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474 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Ha dez annos fallava eu nesta casa, e agora, me lembro que era quasi no mesmo mez e no mesmo dia de fevereiro, (v. exa. deve estar lembrado, porque tinha entro assento na camará) e dizia eu que era para desejar que as questões do ultramar fossem tratadas fôra do terreno apaixonado da politica quer estivesse no poder o nobre marquez de Sá da Bandeira, o sr. marquez de Loulé ou o sr. Fontes Pereira de Mello.

Viviam todos então e representavam os seus partidos.

E tanto entendo assim, que na sessão passada, propondo eu a nomeação de uma commissão para tratar de inquirir das necessidades das provincias ultramarinas, convidei um dos chefes da opposição e meu amigo, o sr. Luciano de Castro, para cooperar commigo, e tendo s. exa. acceitado o meu convite, pedi á camara para o nomear, e s. exa. fez parte d'aquella commissão trabalhando n'ella como costuma trabalhar em todos os negocios publicos.

Assim como entendo que as questões ultramarinas devem ser arredadas da discussão politica, assim tambem entendo que Portugal deve de uma vez para sempre dizer o que quer ácerca do ultramar. (Apoiados.)

Para dar uma prova do que não tenho paixão politica no que respeita às questões do ultramar começo respondendo ao sr. Elvino de Brito, por prestar a devida homenagem ao sr. visconde de S. Januario meu melhor e antigo amigo, de quem s. exa. fallou, declarando que eu tenho por aquelle cavalheiro toda a consideração e que admiro os seus meritos o reconheço os seus serviços, n'este ponto sou acompanhado por este lado da camara. (Apoiados.)

E tenho a convicção de que qualquer acto praticado por aquelle cavalheiro ha de ser inspirado no interesse publico.

Fallo assim porque conheço ha muito aquelle meu amigo e companheiro em Africa.

Fallou o illustre deputado das difficuldades que temos tido no ultramar; mas devo observar que, e temos tido dificuldades, tambem as temos superado, tambem temos tido grandes consolações, porque em quanto os inglezes têem dificuldades no Egypto e os franceses estão combatendo no Toukim, os allemães são na Africa recebidos a tiro, nós somos convidados pelos indigenas do Zaire a irmos lá occupal-o.

Nós somos uma nação pequena, e verdade, mas cumprimos honradamente os nossos compromissos em toda a parte, o emquanto os habitantes das nações grandes maltratam aquelles que conquistam, nós somos estimados, e estimados da maneira como o sr. Elvino de Brito perfeitamente sabe.

A camara sabe que os povos da India ainda hoje vão ajoelhar perante o tumulo de Affonso de Albuquerque. E porque? Porque Affonso de Albuquerque, levando á India o Evangelho, levou todas as virtudes que tinham os portuguezes n'aquella epocha. E bom que continuemos aquella honrada tradição. Eu prefiro elogiar a censurar, e nós temos muito que elogiar. E é triste ver censurar funccionarios que muitas vezes soffrem as inclemencias que todos sabem que soffrem aquelles que servem no ultramar, porque no ultramar soffre-se e trabalha-se. (Apoiados.)

Eu sei isto por experiencia.

E ácerca de nomeações feitas accusa-se o nobre ministro da marinha. Diz-se que s. exa. postergou as leis e offendeu a moralidade!

Pela amisade que tenho ao illustre deputado, pela grande consideração que tenho pelo seu talento, o pela admiração que tenho pelo seu trabalho, em virtude do qual s. exa. se tem elevado, eu não desejava ouvir-lhe essas palavras.
Quem é que não erra?

O sr. ministro da marinha póde errar, mas é um homem a todos os respeitos digno e incapaz do praticar immoralidades. (Muitos apoiados.)

Eu desejava vêr essas palavras arredadas d'este debate, d'esta questão do ultramar, questão que eu tambem desejava arredar da politica.

O sr. ministro da marinha tem uma lei, que é o decreto de 1 de dezembro de 1860, pela qual tem a escolher os funccionarios para o ultramar.

Emquanto ás qualidades dos funccionarios arguidos, direi, e posso fallar desassombradamente n'esta casa, porque não sou, nem quero ser, accionista de companhia ou director de bancos. Mas entendo que qualquer accionista ou director de banco póde bem cumprir os seus deveres de funccionario, e sem trahir a commissão confiada.

Eu desejo, nem quero, suspeitar do carater de pessoa alguma, e sem provas não gosto de ver accusar.

Quando houver algum motivo para qualquer auctoridade ser censurada, peça-se então ao sr. ministro da marinha a responsabilidade d'esses actos das suas auctoridades; mas emquanto não se apresentarem provas e se allegarem factos attentatorios das leis, não se venham aqui censurar homens que talvez estejam agora luctando com difficuldades. (Apoiados.)

Eu desejo muito fallar e ouvir fallar do ultramar; mas para que se faça com proveito é bom que não estejamos a fazer opposição acintosa e que empreguemos todos os meios para esse fim.

O illustre deputado, que é filho do uma das possessões mais importantes, sabe que o governo emprega todos os meios para fazer a felicidade d'aquella provincia.

Em verdade que de 1834 para cá temos todos os partidos d'esta terra feito em bem do ultramar o que as forças do paiz comportam. (Apoiados.)

E digamos o que é verdade. Tem as nossas provincias do ultramar melhorado e augmentado em melhoramentos e em civilisação.

Chegando a Cabo Verde, o que vemos?

A cidade do Mindello, na ilha de S. Vicente, cidade bonita e que não fica a dever nada em melhoramentos e em civilisação a qualquer cidade do reino. Logo a cidade da Praia nas mesmas, se não superiores, circumstancias.

Em seguida S. Thomé ondo os melhoramentos e adiantamentos se fazem sentir de anno para anno, e Loanda a nossa capital de Angola uma das primeiras cidades da Africa.

Temos, nação pequena, mas honrada, cumprido os nossos deveres e mostrado ao mundo que queremos e sabemos desempenhar-nos do nosso dever e da nossa missão civilisadora. Não façamos coro com estranhos e com inimigos, façamos, ao contrario, justiça ao nosso paiz.

Ha nações que têem mais força e mais dinheiro, mas não fazem mais do que nós. (Apoiados.)

Uma voz: - O que é preciso saber é se as leis vigoram ou não vigoram.

O Orador: - Eu já respondi que o decreto de 1 de dezembro de 1869 estava em vigor e tinha sido executado e cumprido.

Tem-se discutido ácerca dos escriptos e fallado das aspirações, sempre nobres e sempre elevadas do illustre marquez de Sá da Bandeira.

Tambem eu respeito e venero a memoria do nobre marquez do Sá da Bandeira, e todos a respeitam n'este paiz. Eu fui trazido para a vida publica pela mão d'aquelle