imita-lo os que adoptam a sua escola? Nega-la, equivale a duvidar da sua virtude, e a pôr em duvida a propria crença. É uma opinião, e a liberdade, como o sol, é para todos! (Apoiados.)

Vozes: — Muito bem.

Era o sr. duque da Terceira um grande caracter, um grande nome, e resumia grandes serviços. Digo-o hoje, como sempre o disse, na sua vida e na sua morte (apoiados). Não escureceu esses serviços quem sempre os celebrou. Se a alguem póde imputar-se o esquecimento d'elles, é a quem os ofuscou em violentas e injustas diatribes, a que o illustre marechal não escapou como tantos outros caracteres illustres! (Apoiados.) Para mim o sr. duque da Terceira foi sempre o heroe que, rodeado apenas de um punhado de valentes, n'um rochedo no meio do oceano, conservou hasteado e firme o pendão redemptor das nossas liberdades; foi sempre o vencedor da Asseiceira (apoiados); foi sempre o chefe audaz da arrojada expedição do Algarve, que tantas algemas quebrou! (Muitos apoiados.) Mas a que proposito vem a celebração d'esses feitos, sempre venerados, quando se trata de outras e mais modernas allianças?

Mencionando só aquelle nome s. ex.ª mostrou-se habil talvez, mas de certo menos grato a outro grupo politico, de que tem recebido valioso auxilio n'esta casa, e muito mais fóra d'ella. A actual significação d'esse grupo nas fileiras da opposição não póde encubrir-se. Reconheço n'elle caracteres respeitaveis e conto amigos predilectos, mas o conjuncto não é menos expressivo e as consequencias não são menos eloquentes. Ligados com esse grupo, ou revelaes uma fraqueza de posição, porque os vossos amigos de hoje seriam vossos adversarios se entrasseis no poder (apoiados), ou unidos n'um só corpo falta-vos a possibilidade de definir claramente as vossas idéas. (Muitos apoiados).

Invocou o illustre deputado a saudosa sombra do grande orador portuguez, o sr. José Estevão Coelho de Magalhães. Desejou n'esta questão — n'esta questão admire-se! — ouvir aquella voz que a morte cortou. Vem opportunamente. Não lhe lembrou talvez que essa voz é das que não se apagam da memoria, é das que vivem nos annaes publicos (muitos apoiados). Pois bem! Jaz o corpo, mas sobreviveu o espirito. Aquella poderosa palavra, que avassallava o coração e o espirito, o sentimento e a rasão (muitos apoiados); aquella palavra patriotica, que nunca faltou quando a chamavam em nome dos principios (muitos apoiados); aquella palavra reviverá ainda para dar, insuspeito, positivo, concludente, o testemunho a que appellastes (muitos apoiados). Quizestes ouvi-la? Ides ouvi-la!

Na sessão de 27 de janeiro de 1862 dizia o eloquente orador:

«Eu tenho obrigação de dar mais algumas explicações, para o que já pedi a palavra. É um acto de lealdade politica, e mesmo um preito de amisade para o gremio onde se agrupam os cavalheiros de que me separei; era uma cousa que se tornava necessaria a minha separação dos individuos que pertencem a esse mesmo gremio politico. Foi obrigado pela necessidade da minha situação que assim procedi, e foi o acto mais serio da minha vida; eu proprio o reconheço.»

Na sessão de 23 de maio do mesmo anno, quando se discutia a lei das congregações religiosas, ou do ensino, insistia:

«Esta questão foi uma festa partidaria para o sr. Pinto Coelho;...foi um acto politico para o sr. Fontes Pereira de Mello. Para a festa partidaria não posso concorrer; o acto politico considero-o indiscreto, intempestivo, mal calculado e impossivel.»

«Eu não sou opposição (a actual), nem pertenço, nem nunca estive em circumstancias de pertencer á opposição; separei-me d'ella por motivos verdadeiramente graves e tão serios como este debate o mostra.»

«Entendi sempre que o partido da regeneração era uma «parcialidade da familia liberal e muito conveniente para as necessidades publicas, para as instabilidades necessarias do governo representativo, para haver duas parcialidades ou dois naipes de governo que se revesassem successivamente; mas nunca suppuz que n'uma questão d'estas, em que parece impossivel que não tivessem todos crenças communs, como homens liberaes e como homens de estado, lançassem entre si uma barreira de receios, de desconfianças, que se não podem mais apagar. Eu não sei se sou ou não homem desconfiado. Da regeneração não desconfiava; desconfio hoje ou não desconfio de nada.»

Depois d'esta voz, que hoje se desentranha das profundezas da eternidade, que nos soa com a magestade do tumulo e a auctoridade da historia... depois d'esta voz — nada! Tenho concluido (muitos apoiados).

Vozes: — Muito bem.

(O orador foi comprimentado por grande numero de srs. deputados dos diversos lados da camara.)