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SESSÃO DE 11 DE FEVEREIRO DE 1885 419

em uma das nossas provincias ultramarinas, e como os documentos d'essas eleições tinham sido transportados até cá, para ser respeitada a liberdade da urna.

Deram-se outros factos, mas este é mais um, e é novo!

Falla-se depois no discurso da corôa das nossas relações com todas as nações, occultando-se o terem-se atado com duas nações da America, o que é importante para as nossas relações commerciaes.

E falla-se, como ultima ironia, na situação desaffrontada da nossa fazenda publica.

O que é notavel é que nos annos anteriores, em que o sr. ministro da fazenda nos dizia que andava todo atarefado em buscar os meios indispensaveis para acabar com o deficit, logo em seguida s. exa. para mostrar que o seu animo estava mais socegado, apresentava aqui uns poucos de projectos de caminhos de ferro; e agora que a situação da fazenda é desafrontada, opera-se poucos dias depois no seio do gabinete uma crise ministrial.

E porque é que se desatou como vimos esta crise ministrial?

Porque se receiava que não podessemos satisfazer aos onus d'aquella obra, quando poucos dias antes se tinha dito que eram mais que sufficientes os recursos do paiz para todas as exigencias.

Eu não quero desenhar nenhuns futuros sinistros e sombrios, antes pelo contrario, desejo que se arredem os maus dias; mas o que não posso deixar de dizer é que os homens publicos não cumprem os seus deveres, se desattentos e descuidados não têem os olhos fitos no horisonte, e só acordam sobresaltados quando os desastres os visitam.

O sr. Ministro do Reino (Barjona de Freitas): - A camara comprehende que eu não podia deixar de tomar a palavra n'esta occasião, depois de algumas phrases que o illustre deputado, o sr. Elias Garcia, pronunciou em um dos pontos do seu discurso, referindo-se especialmente ao ministro do reino; e tanto mais que os factos a que s. exa. alludiu, tiveram logar ha pouco tempo e é esta a primeira vez que d'elles se pede a responsabilidade no parlamento.

É pois unicamente sobre este ponto restricto que eu vou responder; mesmo porque não quero privar o illustre orador que se segue, de dar resposta ás outras observações relativas ao projecto de resposta ao discurso da corôa e aos outros pontos em que s. exa. tocou.

Referiu-se o illustre deputado á manifestação feita á memoria do Fernandes Thomás, e accusou o governo de actos de barbarie e selvageria, empregando ainda para qualificar o seu procedimento não sei quantos adjectivos da mais tenebrosos.

Eu cuidava que o procedimento do governo n'aquella occasião, em vez de ser assim qualificado, mereceria louvor, por isso que, sem deixar de manter espirito liberal, entendeu dever harmonisar esse espirito com o que se chama ordem publica.

Vejamos; o que fez o partido republicano n'aquella occasião? Veio pedir licença para fazer uma procissão civica, marcando ao mesmo tempo um itinerario tal que o prestito podesse, mais ou menos, passar pelas portas dos seus clubs, e com a liberdade de levar todas as bandeiras e estandartes que desejasse.

O governo que, longe de contrariar, antes deseja que todas as idéas liberaes sejam implantadas n'este paiz e possam fazer o seu curso sem prejuizo da ordem publica e dos direitos dos cidadãos, consentiu que se fizesse essa procissão, mas marcou um itinerario differente d'aquelle que era proposto pelos membros do partido a que pertence o illustre deputado, e que era traçado, como já disse, com o intuito manifesto de passar o prestito pelas portas dos seus clubs, torcendo-se para isso o caminho regular.

O itinerario marcado pelo governo era o que mais directamente conduzia ao cemiterio e por onde menos se embaraçava a circulação, porque o direito de circular pelas das é um direito igual para todos; (Apoiados.) mas por isso mesmo, talvez, é que o partido republicano não acceitou esse itinerario. (Apoiados.)

E eu estranho muito que os seus homens, que se chamam liberaes, que se dizem avançados, venham aqui fallar-nos sempre em nome da sua liberdade, mas sempre com prejuizo da liberdade dos outros! (Apoiados.}

Eu quero liberdade, mas quero-a para todos; são justamente aquelles que a querem para todos, que podem ser qualificados de liberaes, mas nunca o podem ser, os que querem fazer da liberdade apanágio para si e para os seus partidos. (Apoiados.)

Esses, são falsos liberaes. (Muitos apoiados.)

Foi a isto que se reduziu o procedimento do governo.

Eu, que tenho tradições liberaes, como disse o illustre deputado, que sempre tive, como homem publico, este objectivo - alargar as franquias populares bem como a liberdade do meu paiz, tanto quanto possivel - e se o illustre deputado percorrer os volumes da legislação patria, encontrara ahi alguns passos para essa liberdade e para os quaes collaborei com as minhas fracas forças intellectuaes; eu que tive sempre, repito, este objectivo, quiz então experimentar, como ministro do reino, se as procissões civicas em homenagem á memoria dos grandes homens, poderiam ser uma realidade pratica no meu paiz, mostrando-se elle assim mais adiantado do que outros em que essas manifestações se não podem realisar. (Apoiados.)

Que fiz eu portanto? Neguei porventura a licença? Não; mas quiz que essa procissão tivesse o caracter de seriedade que a memória d'aquelle a quem era offerecida, recomendava; porque era, emfim, um tributo de homenagem prestado a um grande homem, e nunca deveria por isso converter-se n'uma manifestação republicana. (Apoiados.)

(Interrupção do sr. Elias Garcia.)

Então como se ha de qualificar o facto de uns poucos de homens annunciarem uma manifestação á honrosa memoria de Fernandes Thomás, em nome dos principios liberaes, manifestação que podia juntar em volta de si todos os partidos, e quererem depois tirar d'essa manifestação proveito exclusivo para o seu partido? (Apoiados.)

Como se chama isto?

E é o illustre deputado quem se atreve a classificar de selvageria e de actos de provocação por parte das auctoridades as ordens d'ellas emanadas, e que consistiam, unicamente, em mudar o itinerario, escolhendo-se sitios em que a circulação não fosse embaraçada, sem deixar de permittir que se fizesse a procissão?!

Pois não se lembra o illustre deputado, que n'um dos jornaes do seu partido, no Seculo, não, pelo facto do governo ter prohibido a procissão, mas por mudar o itinerario, se appellava para a revolução?! (Apoiados.)

Assustou-se a população!

Mas quem foi que assustou a população?

Não seriam os que appellaram para a revolução; não seriam os que disseram aos incautos: «Cautela com estas manifestações, que não sabemos onde irão dar?!» (Muitos apoiados.)

Repito, quem é que assustou a população da capital, se é que alguém teve susto? Foram sem duvida os jornaes republicanos, que proclamavam a revolução. (Apoiados.)

O sr. Elias Garcia: - Quem teve o susto foi o governo.

O Orador: - Não sei se teve ou não; mas então para que se queixa o illustre deputado de que se tivesse arredado muita gente d'essa manifestação? Então quem se arredou d'ella foi por sua propria vontade? Foi porque não quiz lá ir?

Ou foram todos, e então não tem o illustre deputado de que se queixar, ou foram arredados pelo susto e esse susto foi exactamente promovido pelos proprios jornaes republicanos, ou não quizeram lá ir porque comprehenderam o que era essa manifestação. (Apoiados.)