O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO DE 15 DE FEVEREIRO DE 1886 453

O governo deixa-se ficar tranquillo sem temer as responsabilidades que já pesam sobre si, e parece que sem receio das que de um momento para outro lhe podem advir. (Apoiados.)
Antehontem, milhares de pessoas contentaram-se apenas em ir cantar á porta do hotel em que reside o sr. governador civil de Braga a Maria da Fonte,, e hontem, segundo dizem telegrammas mais recentes, numa freguezia próxima de Braga, o povo, de noite, toca a rebate e principia a fazer as primeiras desordens, e novos gritos de desespero e de anarchia se juntam ao único grito que até agora se soltava no districto de Braga. A paciência do povo tem limites. (Apoiados.)
Ah! que o governo esquece-se de que subiu ao poder ha cinco annos no momento em que o governo progressista pagava a ultima letra da divida fluctuante. (Apoiados.)
Ah! que o governo esquece-se de que, no fim do cinco annos de administração, nos apresenta um deficit do perto de 10.000:000$000 réis, e uma divida fluctuante de réis, 12.000:000$000. (Apoiados.)
O sr. Santos Viegas: - Isso acaba o conflicto ?
O Orador: - Não acaba o conflicto, mas póde levantar uma revolução. Não acaba o conflicto, mas provoca o povo a reagir contra a anarchia que lavra na administração publica. (Apoiados.)
Não acaba o conflicto, mas dá direito a pedir a queda de um governo, que só no exercício corrente augmentou 763:000$000 réis nas avultadas despezas do orçamento do estado, e que pretende agora lançar novos e pesados impostos!
O povo vê que o governo se esquece das suas responsabilidades, dos seus erros e desmandos, e recorda-se do hymno da Maria da Fonte. (Apoiados. - Vozes: - Muito bem.)
Tenho concluído.
O sr. José Borges de Faria: - Pedi a palavra, sr. presidente, para insistir nas minhas perguntas ao governo a respeito do conflicto de Braga, julgando que se dignaria comparecer, ou o sr. presidente do conselho ou o sr. ministro do reino. Ainda uma vez me enganei. S. exas. ainda hoje não quizeram vir á camara.
Se s. exas. estivessem presentes, não lhes faria perguntas ácerca dos factos referidos na minha nota de interpellação, porque, para essa discussão será marcado dia por v. exa., mas fal-as-ía a respeito de novas circumstancias que se estão dando naquelle conflicto.
O meu fim, sr. presidente, é ser esclarecido e o paiz do modo como o governo quer resolver e tratar o conflicto de Braga, e por isso venho hoje também, com o illustre deputado e meu antigo amigo Arouca, pedir uma conversa ao governo ácerca dos acontecimentos do districto de Braga. (Riso.)
Talvez, sr. presidente, esta palavra agrade mais ao governo, não só porque é novo no parlamento o seu uso para este fim, mas porque foi inventada tambem por um amigo. Interpellação e perguntas são palavras já gastas no parlamento e o governo, que está gasto, talvez não goste que lhe fallem em palavras que avivam idéas tristes!! (Riso.-Apoiados.-Vozes:-Muito bem.)
Sr. presidente, o sr. ministro da marinha deu á camara a agradável noticia, que o sr. presidente do conselho ou o sr. ministro do reino, viriam breve á camara tratar este negocio.
Aguardemos a chegada de s. exas. para então apreciarmos a tal brevidade, que me parece ha de ter sua demora!
Em resposta ao meu antigo amigo e collega Vicente Pinheiro, disse o sr. ministro da marinha palavras que eu desejo fiquem bem registadas.
S. exa. disse «que lhe parecia não era exacto que o governador civil de Braga tivesse feito a declaração a que se referira aquelle illustre deputado». O sr. ministro não affirmou nem negou o facto. Polo em duvida. Note bem isso a camara.
Ninguém poderá negar, e muito menos o governo, que o actual governador civil de Braga foi para aquelle districto com uma missão pacificadora, e que veiu ha pouco a Lisboa informar o governo, tendo estado em conselho de ministros antes da sua nova partida para Braga.
Depois de todos estes factos, vem o sr. ministro da marinha dizer que não sabe quaes as providencias que se vão adoptar, nem as instrucções que o governador civil levou, porque isso pertence á pasta do reino. (Apoiados.)
O que eu concluo daqui, sr. presidente, é que o sr. governador civil levou carta de prego. (Riso. - Apoiados.)
Não continuo a tratar este assumpto na presença do sr. ministro da marinha, porque tenho a certeza de que obterei a tudo o que sobre este ponto perguntar as, mesmas respostas passadas.
Aguardo a chegada do sr. presidente do conselho ou do sr. ministro do reino, se ella se realisar, para saber de s. exas. quaes as providencias que estão resolvidos a tomar sobre este assumpto.
Termino por hoje.
O sr. Azevedo Castello Branco: - V. exa. sabe, e a camara tambem, que hontem houve um meeting importantíssimo em Villa Real ao qual concorreram 8:000 pessoas de quasi todos os concelhos do districto.
Nessa reunião tratou-se unicamente de providenciar por forma a que se peticionasse aos poderes publicos para attender e resolver de uma vez a petição, tantas vezes reiterada, de um caminho de ferro que pelo valle do Corgo parta da Régua a Villa Real e Chaves.
Parece paradoxal que eu no momento em que se trata da apresentação de medidas, em virtude das quaes se pedem sacrifícios ao paiz, venha levantar a minha voz para pedir que se attenda a esta petição, que é de toda a justiça ; creia porém a camara que este pedido não é determinado pela circumstancia vaidosa da minha província, do meu districto, querer tambem o seu caminho de ferro; não nos impressiona uma questão de commodidade própria; é a consequência lógica de uma crise temerosa que devasta e assola o districto a que pertenço ha cerca de quatorze annos.
O districto de Villa Real compõe-se de duas regiões - agricolas inteiramente distinctas; numa, a agricultura dos cereaes e noutra a agricultura do vinho.
A primeira, contingente, laboriosa e muito despendiosa, não é bastante para produzir, em condições regulares, para aquelle districto, onde a população é muito densa, condições de riqueza que contrabalancem o desfalque produzido pela falta de vinho. E embora haja até plethora de producção, as condições difficeis de transporte inutilisam e tornam difficeis o accesso e venda dos productos.
Ao sul da provincia, a parte mais rica e florescente della, havia a cultura da vinha, que o terrível flagello da phylloxera destruiu, fazendo com que essa região, outr'ora florescente, tenha hoje um ar de tristeza e desolação que commove o coração de quantos conheceram o passado áureo d'aquella região.
E n'estas condições que o meu districto se compenetrou da necessidade de desenvolver o seu movimento agrícola de modo a fazer concorrer aos mercados os seus géneros em condições de viação em que hoje os não podem levar, onde tenham uma remuneração sufficiente.
D'ahi vem o pedido do caminho de ferro do valle do Corgo.
Não é tambem paradoxal porque eu já disse aqui numa das ultimas sessões, que tinha a certeza de ter dado entrada no ministerio das obras publicas um requerimento de um grupo de banqueiros portuenses, no qual, sem extraordinário gravam, para o thesouro, estes banqueiros se compromettiam a fazer o caminho de ferro mediante umas certas condições.

29 *