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SESSÃO N.° 28 DE 8 DE SETEMBRO DE 1905 5

parece naturalmente deduzir-se que Coimbra deva ser a sede de uma divisão militar.

A todas estas razões deve-se ainda accrescentar uma outra: o facto de estar aquella cidade ligada por meio de linhas ferreas com o Porto, Guarda, Viseu, Castello Branco, Lisboa e em breve com a Covilhã, pela linha ferrea chamada de Arganil, que ali virá a ter certamente o seu terminus, a sua testa natural, podendo d'esta forma communicar rapidamente com a fronteira ou retirar as suas forças sobre Lisboa, com a qual, na hypothese de um revés, está em directa communicação por meio de duas linhas ferreas.

As vantagens da posição de Coimbra teem sido tão extraordinariamente sustentadas e reconhecidas pelo Ministerio da Guerra que lá lhe collocou uma succursal da Manutenção Militar, que abastece Guarda, Viseu, Aveiro, Figueira da Foz, Covilhã e Alcobaça, e lá está actualmente, em construcção um deposito de fardamento destinado a fornecer as actuaes 2.ª e 5.ª divisões militares.

odos sabem, até mesmo os mais leigos, como eu, em assumptos militares, que, junto de um quartel general, deve sempre haver em deposito, condensada, o que em termos militares se chama impedimento, que, em hypothese de guerra, deverá ser transportada para os pontos de combate, e parece-me difficil, se não impossivel, encontrar outra terra como Coimbra que tanto satisfaça a essas condições, visto ser o cruzamento - por assim dizer, o nó - das linhas ferreas mais importantes do nosso paiz.

A cidade de Coimbra, tão nobre pelas suas tradições, tão importante pela sua população, pelo seu centro scientifico e ainda pela sua situação geographica; cidade por assim dizer de todos nós, porque todos nós lá passamos um dia, todos nós lá vivemos a nossa phase mais bella da mocidade, todos lá mandamos hoje ou amanhã os nossos filhos, essa nobre cidade tão digna, por tantos titulos, de apreço, de estima geral da nação, não tem positivamente nestes ultimos tempos caído na graça do poder central. (Apoiados).

Agora, quando, com a ascensão do partido progressista ao poder, uma nova era de resurgimento, de prosperidades parece ter despontado para a cidade de Coimbra, surge subitamente a triste noticia de que lhe vão tirar a sua divisão militar!

Sr. Presidente: se a meu ver essa medida, essa resolução representasse uma importante vantagem de ordem militar para a defesa do paiz, eu, apesar de ser filho de Coimbra e no Parlamento um dos seus representantes, seria o primeiro a curvar-me, a ceder perante o que julgo um impreterivel dever - a defesa do paiz, o bem nacional.

Mas tal hypothese afigura-se me não se dar e parece-me ter demonstrado a V. Exa. e á Camava a vantagem que pelo contrario resulta para a defesa do paiz da conservação em Coimbra da divisão militar.

O Sr. Ministro da Guerra, que, pelo seu saber, intelligencia e caracter, é seguramente uma honra para o exercito portuguez e um justo motivo de orgulho para o partido a que tenho a honra de pertencer e que o admira como um dos seus mais brilhantes ornamentos, não deixará de ver nas minhas palavras a justiça da causa que defendo, que, sendo a da minha terra, me parece ser tambem a da nação inteira. (Vozes: - Muito bem).

O Sr. Ministro da Guerra (Sebastião Telles): - Acaba o Sr. Visconde do Ameal de tratar de um assumpto muito sympathico, defendendo, como é justo, os interesses do circulo que o elegeu.

Eu já conheço este assumpto, porque a respeito d'elle já na outra epoca d'este anno em que as Côrtes estiveram abertas, me foram apresentadas representações da Associação Commercial e da Camara Municipal de Coimbra.

Nessa occasião a todos os Srs. Deputados do districto de Coimbra, que me procuraram para me falar no mesmo sentido, respondi que teria o maior pesar em ser desagradavel a Coimbra e que faria por isso todas as diligencias para poder attender as reclamações d'aquella cidade. Accrescentei ainda que, se isso não me fosse possivel, lhe daria compensações militares.

Comprehendo que os interesses das povoações se liguem com os interesses militares; estimo até que se dê essa ligação, porque ella é salutar, mas não é unica e simplesmente por um quartel general, que ali se pode estabelecer. Outros elementos ha com que essa aspiração se pode realizar, e são estes elementos que eu pretendo aproveitar.

Alem dos interesses locaes que o illustre Deputado muito naturalmente defendeu, o illustre Deputado apresentou outras razões para sustentar a causa de Coimbra. S. Exa. quiz achar naquella importante cidade certas condições militares com relação á defesa nacional, e disse com muita razão que o paiz é considerado, sob este ponto de vista, como dividido em tres zonas: a do norte, a do centro e a do sul, sendo a do centro a mais importante, no que aliás todos estão de accordo.

Disse S. Exa. que a zona central é a mais importante; sendo assim, Coimbra é um ponto estratégico, quer a invasão se faça pela Beira-Alta, quer pela Beira-Baixa, devendo por isso haver ali uma divisão militar. Neste ponto é que não posso concordar com o illustre Deputado.

Para o caso de uma invasão pela Beira Alta, a situação de Viseu é mais vantajosa. No caso de uma invasão simultanea pela Beira Alta e pela Beira Baixa haveria necessidade de centralizar as forças e então o ponto seria Thomar ou Abrantes.

Effectivamente Coimbra é um ponto importante, mas unicamente para linha de defesa, não para ter quartel general.

Eu sei que nessas representações se citavam fragmentos de um livro que publiquei com relação á defesa do paiz e em que dizia ser Coimbra um ponto estrategico importante; mas d'ahi não se pode concluir que deva ter quartel general. Se é um ponto importante da linha de defesa, não pode ter quartel general porque este então deve ficar á retaguarda.

Esta situação das forças em tempo de paz deve ser considerada em tudo que for possivel. Mas não é simplesmente aquillo que o Ministro considera, porque a situação em tempo de paz é uma e em tempo de guerra opera-se por meio de reuniões em pontos differentes.

Nunca se pode ter as forças num ponto em que teem de entrar em acção, porque isso seria reuni-las como se estivessem em campanha. Se umas que estão proximas d'esse ponto estão bem situadas ha outras distantes que o não estão.

Nessa parte estimaria muito que Coimbra estivesse nessas condições, porque então seriam satisfeitos os desejos d'aquella cidade, que são tambem os meus.

Mas debaixo de outro ponto de vista, não.

A resolução do problema, como V. Exa. vê, é bastante difficil. Vou no entanto estudá-lo, e verei o que se pode fazer.

Pela organização existente ha seis divisões militares, e pela organização que já foi votada pela Camara ficam apenas quatro, desapparecendo portanto duas. É provavel que sejam as duas mais modernas, e as mais modernas são as de Coimbra e Villa Real. Isto, como V. Exa. sabe, ainda não, está resolvido, mas o caminho a seguir deve ser este. É preciso não haver illusões.

Dadas todas estas circumstancias, farei o mais possivel, dentro dos limites impostos pelas necessidades da defesa do paiz, de ser o mais agradavel possivel a Coimbra.

Dentro d'esses limites, ha margem para se darem compensações a Coimbra, que assim poderá ser attendida em relação a outros pontos. Ha, por exemplo, a questão do quartel, que tenho estudado, e estou disposto a mandar