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454 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

N'estas circumstancias, eu tenho por um lado a situação precária do thesouro, e por outro lado a exigencia justíssima dos habitantes do districto de Villa Real e o requerimento deste grupo de banqueiros. Não desejo que sejam protrahidas as necessidades do thesouro em pró do meu districto, mas lambem não desejo que sejam esquecidas as suas conveniências e as necessidades commerciaes e agricolas do meu districto simplesmente para se attender á questão do thesouro.
O que é necessario é que se estude a proposta e que os poderes públicos verifiquem até que ponto se póde attender a esta reclamação justissima, sem trazer agora encargos de maior para o thesouro.
Sinto não ver presente o sr. ministro das obras publicas, a quem estas palavras são especialmente dirigidas, e sinto porque s. exa. dar-me-ía uma resposta que levaria aos espíritos dos meus conterrâneos um momento de descanso e de quietação; mas é certo que os muitos afazeres do seu cargo não lhe permittem vir hoje aqui. Nas minhas palavras não vae censura.
Em todo o caso eu peço ao sr. ministro da marinha a fineza especial de communicar ao sr. ministro das obras publicas o que acabo do dizer, e muito estimarei que s. exa. se compenetre de que é muito grave a situação do meu districto, e que demanda uma seria attenção. E especialmente hoje, que se resolveu, em nome da situação do thesouro, fazer um sacrificio por parte de todos, é bom attender a um districto que está em situação economica deploravel, e exigir mais do que se pode dar, póde determinar um movimento de reacção. (Apoiados.)
Isto é muito para attender, porque com a miséria não se póde brincar. (Apoiados.)
Outro ponto, e este seria dirigido ao sr. presidente do conselho, se elle estivesse presente.
A opposição progressista em Valle Passos está continuando a dar nos que fazer e que fallar, depois de uma serie de tropelias eleitoraes, cuja historia não estou agora para fazer á camara.
Mas como os taes senhores faziam o mal e a caramunha, depois dos seus actos pouco correctos penitenciavam-se mandando telegrammas ao sr. Eduardo José, Coelho, para que s. exa. se queixasse dos meus amigos. É um cumulo.
Ora hoje chegou-me a mim a vez de ler o meu telegramma. (Riso.)
Eu andava ancioso por esta situação. Não sei bem os factos que lá se estão dando, sei alguns dos que se deram, e sei agora que a somma das irregularidades praticadas na assembléa de apuramento pelos membros da commissão recenseadora, que são in totum progressistas, foi de tal ordem, que o conselho de districto viu-se na necessidade de annullar todo o acto eleitoral. Mas o que estou farto de ver, é telegrammas para jornaes, para o meu amigo o sr. Eduardo José Coelho, e para os ministros, e até para o quartel general do Porto, onde se faziam accusações violentas contra um capitão e um alferes.
Ora este alferes deve estar muito agradecido aos taes senhores, e, inversamente, elles muito pouco satisfeitos com elle, porque teve a inaudita sorte do escapar a uma tentativa do assassinato, e, segundo a parte official, em um dos dias da eleição, houve um soldado que confessou haver sido angariado por pessoas que não eram do partido regenerador para, o assassinar.
Comtudo foi feliz e escapou da bala: já é!
Mas, não contentes com isso, novo telegramma para o quartel general queixando-se do procedimento de um capitão.
Ora chegou me a mim a minha vez de telegramma.
(Leu.)
Começo por declarar que tenho grande difficuldade em acreditar o que acabo de ler á camara, porque faço subida justiça ao exercito portuguez, a que tenho a honra do pertencer, para que me repugne muito o acreditar que seja processo, n'uma syndicancia entre camaradas, espancar inferiores, obrigando-os a deporem contra os superiores.
Creio isto para honra do exercito e do official a que se refere este telegramma, a quem não conheço.
Mas assiste-me a justiça de pedir igualmente que se averigúe se este facto é verdadeiro, e quero sómente para mim, membro da maioria, uma justiça tão equitativa como a que se fez em relação ao meu amigo o sr. Eduardo José Coelho, e tenho muito prazer em repetir aqui que o sou. S. exa. veiu aqui, cheio daquella sua santa ira, provocada por aquelle telegramma inflammavel, que a camara ouviu ler.
O sr. ministro do reino, que nessa mesma occasião recebia uma participação, em que se lhe dizia que o facto se tinha dado longe da assembléa eleitoral, e por motivo inteiramente estranho ao acto eleitoral, desconhecendo- se até quem tinha perpretado o assassinato, mas que o indivíduo indigitado nem eleitor era, a despeito destas e muitas outras considerações ponderaveis, não teve duvida em suspender immediatamente o administrador; não era licito suppor que houvesse culpa, para não desattender a santa ira de que se apossara o sr. Eduardo Coelho em presença daquelle assassinato.
Não quero para mim, como já disse, senão uma justiça igual, e visto ler tambem o meu telegramma, peço ao governo me faça a fineza, não de mandar suspender, o que seria muito para uma vez, mas de mandar averiguar. Essa justiça faz bem a todos, a mim especialmente, e faz bem ao governo. E com isto demonstra que não lhe mereceram mais preferencia os nossos amigos do que os amigos do governo. (Apoiados.)
Tenho dito.
O sr. Ministro da Marinha (Pinheiro Chagas): - Transmittirei aos meus collegas, a quem se dirigem especialmente, as observações que o illustre deputado acaba do fazer. S. exa. sabe bem que o governo tem o máximo empenho em attender às reclamações justas do districto do Villa Real tanto quanto for compatível com as forças do thesouro.
Quanto á questão de Valle Passos, s. exa. acaba mesmo de prestar homenagem á imparcialidade com que o governo tem procedido neste assumpto, de modo que não só póde dizer que é parcial com relação a uns e imparcial com relação a outros. O governo tem procurado averiguar a verdade para se poder castigar os culpados, attendendo assim aos interesses da justiça e não a quaesquer outros.
O sr. Mariano de Carvalho: - Quando numa das sessões anteriores sustentei a moção que tive a honra de apresentar, a propósito cia interpellação do sr. Consiglieri Pedroso, fiz algumas observações a respeito de excessos de despeza no ministerio cia marinha.
Não posso renovar agora a discussão, e, por isso, não me refiro ás palavras do sr. ministro da marinha, que respondeu como julgou conveniente; mas para a discussão do orçamento rectificado preciso de alguns esclarecimentos, o, por isso, mando para a mesa o seguinte requerimento.
(Leu.)
O sr. ministro da fazenda teve a bondade de remetter á camara um officio, declarando que não podia mandar copia do processo relativo às obras da alfandega, porque era muito extenso, e convidando-me a ir á administração geral das alfândegas examinal-o.
Convite análogo, em relação a outros documentos, me fez o sr. ministro da marinha, e eu acceitei, sendo recebido n'aquelle ministerio com a maior affabilidade; mas em relação á administração geral das alfândegas não posso, por melindre pessoal, acceitar o convite, e, por isso, poço que se officio ao sr. ministro da fazenda, pedindo-lhe que mande á camara o processo original, compromettendo-me eu a examinal-o no praso de dois dias.