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O Sr. Presidente: -—Peço ao Sr. Deputado que entre na ordem da discussão.

O Orador: — Mas, Sr. Presidente, era precisa esta declaração para fazer ver que se nós levantamos aqui a nossa voz, e somente para cumprirmos o nosso dever como Deputados da opposíçâo ; porque de resto o combate é sem gloria, é sern resultado, e sem esperança, não tem espectadores, nem juizes! Mas vamos á questão.

Não e' possível imaginar-se uma instituição mais moral, mais civilisadora, que as das caixas económicas: tudo quanto por ahi se tem dito a este respeito é certamente inferior á verdade. Esta instituição acha-se hoje generalisada em todos os paizesda Europa, e em todos c proclamada como uma instituição eminentemente populosa e social. Com ef-feito, em 1833 já em Inglaterra se contavam quasi quinhentas caixas económicas contendo um deposito de 16 milhões de libras esterlinas. Quatro annos depois os depositantes montavam amais de 600 mil, e os depósitos a 20 milhões de libras, ou a mais de 200 milhões de cruzados. Na Allemanha existem para cima de 230 caixas económicas, a Suissa conta para mais de 100; e a França, apezar de ser ahi muito moderna esta instituição, pois data de 1818, já conta para cima de 300; em quasi todos as cidades d'Italia existe uma — por toda a parte se vem apparecer estes bancos de pobre.

Esta instituição tem prosperado tanto nos governos absolutos como nos representativos. E se o sacerdote protestante a recommenda como moral e filantrópica: o próprio chefe da igreja a abençoa como uma creação eminentemente evangélica, e chrislã. Urna espécie de caixas económicas existia de ha muito tempo, no seio das famílias, e era conhecida entre nós pelo nome trivial de rnialheiros. As caixas económicas são estes mialheiros públicos, fecundados pela razão e pela filosofia da nossa e'poca, e por esse maravilhoso poder da associação que reveste de uma qua^si omnipotência os esforços humanos.

A vista disto, é claro que tudo quanto se tem dito a respeito destas caixas está muito abaixo da verdade, e que se não pôde deixar de exaltar quasi enthu-lOasticamente esta instituição. Mas o projecto desna-(uralisa-a na sua essência, e corrompe-a na sua origem, transformando-a n'uma especulação mercantil. Eu não pude deixar de estremecer vendo que o poder absorvente da agiotagem vem hoje exercer a sua poderosa attracção sobre os miseráveis restos da classe trabalhadora, e que quer ale traficar com as migalhas da pobreza. Eis-aqni toda a q.ucstão : quer-se obter dinheiro das classes laboriosas por um pequeno juro para o fazer valer nas grandes operações com-tnerciaes, e rios jogos da agiotagem. Sr. Presidente, a terra, como disse aqui hontem um illustre Deputado, não treme de certo contemplando este acto de insaciável cubica; rnas a justiça, a decência, a humanidade, essas de certo que devem tremer.

Achei e acho ainda inexplicável a asserção de que os favores concedidos a uma companhia com a exchisâo de todas as outras fossem deveres da parte do Governo. Esta asserção, Sr. Presidente, achei-a insólita, achei-a miserável — sim insólita e miserável, — palavras parlamentares, e tão parlamentares que V. Ex.a mesmo e muitos collegas nossos aqui se tem delias servido, palavras parlamentares,

posto que rne fossem SESSÃO N." 5.

hontem estranhadas e tão

parlamentares que ultimamente na discussão que teve logar eru França sobre a resposta do discurso do throno, M r. Thiers disse a Mr. Guizot que as suas asserções eram as mais miseráveis possível (apoiados).

Estas expressões em nada atacam o caracter moral do orador, esse caracter que eu sempre respeito — as opiniões essas são do domínio do publico, são do domínio da discussão, essas tracto-as como me-recém, ou como eu entendo que merecem. Mas o que eu ainda achei insólito, o que eu também achei miserável foi proclamar-se esta instituição de benéfica e civilisadora e quererem monopolisa-la (muitosapoiados) , foi proclamar de benéfica c civilisadora esta instituição, e quererem torna-la exclusiva — afastando do carnpo toda a competência — extinguindo toda a concorrência—e rejeitando quem o fazia por menos e melhor (vivos apoiados). Eis-aqui, Sr. Presidente, o que me pareceu insólito, o que me pareceu miserável ; e isto sem offcnsa doiillustre Deputado a quem me refiro; porque de facto eu hei de sempre respeitar como respeito o caracter de todos os membros desta Camará — sir-varn-se contra mini das mesmas armas que eu emprego, são as armas do raciocínio, nunca emprego outras.

Mas vir-se aqui demonstrar como se demonstrou que a instituição era bella, era social, era filantrópica, que devia ser popularisada, e ao mesmo tempo monopolisa-la, e ao mesmo tempo torna-la o património de uma companhia com exclusão de todas as outras.... Oh ! Sr. Presidente! Isto é que se não ha de acreditar, não se ha de acreditar no futuro!

Mas o que eu acho também injusto, o que eu acho intolerável e tornar de p^ior condição aquel-las companhias, que tinham entre nós introduzido esta instituição, e tornar de melhor condição aquel-Ia companhia, que ainda a ha de introduzir, (apoiado*) Existem em verdade coaipanhias, que introduziram entre,nós as caixas económicas, que fizeram grandes esforços para as introduzir, que adiantaram para esse fim uma parte dos seus capitães, e essas companhias malfadadas, ernquem segundo se amrmoii , não ha confiança, gão pastas de parle, e os privilégios e as concessões são todas para uma outra companhia, que apparece quasi por milagre; e que na sua aurora prom^tte grandes apoios ao Governo, grande prosperidade ao Pai z , mas que tudo ha do passar como um desses mete'oros , que brilham urn momento para no seguinte desappare-cerein.