O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

(296)

No interior gira muito pouco numerario; e algum, que gira nas Terras mais proximas aos Portos, e onde ha mais Negocio, he tudo em Patacas Brasilicas, que valendo 960 somente alli ninguem ai quer receber para extrahir para outras partes, onde se perde muito, e porisso alli he o dinheiro commum: todo o mais dinheiro, soja de que Nação fôr, corre sem rebate, e em grande augmento as Patacas, e Onças Hespanholas.

A sua Agricultura, e Manufacturas achão-se em muito atrazo, por isso mesmo que tem sido pouco favorecidas. Apezar disso: tudo alli produz em muita abundancia, e pouco trabalho; o milho, o arroz, a canna de assucar, a mandioca, o feijão, a farinha de páo, o café, o assucar, etc. etc. etc.: o vinho he muito bom, e do mesmo modo a agua-ardente. O vinho em algumas Ilhas pode fazer-se duas vezes no anuo; e com e licito se faz na Brava. O de Santo Antão he o melhor de todas as Ilhas. Este genero pode dar-se em todas as Ilhas; mas infelizmente só o ha na Brava, S. Nicoláo, Santo Antão, e Fogo; se bem que em pouca quantidade, por isso mesmo que cia sua cultura se não faz caso. Em S. Thiago vi que a mesma videira dêo uvas quatro vezes no mesmo anuo, e uvas perfeitas e saborosas. A Urzella cria-se pelas fendas das rochas, e naquella parte em que os ventos batem com mais força. Não se semêa, não se planta, não se cultiva, só ha o trabalho de apanha-la, e nada mais. Os que se dedicão a este trabalho correm um grande risco; e poucas Ilhas ha em que por anno não morrão seis ou oito precipitados das Tochas abaixo; este risco soffrem para receber 40 réis por cada arratel, recebendo o Estado 500 mil cruzados triennalmente = ductis expensis = da quantidade que vai pura Inglaterra, e França. Dá Deos as nozes a quem não dêo os dentes; aos Portuguezes dêo a Urzella, e aos Inglezes e Francezes dêo o saberem prepara-la para as suas tinturarias, e tirar della maior proveito do que nós tirâmos. A que desgraça temos chegado!! Remediar os males acima dictos, agricultando os Terrenos, que ainda o não estão, ou fazer com que os que já estão agricultados por novas plantações e sementeiras produzão maiores vantagens só pode fazer a creação de um Inspector, a quem se entregue o cuidado da Lavoura e Manufacturas, o qual tenha a seu cargo mandar vir de fora do Paiz as plantas e sementes que nelle não ha; reparti-las pulos Lavradores, e vigiar sobre a sua cultura, visitando em todos annos as Ilhas para providenciar de mais perto o que fôr necessario, ficando obrigado a dar conta ao Governo da Provincia, e este ao de Portugal naquella Estação, que melhor convier = v. g. a uma Junta Promotora da Agricultura e Industria. Com esta e outras providencias os Inglezes de Gambia, e os Francezes do Senegal melhorárão um Paiz, que não he comparavel ao nosso em bondade de terreno.

Ha n'estas Ilhas Coqueiros de 70, e mais palmos, e Cibes quasi da mesma altura; ambos estes são excellentes para madeira, por isso mesmo que são rijos, e de uma longa duração. Não se conhece bicho que os corrompa, nem temporal que os prejudique. Prego que lhe entre não sabe mais; o mesmo succede a respeito do Espinho preto, arvore que cresce por alto, e que nas Ilhas tem muito uso, principalmente para fazer engenhos de moer cana.

Tambem ha algumas fructas da Europa, como são melancias, melões, marmelos, figos, uvas, optimas laranjas, optimas hortaliças; vi melhores repolhos do que na Europa. Vi maçãs, peras, cerejas, mas imperfeitas, e dissemelhantes no gosto. Ao Norte de Santo Antão he onde eu vi arbustos e fructos, quasi como os da Europa. Disserão-me que já aqui se creava trigo.

O annil, o tabaco, o sene, e outras plantas dão-se em copiosa abundancia, e sem trabalho. He pena, ver de rastos tantas plantações que podião ser de tanto proveito! He pena vêr enterrados debaixo da terra tantos mineraes excellentes! He pena ver em desprezo tantas riquezas! He pena que os Portuguezes tenhão deixado em abandono tantos Terrenos, que lhes podião trazer tantos e tão ricos productos! Não se pode ver sem lagrimas um tal desamparo!! Ah! Oxalá que os Portuguezes, ensinados pela experiencia do passado, saiba o providenciar o futuro ! Oxalá !!!

Um mal, e talvez dos que mais affligem e atrazão estas ilhas são os degradados, que para lá são transportados. Não se faz idéa da sua grandeza, nem se podem calcular os seus effeitos desastrosos. Nota-se nestas Ilhas milhares de homens deste genero; o Governo pode faze-los mudar de terra, mas nunca de costumes; e por isso he forçoso que o ladrão vá roubar na Africa, como roubava na Europa, e que todos fação o mesmo, que fazião d'antes; tudo em desvantagem das Ilhas, e prejuiso de seus habitadores. Ah! E que mal fizer ao estes povos para soffrerem a pena de um crime, que não comettêrão? São estes os homens, com que o Governo quer melhorar Colonias? Em Portugal não os poderão conter tendo cárceres, cadêas, calcetas, Relações, e hão de conter-se n'um Paiz onde nada disto ha? Se estas Ilhas são tão desgraçadas que devão soffrer o pezo de um crime, que não comettêrão, então faça-se-lhes menos pezado, obrigando os degradados, que para ellas forem mandados, a viver debaixo de certas Leis regulamentares, e da vigilancia de um Inspector, occupando-os em rotear os Terrenos, ainda incultos, e abrir os estradas que não ha; porque assim tirão-se dous proveitos, o 1.º he que ganhão o pão que comem; o 2.° he que não poderão (ao menos tão facilmente) fazer em Africa o que fazião em Portugal.

A Tropa de Linha, que ha nestas Ilhas, he em tudo irregular, principalmente antes do ex-Governador João da Malta Chapuzet, que lhe dêo uma melhor forma'. irregular lhe chamei, até mesmo porque tem quasi tantos Officiaes, como Soldados. Os Governadores, levados do interesse que percebem das Patentes, fize-rão Officiaes a torto e a direito, sem distincção, ou qualidade! Homens ha, que pela manhã me apparecião acarretando barro com trolhas, e de tarde vestidos com a farda de Capitães. Hoje guardando o gado, e fazendo o officio de Pastor, e amanhã representando do Officiaes Militares no Quartel General; quasi todos sem saber a que Corpos pertencem, nem o serviço , que corresponde á sua Patente. Elles querem esta graduação para se isentarem do serviço, a que estão sujeitas as Milicias; e os Governadores querem mesmo vender-lhes estas Patentes, porque percebem interesses não pequenos, sem lhes importar ornai, que daqui resulta, tanto a elles Officiaes, como ao resto da Sociedade. Ha dous Regimentos de Milicias, que