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546 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

O sr. Arroyo: - Mas diga-nos v. exa. quem devemos escolher para nosso chefe...

O Orador: - Sim, digo quem deve ser o seu chefe, com a simples condição de que v. exa. se compromette a que seja votado pelos seus amigos. (Riso.) Quer? Acceita? (Riso.)

Dois ao mesmo tempo não pode ser! (Riso.)

O sr. Arroyo: - Não me posso comprometter assim...

O Orador: - Modifico a minha exigencia. V. exa. apenas se compromette com o seu voto; não é muito, bem vê. (riso.)

sr. Arroyo: - Bem. Aceito a indicação de v. exa.

O Orador: - Se eu quizesse abusar da minha posição, se eu quizesse declinar um nome... Ah! Sr. Arroyo, em que situação o deixava, e que amargo arrependimento v. Exa. teria de me haver interrompido! Mas não abuso. (riso.)

E voltando-me agora para o sr. Franco Castello Branco, permitta-me o brilhante parlamentar que lhe diga, sinceramente, uma cousa muito grave.

S. exa. fallou das dissidencias do partido pogressista e negou por isso que alguem d'este lado da camara tivesse direito bastante e a auctoridade moral precisa para fallar nas discordias que lavram fundamente na opposição. É verdade. Houve divergencias. Esse phenomeno dá-se repetidamente nos partidos doutrinarios. Mas tudo se concertou e recompoz a tempo; e oxalá que o partido regenerador, já que nos imita n'esse capitulo da nossa historia interna, nos tome tambem por modelo quando se tratar da sua constituição definitiva, sacrificando ao patriotismo e ao interesse geral as ambições, as rivalidades, as diversidades de affecto e de pensamento que o trazem tão dividido! (Muitos apoiados.)

Sr. Presidente, o procedente de se voltar a uma discussão já finda é exactamente aquillo contra que eu queria, protestar quando fallava o sr. Ruivo Godinho. Esse precedente não se estabelecerá sem o meu protesto mais energico, porque é um attentado contra a integridade parlamentar, no que ella tem de mais substancial e melindroso, e importa uma grande offensa á dignidade d'esta asssembléa, inviolavel como uma cousa sagrada. (Muitos apoiados.)

Esta casa do parlamento é destinada á discutir propostas de lei da iniciativa dos srs. Ministros ou da iniciativa dos srs. Deputados, e a apurar a responsabilidade do governo pelos actos que pratica. É destinada a estes fins, ou o direito publico, que eu estudei, está completamente, invertido.

Foi precisamente a responsabilidade do governo por um acto que elle praticou o objecto da discussão começada na segunda feira e prolongada até hoje.

O governo diante de circumstancias gravissimas, assumiu certas providencias, veiu ao parlamento explicar o seu acto, dizendo as rasões juridicas e politicas que o tinham aconselhado; a minoria oppoz lhe amplamente as suas idéas e as suas censuras; a maioria, mais tarde, depois de cinco horas de discussão, declarou que se conformava com o procedimento do governo e que lhe continuava a sua confiança politica. (Muitos apoiados.)

É uma questão finda. É uma causa julgada. Parlamentarmente, não ha mais nada a fazer. (Muitos apoiados.)

Que vem então a singificar a insistencia da minoria em voltar a este assumpto?

O seu desrespeito pela soberania da camara, ou o proposito de insinuar que a decisão da maioria foi injusta, por erro de entendimento ou por perversão de vontade!

No primeiro caso, é negada a auctoridade constitucional do parlamento; no outro... eu conheço muito a nobreza e a coragem dos cavalheiros que estão n'este lado da camara, para affirmar que elles são incapazes de uma injuria ou de uma affronta á maioria desta casa! (Muitos apoiados.)

Eu sei que esta questão é das que inflammam e comovem mais a sensibilidade politica. Era bem natural e bem de prever que a opposição a levantasse á maior altura, e que a voz dos seus oradores fremente ou enternecida, viesse aqui vibrar as fulminações do que lhe parecia a justiça, e gemer os threnos lamentosos da sua sincera dôr... (Muitos apoiados.) É muito difficil incluir n'uma formula, acceite por todos, a ordem e a liberdade, quando estes dois principios estão em conflicto, real ou aparente: (Muitos apoiados) e a liberdade, que é a inspiradora constante das opposições, é ardente como um foco de luz, imperiosa como um mandato do coração, irresistivel como um ideal absoluto! (Vozes: - Muito bem.)

Mas ha tempo para tudo, para a paixão e para serenidade, para a exaltação e para o raciocinio. (Apoiados.) Passada a hora do primeiro movimento, vê-se logo que a justiça não se mede pelo excesso da palavra, que não é por que se falla mais alto e mais longamente que o paiz percebe melhor, que só a moderação é persuasiva, que a indignação só é efficaz quando é porporcional e opportuna! (Muitos apoiados.) Não é entre fogos chammejantes, fogos fatuos quasi sempre, que a estatua da verdade póde ser vista e contemplada em todas a sua ideal formusura, é n'uma atmosphera serena, a uma luz temperada e igual... (Vozes: - Muito bem).

Se a demanda da opposição houvesse de triumphar seria mais pela eloquencia do sr. Lopo Vaz, ordenada, grave digna de um homem d'estado, do que pelo estylo brilhante, mas demasiadamente incendido, dos oradores que se lhe seguiram. (Muitos apoiados.)

Oito dias volvidos sobre este lamentavel incidente, versada largamente esta causa pela eloquencia parlamentar, que nunca foi tão fecunda e tão cambiante, eu posso perguntar que querem mais? Que pretendem? Que intentam ainda?!
Se é dizer e explanar o seu modo de ver, isso está feito á saciedade; se é lavrar o seu protesto, está lavrado, e já temos d'elle innumeraveis edições! (Apoiados.)

É vencer o governo e derrubar esta situação?

Tenho ouvido dizer isto, mas não creio.

Não, não é isso; não póde ser.

O governo tem todos os elementos de vida. (Muitos apoiados.) É novo ainda; não está gasto. (Muitos apoiados.) Tem sido energico e prudente. (Muitos apoiados.) Soube manter a ordem publica nos tumultos de Lisboa e do Porto. (Muitos apoiados.) Tem fomentado e desenvolvido os maximos interesses publicos do paiz. (Muitos apoiados.) elevou a uma grande altura, a que não chegára nunca, o credito do paiz, que a ultima situação regeneradora comprometteu, escalavrou... (Muitos apoiados.)

Quando ouço os oradores da opposição; tão vehementes, tão exaltados, tão insoffridos, a minha imaginação leva-me aos ultimos dias da situação regeneradora, que precedeu esta e o que vejo... Para que me obrigam s. exas. a descrever o que vejo, como se todo o aspecto desta casa estivese ainda diante dos meus olhos?!

Vivia ainda o eminente homem d'estado que presidiu ao partido regenerador. Que de vezes me tenho lembrado d'elle n'esta discussão?! Não é só a saudade do coração, é tambem, deixem-me dizel-o assim, uma saudade do espirito o que eu tenho sentido! (Muitos apoiados. - Vozes: Muito bem.) Avergando ao peso de grandes erros amontoados, proprios e alheios, a sua lucida rasão vaccilava, a sua grande vontade succumbia! (Muitos apoiados.) Seguia-se-lhe o sr. Barjona de Freitas, cuja lucidez de espirito, verdadeiramente admiravel, eleva a sua desprentenciosa palavra a um alto genero de eloquencia; (Apoiados.) mas preso, encadeado ás suas responsabilidades, que não quero, que não devo recontar, não tinha voz para responder a quem, d'este lado, o interpellava e arguia vehementemente. (Muitos apoiados.) Sentava-se ao seu lado o sr. Hintze Ribeiro, a quem não se póde negar o estofo e a estatura de um homem de estado; e eu vejo ainda, diante d'elle o vasto e complicado repositorio das suas providen-