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SESSÃO DE 12 DE FEVEREIRO DE 1886 439

dos factos mais importantes do nosso tempo? (Apoiados.)
Por que applaudiram com delirio, quando ouviram nas suas conferencias a expressão das suas varonis esperanças, que não eram senão as esperanças do governo, que lhe tinha confiado a nobre missão que desempenharam tão brilhantemente? (Apoiados.)
Era unicamente porque assim se applaudia um facto heroico, um alto serviço prestado á civilisação e á sciencia? (Apoiados.)
Ainda bem que o paiz não partilha, do desdem do illustre deputado, (Apoiados.) o sr. Consiglieri Pedroso; por essa victoria moral, que póde não levantar os nossos fundos, mas que levanta o nivel do nome portuguez no conceito de todos que prézam os sacrificios feitos á causa da civilisação. (Apoiados.)
O illustre deputado que, depois de fazer o seu discurso, teve a amabilidade de fazer tambem um poucochinho o meu, previu logo que eu havia de fallar infallivelmente na bandeira das quinas. (Riso.)
O sr. Gonsiglieri Pedroso: - E não me enganei.
O Orador: - Não! Pois lá vae a bandeira. Eu, se effectivamente fallasse de bandeiras, não iria fallar, nem na bandeira vermelha, nem na bandeira tricolor. O illustre deputado é que tem duas bandeiras a escolher, e qualquer d'ellas têem inflammado a rhetorica e abrazado muitos feitos heroicos, que s. exa. de certo tem applaudido com enthusiasmo.
É por isso que a bandeira democratica apparece em toda a parte, nos enterros dos grandes homens ou nos prestitos civicos. Não ha republicano sem bandeira, (Riso.) Vemol-as em toda a parte, - ou a bandeira tricolor, qui a fait le tour du monde, ou a bandeira vermelha, sagrada nas congregações populares dos direitos do povo com grande applauso de s. exa. para uns ou para outros, porque não posso saber qual é a côr dos seus principios. (Apoiados.) E ri-se dos outros quando fallam da sua bandeira!
É licito fallar na bandeira quando se falla na patria, porque é o seu symbolo (Vozes: - Muito bem.) - E tambem me parece licito fallar um pouco na patria, já que estamos aqui para zelar os seus interesses e defender a sua honra. (Muitos apoiados.)
O illustre deputado, continuando a presumir o que eu havia do dizer, disse tambem que eu appellaria para as rasões de sentimentalismo, e que não deixaria de invocar o nome heroico de Sá da Bandeira.
Eu não appello para rasões de sentimentalismo, nem invoco o nome heroico de Sá da Bandeira, mas pergunto simplesmente a s. exa. se entende que a nossa missão na Africa não deve ser uma missão essencialmente civilisadora;(Apoiados.) pergunto a s. exa. se entende que devemos metter-nos dentro das nossas cubatas de africa, fazendo render as nossas alfandegas o mais possivel, e abstrahindo completamente de tudo quanto seja prestar serviços á civilisação, á humanidade e á sciencia. Os outros que explorem, os outros que civilisem. Nós somos pequenos, somos pobres, somos fracos, e por conseguinte cultivemos á roda de Loanda e Benguella o café e a canna do assucar, e não nos mettamos muito no interior para não fazermos annexações! Eliminemos do nosso programma tudo que seja prestar serviços á humanidade, á sciencia e á civilisação! (Apoiados.) Coroemos de flores Capello e Ivens, mas deixemos esses sonhadores que imaginaram que alguma cousa valia para o bom nome, para o conceito, para a auctoridade e influencia portugueza no conceito europeu, os serviços que se prestam á civilisação e á sciencia na Africa.
Condemnemos tambem esses D. Quixotes, que julgaram que alguma cousa valia para a auctoridade moral de um povo para a sua influencia, para o seu bom nome - o arrancar a um rei barbaro da Africa, a promessa, que está cumprindo, do não continuar com os sacrificios humanos, quando a França, a generosa França, que não hesita nunca em sacrificar o seu sangue e os seus haveres pelas cousas que reputa justas, apenas estipulou no seu tratado com o Dahomey a clausula de que os cidadãos francezes não seriam obrigados a assistir a esses sacrificios humanos, que nós conseguimos eliminar. (Apoiados. - Vozes: - Muito bem).
É certo que precisâmos contar com os nossos proprios recursos.
E certo que eu não iria, nem procuraria ir ao interior da Africa, como s. exa. disse, para tentar uma cruzada de salvação para as raças africanas.
Mas, quando a dois passos de S. Thomé existe ha seculos um forte portuguez; quando n'aquella ilha nos achâmos em frente de um potentado, o qual tem em tanta conta os portuguezes que não quer que lhe escrevam senão em portuguez, o que nos tem feito observar o facto extraordinario dos francezes suarem a bom suar para, lhe dirigirem bilhetes na lingua portugueza; quando podiamos conseguir o nosso intento sem obrigações superiores aos nossos recursos, não fazer o que fizemos seria, mais que um mau serviço, seria uma loucura.
O illustre deputado confundiu hontem o protectorado com a soberania, imaginando que o protectorado nos ía custar sommas fabulosas.
Parece-me que é licito dizer-se que o paiz ousou tentar uma empreza que de certo será tida em alta conta, por todas as nações como um assignalado serviço á civilisação, uma empreza que constitue a gloria dos chefes que a levaram a cabo e dos officiaes e soldados que a auxiliaram.
O facto foi audacioso, innegavelmente, mas por isso mais concorrerá para a gloria de quem o realisou. Foi audacioso, de certo, mas mais digno será do applauso da Europa. (Apoiados.)
Se nos sairmos bem da empreza, de certo que bem merecemos da civilização e da liberdade. (Apoiados.) Se nos saírmos mal, a Europa não nos negará de certo a honra que se deve á coragem desgraçada: (Apoiados.) se sucumbirmos, a Europa não nós negará a gloria que se deve aos martyres do seu dever. (Apoiados.)
Parece-me que uma camara portugueza, incluindo o illustre deputado, não condemnará a aspirarão generosa de fazer com que a bandeira portugueza se desdobre para se tornar o refugio de milhares de desgraçadas victimas que a morte esperava; (Apoiados.) de fazer com que os marinheiros portuguezes sintam pulsar o coração com enthusiasmo, como aconteceu aos marinheiros do Africa, ao ouvirem as canções dos infelizes salvos por elles. (Apoiados.)
Creio que uma camara portugueza, incluindo o illustre deputado, não condemnará esta aspiração elevadissima, que de mais a mais está de accordo com as mais nobres tradições da historia de Portugal. (Apoiados.)
Vozes: - Muito bem.
(O orador foi comprimentado por muitos sr. deputados.)
(S. exa. não reviu as notas tachygraphicas do seu discurso.)
O sr. Mariano de Carvalho: - (O sr. deputado não restituiu as notas tachygraphicas do seu discurso a tempo de ser publicado.)
O sr. Presidente: - Peço a attenção da camara.
O sr. José Borges pediu a palavra para antes de se encerrar a sessão.
O sr. deputado desejava saber se o governo tinha alguma resolução a communicar á camara com respeito ao conflicto levantado entre o concelho de Guimarães e Braga.
A mesa tem duvida sobre a urgencia do assumpto, o na conformidade do regimento vou consultal-a sobre se permitte que seja concedida a palavra ao sr. deputado.
Vozes: - Falle, falle.
O sr. Presidente: - Em vista da manifestação da camara dou a palavra ao sr. deputado.
Vozes: - Falle, falle.
O sr. José Borges: - Pedi a palavra porque desejava