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478 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Ora como n'esse intento se hão de ferir necessariamente interesses, e crear attritos e resistencias que tudo será preciso vencer, entendo eu que o ministerio que emprehender tão util, como difficil empreza, precisa representar genuinamente uma parto mais ou menos numerosa do paiz, que o apoie com dedicação correspondente á confiança que lhe inspire, combatendo energicamente pelas suas idéas reformadoras no parlamento e na imprensa, e fazendo uma activa e persistente propaganda junto das classes menos interessadas directamente na politica, mas nem por isso as menos poderosas e influentes na organisação social. Por outra, não posso conceber um ministerio, que não represente um partido com idéas precisas e definidas em politica como em administração.

É por isso que a tal acalmação me repugna, prefiro acima de tudo um ministerio com homens do partido regenerador; mas acceito antes um ministerio progressista puro do que um ministerio do acalmação. (Muitos apoiados.)

O partido progressista tem valiosos elementos no paiz, e principios de governo, infelizmente nem sempre seguidos e respeitados na pratica. O partido regenerador tem o seu melhor programma no incontestavel progresso realisado desde 1851. Um ministerio saido de qualquer dos partidos é uma affirmação de principios e de theorias governativas. Um ministerio de acalmação, de politicos anodynos, não representaria nada! (Muitos apoiados.) Não quiz pois perder esta occasião para declarar que se tal ministerio vier serei contra elle. Quem sabe se depois a disciplina partidaria, não procuraria com os seus prejuizos annullar esta minha resolução. Assim queimo os meus navios.

Vou agora, o mais rapidamente que poder, responder ao discurso do sr. Elias Garcia, representante do partido republicano.

E se vou responder rapidamente, não é porque deixe de ter por s. exa. maior consideração. Mas desde que o sr. ministro do reino respondeu já às accusações mais vehementes por elle dirigidas ao governo, pouco me resta a mim fazer.

Sr. presidente, eu não discuto as origens do partido republicano.

Os partidos não nascem n'um momento dado, nem em virtude de um facto isolado por mais importante que elle seja. Vem do lento caminhar das idéas, do progressivo e evolutivo desenvolvimento dos organismos sociaes. Existem primeiro n'um estado que bem podo chamar-se latente. Influencias de ordem muito complexa lhe dão depois calor e vida. Com relação ao partido republicano portugues o seu incremento vem, no meu parecer, de dois factores bem diversos.

É devido em parte aos erros dos partidos monarchicoa; e não admira, que uns e outros tenham erros, porque só não erra quem não acerta, ou, exprimindo melhor o meu pensamento, todos temos contradicções e erros desde que pomos em acção a nossa vontade e intelligencia. Só aquelles que nada fazem é que nunca erraram. (Apoiados.- Vozes - Muito bem.)

Mas alem d'esse factor outro mais importante vejo eu, e esse estranho á acção da nossa politica. É a supremacia intellectual da França sobre todos os povos da raça latina. São as irradiações da republica franceza, que mal avaliada, e mal conhecida, se começam a fazer sentir vivamente entre nós.

E agora não vou fazer mais rhetorica sobre o assumpto; digo, que é principalmente a esse facto que eu attribuo o crescer do partido republicano.
Mas eu já affirmei que não ia agora discutir se as origens de tal partido são legitimas ou illegitimas. Outro é o meu proposito.

Sou convictamente monarchico, já o disse n'esta casa. Disse tambem que nunca ninguem me verá ao lado d'aquelles que representam as idéas do partido republicano, porque nunca serei um renegado.

Entendo que fica mal abandonar um partido para se filiar n'outro, dentro das mesmas instituições, que fica mal, por exemplo, a um progressista passar para o partido regenerador, ou a um regenerador passar para o partido progressista; mas passar do partido monarchico para o partido republicano, ou vice-versa, é da a maior prova de septicismo politico e de falta de crenças, e eu iria até dizer de caracter e dignidade pessoal. (Apoiados.)

Feita esta, declaração, que não póde deixar suspeitas sobro os meus sentimentos, relativamente a esta ordem de cousas, chamada instituições, posso agora dizer que não tenho para mim como um mau svmptonia o apparecimento do partido republicano dentro de um estado livre qualquer.

Para mim os partidos extremos têem uma grande missão a cumprir, a de serem os impulsores das idéas e medidas mais avançadas e mais liberaes, trazendo á tela das discussões politicas as grandes reformas em favor das classes inferiores o desprotegidas, questões que tanto hão affligido o nosso seculo.

Essas idéas, essas reformas, quando são apresentadas levantam naturalmente contra si uma opposição violenta, movida pelos interesses que vão atacar. Mas todo aquelle que lança uma idéa na discussão e chama a attenção dos homens que dirigem a politica para um mal social, presta um serviço incontestavel. Póde afoitamente dizer-se que até hoje ainda se não deixou de tirar proveito da discussão de qualquer idéa social, mesmo de uma utopia, o não raro succede que de um momento para o outro nós vemos entrar na legislação de um paiz principios que ainda hontem eram acoimados de subversivos. (Apoiados.)

Mas o que terá feito até hoje o partido republicano pela politica portugueza? Absolutamente nada. (Apoiados.)

O mau procedimento da partidos monarchicos, aggredindo-se violentamente, tem sido por elle imitado e exagerado, fazendo a critica sempre apaixonada, violenta e muitas vezes irritante dos actos praticados por aquelles partidos. (Apoiados.)

Qual é a idéa que o partido republicano tem lançado nos debates da politica portugueza? Quaes são os projectos com caracter manifestamente social e util que têem sido apresentados nesta camara pelo;; deputados republicanos?

V. exa. sabe que os deputados republicanos têem querido colher para si os laureia de defensores das classes menos protegidas pela natureza e pelas condições sociaes; e o que têem feito em favor dessas classes? Respondem os annaes parlamentares.

Será porque no nosso paiz a questão operaria não toma o caracter violento que se vê na Allemanha e na França, nem ha greves assustadoras como na Inglaterra? Pois não ha n'este paiz pobres, não ha, operarios, nem trabalhadores?

O que s. exas. têem feito por essas classes demonstra que no seu espirito não ha senão abstracções. (Apoiados.)

O sr. Consiglieri Pedroso, quando entrou n'esta casa, apresentou um projecto de lei para a abolição do jura» mento político, e um projecto idêntico tinha sido já apresentado pelo sr. Manuel de Arriaga. Por aqui ficou toda a iniciativa dos illustres parlamentares. Foi tudo o que elles julgaram dever ao povo que tanto adoram, aos humildes que tanto exaltam! (Muitos apoiados.) O juramento politico, eis o grande cancro da sociedade portugueza! (Riso.)

Que um Bradlaugh, um excentrico, faça d'isso a sua principal preoccupação, admitte-se. Mas que os apostolos de uma nova religião social, os defensores dos pobres e dos opprimidos, não tenham em quatro annos produzido cousa melhor, chega a ser pungente! (Muitos apoiados.)

Eis, sr. presidente, tudo o que sabemos do positivo ácerca do criterio politico do partido republicano, pelas suas manifestações no parlamento. E digam-mo agora, se quem pensar n'estes factos a sangue frio póde transigir com tal