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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Discurso do sr. deputado Luciano de Castro, proferido na sessão de 16 do corrente, e que se devia ler a pag. 318, col. 2.ª

O sr. Luciano de Castro: — Começo por mandar para a mesa a minha moção do ordem (leu).

Logo justificarei esta proposta de adiamento.

E antes de proseguir, peco á camara que me permitia uma brevissima explicação pessoal, pois que é bastante embaraçosa e difficil a minha situação n'este momento.

Desde longos annos conservo estreitas relações com o actual ministro da justiça e meu particular amigo o sr. Barjona de Freitas. É, pois, dolorosa para mim a conjunctura em que me acho, vendo-me forjado a divergir da sua opinião, a combate-la, a impugna-la com todas as minhas forjas, e a empregar todos os meios para persuadir a esta assembléa que não approve o projecto que está em discussão.

Camarada de trabalho nos dias saudosos da juventude, companheiro de estudo durante os cursos academicos, amigo, quasi irmão na prosperidade e no infortunio, o sr. Barjona de Freitas é uma das mais queridas recordações do meu passado.

Aquelle peregrino e formosissimo talento vi-o eu alvorecer lucido e brilhante nas horas tranquillas e descuidosas do trabalho commum, em que Deus apenas me concedia intelligencia para comprehender e admirar as explendidas revelações de tão vigoroso e robusto engenho. Vi-o depois crescer e medrar. Vi-o engrandecer-se dia a dia. Bem quizera eu poder acompanha-lo, tanto quanto permittissem as minhas pobres faculdades, na auspiciosa carreira que tão cedo lhe abriu os largos horisontes do futuro. Vãos e inuteis desejos! O sr. Barjona alteiou-se como aguia até regiões tão levantadas, que a raros é dado alcança-las. Eu fiquei-me só com o meu obscuro estudo, com o meu assiduo trabalho, cora o meu sincero e afferrado empenho de ser algum dia util ao meu paiz. O sr. Barjona subiu sempre. Parecia que a fortuna lhe andava atapetando de flores o caminho da gloria. Como a eleito seu o acariciava sempre. Choviam-lhe era derredor os triumphos academicos. Corôas e laureis já os não havia no primeiro estabelecimento scientifico do paiz para exornar a fronte do joven professor. Era uma reputação feita e consummada dentro de poucos annos.

Um dia, andava eu já muito entrado n'estas nossas pugnas e contenções politicas, e lembrei-me de robustecer o meu partido, quando era mais accesa a lula entre a reacção e a liberdade, cora a valiosa cooperação d'aquella possam te e vigorosa intelligencia. Empreguei os esforços que em mira cabiam para que o sr. Barjona viesse a esta camara, Aqui veiu então s. ex.ª e assentou praga no mesmo regimento, ou antes no mesmo partido politico era que eu militava. Combatem valorosamente a meu lado. Alguns annos nos vinculou a mesma sorte na boa e na má fortuna.

Veiu mais tarde a fusão. N'ella nos alistamos alvoroçados pela esperança de ajudarmos cora o nosso concurso a organisação de um governo forte e duradouro. Triumphou a fusão. O sr. Barjona de Freitas representou no poder, como elle é capaz de o fazer, com o esplendor das suas grandes faculdades, o partido politico, a que eu pertenço. Mais tarde a fusão desfez-se. Eu puz então os olhos na bandeira politica a que jurara ser fiel, e segui o caminho que a um tempo me apontavam a honra e o dever. O sr. Barjona de Freitas, sem duvida por motivos nobilissimos, nem outros podem caber em tão elevado carácter, desviou-se de mira e dos meus amigos politicos, e seguiu diverso caminho. Alistou-se n'outro partido. Desde então separámo-nos. As nossas relações politicas romperam-se. E é hoje a primeira vez que tenho de combater trabalhos do sr. Barjona, que me vejo obrigado a tomar uma posição clara e definida em face de um projecto de s. ex.ª Cora quanta dor o faço póde bem aprecia-lo quem souber a cordialidade e estreiteza de relações, que um ao outro nos traz ligados desde muitos annos. Não poderei, porém, esquecer atravez das nossas divergencias politicas nem as recordações da amisade, nem a saudade dos devolvidos annos da nossa infancia academica e litteraria. (Vozes: — Muito bem.)

Cumpri um dever como ministro, publicando uma reforma de cujas vantagens estou ainda convencido, bem como o estou da desnecessidade da revogação d'essa reforma, que vejo hoje proposta pelo sr. ministro da justiça.

Vou dizer á camara e ao paiz, quaes foram as rasões que me levaram a publicar aquella providencia, e espero que o governo dirá igualmente quaes foram os motivos que o moveram a propor a sua revogação.

Este foi o principal motivo que me obrigou a tomar parte n'este debate.

Agora duas palavras para justificar a minha proposta de adiamento, que é na essencia igual a uma outra que apresentei ha poucos dias á camara, e que ella rejeitou. Ha só uma differença, A proposta que apresentei ha poucos dias era geral, comprehendia quaesquer medidas d'onde podesse vir augmento de despeza; a proposta que eu hoje apresente é só para adiar o projecto que se discute pelo indicado motivo de aggravar os encargos do thesouro.

Já que está presente o meu antigo amigo o sr. Fontes, e não me foi possivel, porque a camara não m'o consentiu, que eu na occasião propria dissesse quaes foram as rasões que tive para apresentar aquella proposta, permitta-se-me agora dizer duas palavras, muito de passagem, para responder a alguns reparos que s. ex.ª fez n'essa occasião.

Disse s. ex.ª «que eu não podia apresentar similhante