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duzidos a dinheiro, se lançava uma parte das oblatas trazidas ao Senhor, e a tribu de Levi reservava a esta classe de pobres uma parte dos rendimentos destinados á sustentação dos ministros do Sanctua-rio. Os gregos e os romanos tinham a maior consideração para o trabalho, e nós sabemos que as leis de Esparta e Lacedemonia desobrigavam de sustentar na velhice os filhos, a quem os pais nào tinham feito aprender nenhuma arte ou officio de que subsistissem, e nos templos havia cofres junto dos altares das falsas divindades, onde se recebiam os soccorros para sustento daquelles, a quem a doença ou a velhice reduzira á miséria.

O christianisrno teve na maior consideração o trabalho, e em ódio e desprezo a ociosidade. E como não recornmendaria elle o trabalho, se no começo do Génesis está escripla a lei do trabalho promulgada pelo Vivente dos Séculos, e mandada observar por todo o género humano. Comerás o pão com o suor do teu rosto = In sudore vultus tui vesceris pane.— Como não leria em aversão o christianisrno o homem e a mulher ociosos, se elle reconhece a ociosidade como mãi de todos os crimes, que inficionam as sociedades religiosas e políticas? Como! Se no Código sagrado do Evangelho se lê que o Divino legislador dos christãos subsistiu do trabalho desde a sua mocidade, e se elle troveja contra opergui-,Çoso, respice adformicam, piger^= manda-o aprender da formiga, que trabalha nas três estações doan-no, para fazer deposito, de que viva na invernosa estação, no tempo dos ventos, da chuva e da neve? Como a santa religião christã deixaria de aborrecer o ócio e pregar o trabalho, se utn dos mais distin-ctos apóstolos se gloriava de prover, á sua sustentação com o trabalho de suas mãos, e se uma personagem dislincla nos fastos da mesma religião, dizia aos grandes e ás testas coroadas, que elles eram como as pessoas do povo, obrigadas á lei do trabalho, e que, se assim não fora, seria em balde, que a natureza lhes haveria dado pernas e braços?

A igreja nascente, e estabelecida-em Jerusalém, Anliochia, lifeso , Corintho, e em Roma, prégon a lei do trabalho e estabeleceu depósitos onde se guardavam as oblatas dos fieis, que eram destinadas ao sustento das viuvas, órfãos desvalidos, dos pobres reduzidos á mizeria por velhice ou moléstia. A igreja fez'mais; mesquinha e austera em não multiplicar o numero dos Ministros, querendo só os necessários ás missões e ao culto, multiplicou o numero dos diáconos, para tractarem da sustentação destes pobres, e não era só dos que abraçavam ochris-tianismo, mas de todos, porque o christianistno abrange em si para obras de caridade e beneficência todos os desvalidos, sende como é eminentemente filantrópico e tolerante.

Mas este sublime pensamento de soccorrer a mísera humanidade, principalmente aquella que se reduzira á indigência depois de ter consumido e gasto seus bellos annos, suas forças no serviço do estado, em defesa da pátria, ou no exercício de qualquer arte, officio ou emprego honesto, a filosofia moral ã força de trabalhos e vigílias o aperfeiçoou, e o levantou á ahura que lhe pertencia, lembrando ás classes laboriosas que, mesmo no estado de miséria ou indigência, ellaa podiam dever a si mesmas a sua sustentação, se abstendo-se do vicio, sendo frugaes, cortassem cada dia do seu salário, ordenado, DU lu-VOL. 2.°—FEVEREIRO — 1845.

cro huuia pequena parte , e depositassem estas mi* galhas em logar seguro, e que, vencendo hum módico lucro, crescesse^ e lhes servisse nos dias da necessidade, no tempo da moléstia e da velhice. Nobre e sublime pensamento, que ensina ás classes laboriosas a moralidade, a fugir dos excessos da gula e da intemperança, com a mira em subsistir por si, quanto seja possível, sem ser pesado aos seus simi-Ihantes, nem ã sociedade, livrando-se de curvar-se nas praças publicas, nas ruas, n§s portas dos templos, diante dos seus similhantes snpplicando-lhes a esmolla. Este pensamento sublime aperfeiçoado enriqueceu a Europa no século passado com as caixas económicas, e o Governo portuguez, tendo tractado do seu estabelecimento em todo o reino com huma companhia respeitável, apresentou a esta Ca. mara o contracto e o projecto que está em discussão.

Eu entendo que deve approvar-sé o art. 5.° e o contracto a que elle se refere, e que o Governo, sem que se arrogue os direitos do invento, o que elle não pertende; calumnia, que, sem se querer, lhe foi assacada, vem á Camará para pedir a confirmação de buiu contracto, que estabelece e genera-lisa em Portugal este saudável e importante estabelecimento, transplantado de outras nações, que marcham adiante de nós no caminho magestoso da ci-vilisação e do progresso lento e prudente, o único que eu approvo, e que lenho por útil, conveniente e profícuo, em hum povo antigo, que procura chegar á perfeita civilisação, não por saltos sempre arriscados, mas caminhando lentamente como convém.

Ninguém combateu as caixas económicas. Nem um só Deputada nesta casa se levantou contra esta instituição, todos a querem, por que é eminen-gemente moral e civilisadora; mas aquelle lado op-pòe-se ao contracto, por lhe parecer monopólio, mas é porque não repararam que no projecto declarando-se que é permiltido este estabelecimento com approvação do Governo, desapparece toda a sombra de monopólio. Mas, Sr. Presidente, não se querem privilégios, porque àpparece uma companhia, que se offerece a estabelecer, sem elles, as caixas económicas. Mas os privilégios não são concedidos ás caixas, nem á companhia, porém sim aos que nellas depositam as suas economias; os privilégios são concedidos ás quotas depositadas, e sendo estas caixas utn chamamento ás classes laboriosas, um incentivo forte para fugirem do vicio, urn convite que necessariamente promove a aioralisação e reforma dos costumes, levando as classes laboriosas a cortarem uma parte da sua sustentação, para depositarem o seu valor, com o intuito nobre e moral de recorrerem a esse deposito nos dias da necessidade, se na» se concedessem privilégios, este chamamento, este convite, este incentivo, este estimulo, estes recursos em fim não seriam tão fortes e tão adequados para produzirem a decizão nestas classes de avançarem no caminho da civilisação e da moral, tão difficil de encetar-se depois de hábitos adquiridos em dotitiario.