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SESSÃO N.° 29 DE 9 DE SETEMBRO DE 1905 5

Podiam todos os paizes cultos e incultos do mundo postergar, banir por completo o estudo da lingua ingleza da instrucção secundaria, mas o nosso paiz, nunca! (Apoiados).

Alguns annos antes da actual reforma, havia nos nossos lyceus o estudo obrigatorio da lingua ingleza para o curso de medicina das escolas medico-cirurgica de Lisboa e Porto e na Escola do Exercito havia a cadeira de inglez, que, duranto muito tempo, foi regida por um professor de nacionalidade ingleza. Ultimamente, sendo obrigatoria só para o curso geral, acabou por não ser estudada em lyceu algum, ficando assim practicamente excluida do nosso ensino secundario.

Sr. Presidente: não devemos estudar precisamente a lingua do paiz com que vivemos em relações mais estreitas, mais intimas? Temos porventura mais relações de ordem politica, economica e industrial com alguns outros paizes?

Nas duas principaes cidades do reino — Lisboa e Porto —, a colonia inglesa é a mais importante, o que é confirmado pela diversidade de disticos, inscrições em inglês que se observam a cada passo, percorrendo as principaes das d’esta cidade.

Alem d’isso, nos diversos estabelecimentos industriaes e commerciaes nós vemos tambem disseminados, em grande quantidade, disticos e rotulos em inglez, lançando até na penumbra a antiga diversidade de inscrições em francez.

Vemos, pois, que esta lingua está hoje muito generalizada e até universalizada, evidentemente com grande prejuizo da franceza.

Portanto pode-se dizer que a lingua ingleza está tão generalizada como a franceza e é tão necessaria como esta. (Apoiadas).

Quanto mais me alongo em considerações desta ordem tanto mais pergunto a mim mesmo com espanto, que obstinada obcecação houve em quem presidiu á actual reforma da instrucção secundaria?!!!.. .

É assombroso o abandono em que deixaram esta lingua, apesar de se estreitarem cada vez mais as nossas relações de amisade e cordialidade, de se firmar e consolidar mais a nossa alliança, de seculos de existencia, com a poderosa nação, a Inglaterra.

E o que é mais extraordinario, Sr. Presidente, é que nem os alumnos destinados á carreira das armas são obrigados a estudar esta lingua!!!...

Imagine V. Exa. e a Camara o desastroso effeito moral, sob o ponto de vista militar, que este facto produziria, se (a Providencia nos tome sob os seus auspicios) tivessemos de entrar numa acção militar commum com a nossa alliada, nação de que desconhecemos, em absoluto, as noções mais elementares, os mais simples rudimentos da sua lingua, e até o seu alphabeto!!...

Sua Majestade o Rei Eduardo VII deu-nos a elevada consideração de visitar o nosso paiz, com a notavel e honrosa circunstancia desereste o primeiro paiz que aquelle poderoso monarcha visitou, depois da sua ascensão ao Throno.

Todos se lembrara ainda do fremito de enthusiasmo que percorreu o paiz, e as demonstrações de affecto com que foi recebido nesta cidade do augusto hospede.

Nesta cidade, naquella oscasião, a cada passo, se ha aquella frase ingleza: God save the King, que traduz o respeito, e estima que os subditos inglezes tributam ao seu monarcha.

Ninguem tambem se deve ter esquecido de que os jornaes appareciam repletos de discursos, brindes e tiradas diversas em inglez.

Pois, Sr. Presidente, era tal a germano-mania ou antes a anglo-phobia dos governantes de então, que nem este tão estrepitoso acontecimento lhes serviu de estimulo, de incentivo para porem cobro a tão extraordinaria inconsequencia. (Apoiados).

Aproveitando a presença do nobre Ministro da Guerra, tenho ensejo do pedir a S. Exa. que attenue tanto quanto possivel a grave lacuna da nossa instrucção secundaria, restaurando na Escola do Exercito o ensino obrigatorio da lingua ingleza, de forma que as gerações que actualmente a frequentam possam ainda munir-se dos indispensaveis conhecimentos d’esta lingua.

D’esta maneira serão collocados os officiaes em condições de poderem desempenhar bem as diversas commissões de serviço nas colonias, onde o manejo da lingua ingleza é de uma transcendente importancia, e de concorrerem em serviço com os da nação nossa alliada.

O nobre Ministro da Guerra, a quem todos os assumptos de instrucção militar merecem uma especial attenção, solicitude, e uma decidida predilecção, satisfazendo ao meu pedido, prestará um relevante serviço ao exercito e ao paiz. (Apoiados).

O Sr. Ministro da Guerra (Sebastião Telles): — Pedi a palavra unicamente para dizer, em resposta ao illustre Deputado Sr. Pereira Cardoso, que tomo em consideração as observações que S. Exa. fez com respeito ao ensino de inglez na Escola do Exercito.

A occasião é opportuna para se tratar d’este assunto, pois que se pensa em introduzir ali algumas modificações.

Sei que ellas dependem da commissão encarregada de as elaborar, e que brevemente serão remettidas para a Secretaria, do Ministerio da Guerra.

Tratando-se agora deste assumpto parece-me occasião opportuna para attender as considerações que o illustre Deputado acaba de formular.

Consultarei a commissão que se está occupando das alterações a introduzir no regime da Escola do Exercito, e depois darei conta a S. Exa. do que se houver feito.

(O orador não reviu).

O Sr. Emygdio da Silva: — Sr. Presidente: em abril, se bem me recordo, mandei para a mesa dois avisos previos dirigidos ao Sr. Ministro do Reino e uma nota pedindo varios documentos de que necessitava. São decorridos 4 mezes sem que até hoje tenha tido novas nem mandados desses papeis; ignoro se elles chegaram ao seu destino, se acaso se perderam no caminho, ou se foram para o cesto das cousas inuteis.

Fosse como fosse, Sr. Presidente, isso pouco importa, porque o que eu quero neste momento é frisar e accentuar bem o facto em si — de, ao fim de 4 mezes de ter sido feito um pedido de documentos por um Deputado da Nação, que ao mesmo tempo enviava, para a mesa dois avisos previos, nada, absolutamente nada, lhe tenha sido communicado a tal respeito. Sr. Presidente: este facto conjugado com outros perfeitamente analogos que se teem dado com collegas meus d’este lado da camara levam-me a concluir que o Governo não está disposto a vir aqui responder pelos seus actos nem tão pouco se resolve a mandar aos Deputados regeneradores, os documentos que pedimos e por que ameudadas vezes temos insistido. (Apoiados).

Bastantes collegas meus d’este lado da Camara teem verberado o Governo por tão abusivo procedimento, lavrando o seu protesto. (Apoiados).

Como S. Exas. lavro tambem o meu de um modo bem energico, porque entendo que não devemos consentir num ataque tão directo ás nossas prerogativas, tolhendo-nos o direito e o dever até que temos, como representantes da nação, de fiscalizar todos os actos do Governo, a fim de que se cumpram as leis e de que bem zelados sejam os interesses do paiz. (Apoiados).

Isto não pode continuar assim e é indispensavel que o Governo não se furte ás responsabilidades que lhe são pedidas pelos Deputados e no plenissimo e livre exercicio de um dos seus mais sagrados direitos. Assim o exigimos, as-