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416 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Ao passo que observamos isto nas hostes progressistas, o ministerio composto de sete cavalheiros fica reduzido a cinco 5 e se eu tivesse de applicar certa critica para o que porventura poderia ir buscar conselho e auctoridade ao illustre orador que me precedeu hontem na tribuna, talvez podesse dizer-se que esta reducção se faz pela theoria da selecção natural em virtude da qual os organismos imperfeitos desapparecem, para que mais fulgurem, mais brilhem e robusteçam os organismos perfeitos e acabados.

Mas quaes são os eliminados e os que ficam? Elimina-se o que se apresenta por toda a parte como o paladino dos melhoramentos do porto de Lisboa, que toda a capital quer, que todos os partidos desejam, e para os quaes em diversas occasiões chamei a attenção dos srs. ministros, e nisto respondo por incidente ao sr. Barata, propondo um augmento na verba para esses melhoramentos, augmento de verba negado pelo partido a que s. exa. pertence, naturalmente para ficar bem affirmado o desejo da parte do governo de que os referidos melhoramentos se levassem a effeito com rapidez.

Ao mesmo tempo que se elimina esse homem que se diz não significar politica partidaria no governo, mas o fervor e o ardor pelos melhoramentos publicos, elimina-se um outro. Porque? Seria acaso necessario eliminar a lucta contra as demasias dos prelados? Não sei; mas seja como for, n'este processo de eliminação serão os organismos perfeitos que fazem desapparecer os imperfeitos?

Não sei se poderemos dizer, como já aqui ouvimos, que na séde suprema da governação, ou neste ambiente em que vivemos, ha focos verdadeiramente doentios e palustres a que é indispensavel fugir e de que se afastam muitos aterrados, quando a epidemia ameaça dizimar de um modo inexoravel.

Será porventura uma d'essas situações a que poderia applicar-se o que dizia Horacio.

A minha memoria é muito fraca, por isso não me recordo do texto de Horacio 1.

Era, me parece, uma d'aquellas situações em que não se sabe bem se é a honra que se defende em certas occasiões ou se é a infâmia que se exalta, em que não se sabe bem se é da infamia que fugimos, ou se é da honra, que não sabemos defender; mas não me recordo do texto de Horacio, e por isso não o pronuncio.

Em todo o caso eu vejo que este debate começou por ser considerado por parte do partido progressista como um debate necessario.

Na minha opinião este debate é sempre indispensavel.

Eu entendo que é obrigação de todos os que têem logar no parlamento definir a sua posição quando se trata de apreciar a politica geral. Por consequencia em todas as occasiões em que se tem aberto a discussão sobre a resposta ao discurso da corôa tenho procurado, perante o governo e perante a camara, definir a minha posição; tenho cooperado para que as posições se definam como posso e como devo.

E nem este nem nenhum governo me póde lançar em rosto que a minha critica tenha sido impertinente com respeito ás questões serias e graves do paiz, porque nunca fiz uma pergunta que podessse pôr o governo n'uma posição angustiosa pelo que respeita ás questões que altamente interessam a pátria.

Nas questões intornacionaes eu tenho pedido simplesmente a attenção do governo para ellas, e principalmente que não sequestre a esta camara os documentos, sem os quaes a opinião publica póde desvairar-se.

Se esses documentos forem sequestrados ao conhecimento da camara, póde acontecer que, quando um facto se realise, esse facto desvaire a opinião publica por não estar preparada para elle. Por isso eu tenho pedido sempre os documentos relativos a estas questões, para que não só a camara, mas tambem o paiz, conheçam como nos comportâmos em relação ás nações estrangeiras.

Podemos fazel-o sem ferir nenhum povo.

E é n'essa maneira de tratar que se differençam as nações livres; podem dizer, tudo sem se offenderem mutuamente.

Por isso mesmo, quando vi que ha pouco tempo se notara a falta que havia no discurso da corôa com respeito a duas nações, com as quaes atámos relações, senti que o meu collega, que me precedeu n'este logar, não explicasse o motivo por que o governo se esquecêra de consignar esse facto no documento a que estamos tratando de responder.

Refiro-me ás relações diplomáticas com a republica do Mexico e com o Uruguay.

Esse facto não podia ser considerado de menos importante; esse facto é muito valioso, e portanto deveria ser assignalado no discurso da corôa.

Creio que o governo faltou á sua missão e mesmo aos deveres da cortezia, quando deixou de assignalar no discurso da corôa o facto, que é agradavel para todos nós, de se atarem as relações diplomaticas com aquelles dois povos, principalmente pelo que respeita a um, o Mexico, que nos dá um exemplo muito para se seguir, porque, depois de ser humilhado pela invasão estrangeira, em poucos annos nos apresentava os fructos do seu trabalho nos seus Anates del ministerio de fomento, que nós não possuimos.

Portanto, é para sentir essa falta, assim como é para sentir um grandissimo numero de outras faltas n'este documento.

Mas eu não quero seguir passo a passo o discurso da coroa; afasto-me d'esse caminho; tomarei alguns pontos para, sobre elles, chamar e fazer recaír a attenção da camara; e não só fazer recaír sobre elles a attenção da camara, mas ainda para mais, para de alguma maneira varrer, digamos assim, a testada do partido republicano, ao qual fizera algumas referencias pouco lisonjeiras na ultima sessão, uns dos nossos collegas.

O sr. Barata, na sessão de hontem, com a sua palavra extraordinariamente serena e delicada, simulando até certo ponto, permitta-me s. exa. que lhe diga, aquella qualidade em que sobreleva o turco, que é de extraordinaria doçura, excepto quando corta a cabeça dos outros, entendeu que era indispensavel decepar a cabeça do partido republicano.

Parece-me que n'esse momento o illustre deputado se lembrou d'aquelle imperador romano que desejava que o seu povo tivesse uma unica cabeça, para, de um só golpe, a cortar.

É sabido que o desejo desse imperador foi considerado pela historia como um desejo perfeitamente insensato.

E eu agora não quero dizer com respeito ao meu collega, se o seu propósito é ou não assisado; deixo isso á consideração dos meus collegas.

Mas tambem o nosso collega disse, e não foi novo o que s. exa. disse, pois que já o tinha começado a dizer o chefe do partido progressista na occasião em que aqui se apresentou, e parece-me que n'este ponto o chefe do partido progressista e o sr. Barata, estão de accordo, que a situação em que por vezes se encontrava o partido progressista, o collocava em condições de ver rarear as suas fileiras, porque um grandissimo numero dos seus partidarios nas provincias, não vendo na lucta, no combate, nas trincheiras, os seus representantes, sentiam o seu animo quebrantado, e d'ahi resultava que as fileiras íam successivamente rareando.

O nosso illustre collega tambem attribuiu o augmento do partido republicano ás faltas, ás dissenções do partido progressista; e disse o de um modo que não só taxou de illegitimo o nosso partido, mas até lhe lançou o repto com respeito ao programma que elle tinha, e que ao que parece

1 Falsus honor juvat, et mendax infamia terret.