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rações mais francas e decisivas, á medida que se vião engrossar nos Pyreneos os exercitos evidentemente destinados contra as instituições politicas da Peninsula.
O Ministerio britanico, ou fosse por entender que era chegada com effeito a epoca de manifestar a sua opposição aos projectos já agora innegaveis de invasão, ou fosse porque pelas mudanças acontecidas no mesmo Ministerio tivesse tambem mudado no seu modo de encarar os projectos da Santa Alliança, declarou ao nosso encarregado de negocios, que se jamais, contra a sua expectação, viesse a ser ameaçada a independencia de Portugal, S. M. B. não poderia ver com indifferença um tão importante acontecimento, antes prestaria a este Reino todos os soccorros, que elle tem direito de esperar, em virtude dos seus antigos enlaces, da Grã-Bretanha.
Estas tão claras e tão positivas expressões soarão immediatamente nas margens do Senna, e o Governo de S. M. Christianissima protestou que nenhumas vistas hostis havia jamais concebido contra Portugal: que ha qualidade de Governo constitucional não só considerava como injusta, mas ate se envergonharia de sustentar, por absurda, u doutrina da intervenção de uma potencia na organisação politica interna de qualquer outra potencia; e que mesmo, a pezar dói receios que naturalmente devia causar o exercito de observação nos Pyreneos, este jamais passaria a linha da fronteira, se primeiro a não violassem as tropas hespanholas, que, empenhadas nos horrores de uma guerra civil nas provincias limitrofes de França, obrigavão esta potencia a tomar todas as precauções contra os males de toda a especie, que de uma tal visinhança erão de temer.
Entretanto como esta explicação de nenhum modo se compadecia, nem com o excessivo numero de tropas, que diariamente se chamavão á fronteira : nem com a composição e particular armamento do exercito: nem com a notória protecção, que as autoridades francezas da raya prestavão aos facciosos, devia o Governo de Sua Magestade concluir, que se erão sinceras as expressões do Ministerio francez, havia naquelle paiz outra força secreta, que punha em movimento os elementos da discórdia, e que se preparava a inspirar nos animos dos Principes, que se ião congregar em Verona, o systema da aggressão contra a Peninsula.
O Governo de S. M. F., que tinha por obrigação arredar deste paiz até o mais remoto perigo de uma invasão, dirigindo-se com franqueza ao governo francez, e partindo do indubitavel principio de que taes e tantos preparativos nada podião ser senão disposições para uma decidida aggressão, representou a forçada situação em que nessa hypothese se achava este reino; porque se os motivos da aggressão erão, como a todas as lutes parecião, as instituições politicas de Hespanha, se via Portugal na necessidade de se unir a ella para defender uma causa, que era commum a ambas, e não só a ambas, mas a todas as nações do universo, pois nenhuma haverá, que reconheça em qualquer outra o direito de obrigala pela força a adoptar aquella fórma de governo, que lhe aprouver prescrever-lhe. Se os motivos porem da agressão, com que a França assim ameaçava a Hespanha erão justas queixas, que contra ella tivesse, e de que o Governo de S. M. C. se recussasse a dar-lhe a satisfação devida, S. M. F., desejoso de prevenir uma guerra peninsular, que mesmo neste caso não podia deixar de comprometter o socego deste reino, se julgava com direito a ser informado dessas queixas contra o Governo de S. M. C., que obrigavão a França a tão dispendiosas disposições: a fim de empregar da sua, parle todos os esforços para obter esta conciliação, antes do que ver rebentar na Peninsula uma guerra, cujas consequencias não era dado á humana prudencia calcular.
Tambem a esta nova instancia respondeu o governo francez, não sem demostração de $ desgosto por parecer Portugal pôr em duvida a sinceridade das suas primeiras asserções, que nem a França intentava, nem se julgava com direito de intervir á mão armada nos negocios internos, ou nas instituições politicas da Peninsula; e que reiteradamente protestava não ter o exercito dos Pyreneos outro objecto mais do que evitar a violação do territorio francez, attento o perigo que disso justamente se devia recear na presença da guerra civil, que devastava as provincias contiguas da Hespanha.
Como, apezar destas tão positivas respostas, o Governo de Sua Magestade via na continuação dos movimentos do exercito francez dos Pyreneos, e dos fornecimentos feitos pela França aos facciosos Hespanhoes, uma indubitável prova das intenções hostis contra o systema Constitucional da Peninsula, julgou não dever demorar um só momento acceder ás instancias da corte de Hespanha, para se unirem as duas nações Peninsulares por meio de um tractado de alliança defensiva contra toda a aggressão dirigida a atacar as instituições politicas de qualquer dos dois paizes.
Não podendo haver disparidade de interesses em um negocio de tão manifesta utilidade para ambas as partes contractantes, nenhum obstáculo se offereceu á conclusão das essenciaes estipulações desta alliança. Assim as negociações, que ainda se achão pendentes, e que unicamente tem retardado a final conclusão para ser apresentado a este Soberano Congresso, versão sobre meros artigos de detalhe, em que mui facilmente concordarão sem dúvida ambas as altas partes contractantes: e brevemente se offerecerá á Europa uma incontestável prova da fraternal concordia com que as duas nações Peninsulares, extremamente ciosas cada uma delias da sua individual soberania, sabem pôr de parte todos os receios, para de mãos dadas rechaçarem a todo o custo quaesquer potencias, que ousarem attentar á independencia natural de qualquer delias, arrogando-se o direito de intervir á forço armada, debaixo de qualquer pretexto que ser possa, na sua administração interior.
Entretanto porem convinha accelerar a conclusão de u tua especial convenção, para prevenir que algumas guerrilhas de facciosos não viessem inquietar as nossas povoações da fronteira, começando por se valerem do direito de asylo, e acabando por se mostrarem, como na verdade são, inimigos communs de ambos os paizes.

TOM. I. LEGISLST. II. Qq

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