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SESSÃO DE 14 DE MAIO DE 1887 545

O sr. Presidente: - Continua a discussão da moção apresentada pelo sr. Dias Ferreira, e continua com a palavra o sr. Antonio Maria de Carvalho.

O sr. Antonio Maria de Carvalho: - (O discurso será publicado quando s. exa. o restituir.)

O sr. Villaça: - Sr. presidente, peço a v. exa. que consulte a camara sobre se permitte que se prorogue a sessão, até terminar-se este incidente.

Consultada a camara, resolveu affirmativamente.

O sr. Carlos Lobo d'Avila: - Mando para a meia um parecer da commissão de fazenda, e peco a v. exa. que lhe dê o devido destino.

Mandou-se imprimir.

O sr. Franco Castello Branco: publicado quando s. exa. o restituir.)

O sr. Antonio Candido: - Sr. presidente, venho tarde, mas por pouco tempo. Está dito e repetido tudo quanto o presente debate podia inspirar á dialectica e á eloquencia dos dois lados da camara.

A ordem da inscripção proporciona-me a honra de responder ao vigoroso e brilhante orador, meu querido amigo, o sr. Franco Castello Branco. A disparidade das nossas organisações, que não exclue, antes determina a vivíssima sympathia das nossas almas, não teve nunca occasião de accentuar-se mais do que hoje!

Eu não posso, e, ainda que podesse, não quereria collocar a serena intenção das minhas palavras no plano em que soou a voz d'este illustre deputado que, até quando defende ou impugna theses de jurisprudencia, é intensa e vibrante como um clarim de guerra.

Tambem não tomarei couta da maior parte dos argumentos, aliás habilisssima, com que o illustre deputado procurou destruir a defeza, que do acto do governo fizeram o grande jurisconsulto que preside ao conselho de ministros, nas duas memoraveis e eloquentissimas orações que pronunciou, o illustre ministro da justiça, cujo discurso de hontem é uma verdadeira gloria para o seu talento e para o seu coração, e todos os oradores que d'este lado da camara fallaram a favor da moção do sr. Francisco de Campos e contra a proposta do eminente parlamentar, o sr. Dias Ferreira.

A questão, que sob todos os seus aspectos está esgotada, sob o aspecto juridico está morta; e só o grande talento do sr. Franco Castello Branco poderia, variando a fórma e o methodo da discussão, imprimir-lhe ainda uma certa cor de novidade.

Não tomarei conta da maior parte dos argumentos do illustre deputado, mas não deixarei passar o ensejo de contrariar algumas palavras do meu amigo, que me pareceram absolutamente infundadas e, alem d'isso, subversivas da boa doutrina constitucional.

A camara dos pares não tem celebrado sessões diarias; está fechada ha perto de oito dias; não havia de convocar-se extraordinariamente para, conceder a licença a que se refere este artigo; e no entretanto era preciso que se continuasse e concluisse o auto de investigação.

(Interrupção do sr. Franco Castello Branco.)

De accordo. Mas, na generalidade do artigo que li, inclue-se o acto a que v. exa. se referiu.

Sr. presidente, no decurso d'esta discussão tive ensejo de reconhecer que não era completamente exacto o que dizia Carmenin a respeito dos advogados.
Affirmára elle que os advogados tinham a lingua quente e o coração frio; mas os homens do fôro, que se encontram nos dois lados da camara, têem-se mostrado n'esta discussão capazes da mais nobre paixão politica, e têem provado que tambem podem subir, como as aguias, ás mais elevadas regiões do pensamento e da arte.

Ainda bem. Mas é pena que não subam mais vezes ... (Riso.)

Com toda a certeza já não sei para que pedi a palavra, porque foi ha muito tempo; e depois d'isso succederam-se tantos oradores, appareceram e desappareceram tantos incidentes, tive de fazer, na minha consciencia e no meu espirito, um trabalho tão variado de integração e eliminação successivas, que não sei bem do momento em que me inscrevi.

Parece-me que foi quando o distincto parlamentar o sr. Ruivo Godinho frisava uma grave contradição, que se lhe augurava irreductivel, d'este lado da camara. Era n'estes termos: ao passo que os oradores da maioria erguiam os maiores protestos contra a renovada discussão de uma materia. que esta assembléa já discutira e votára, iam replicando sempre os oradores da opposição... É claro que, se não replicassem, o sr. Ruivo Godinho censuraria o seu silencio. (Riso.) Não havia escapar-lhe d'esta vez. (Riso.)

O meu illustre amigo, o sr. Antonio Maria, de Carvalho, no seu longo, substancioso e eloquente discurso, já disse uma das rasões por que a maioria procedeu d'esta fórma, votando a urgencia e acceitando a discussão da proposta do insigne parlamentar o sr. Dias Ferreira. As opposições têem sempre o direito de estabelecer a questão politica no terreno que lhes convem: sómente é preciso que essa questão seja posta por quem represente, com bom direito, o pensamento e a vontade das opposições. (Muitos apoiados.)

A tout seigneur ...

A phrase é conhecida.

O sr. Franco Castello Branco já destruiu esta rasão, dizendo que a minoria não tinha mudado de chefe.

Felicito o sr. Lopo Vaz, (Riso) e dou os meus pezames ao sr. Dias Ferreira.
(Riso.)

Mas n'essa questão não quero entrar, não só com receio de melindrar o sr. Franco Castello Branco, que é muito susceptivel, mas tambem porque seria crueldade querer aggravar de qualquer modo a lucta que por lá vae. Limito-me, por isso, a restabelecer o que me parece ser o direito da camara e do paiz ácerca da chefetura de um partido.

Ha, n'esta questão, especialidades delicadas, de verdadeiro melindre, em que ninguem tem o direito de intervir. Mas a circumstancia de haver, ou não, um chefe, e a qualidade do homem escolhido para essa eminente posição, são
cousas para se discutirem e ponderarem aqui e em toda a parte. (Muitos apoiados.) Não é indifferente para ninguem o facto de haver um grande partido sem chefe que o represento, que personifique a sua tradicção e o seu programma que levante e agite a sua bandeira nos certames do parlamento e nos combates da opinião (Muitos apoiados); não é indifferente, não póde ser indifferente para o paiz, a prolongação do estado anormal em que uma lamentavel fatalidade collocou a opposição regeneradora. (Muitos apoiados.)