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SESSÃO DE 21 DE FEVEREIRO DE 1885 479

partido! O que não seria se amanha se estabelecesse a republica em Portugal!

Ao menos a monarchia tem por si a tradição de sete seculos, e todas as vantagens que deste único facto se derivam historicamente.

O partido republicano não tem programma e nem eu lho pediria; mas o que eu queria era que nos discursos, nos artigos dos jornaes e nas conferencias, em logar de fazerem única e exclusivamente propaganda eleitoral, fizessem tambem propaganda sobre assumptos que interessassem e illustrassem praticamente o povo.

Não lhes peço programmas, peço-lhes idéas, mas uteis, boas e sãs, peço-lhes ainda que tenham mais amor á patria, que se não illudam, illudindo os outros, e creando em volta de todos uma atmosphera de odio e de desconfiança.

Os illustres deputados republicanos são muito novos como deputados. O sr. Elias Garcia veiu á camara em 1879 e o sr. Consiglieri Pedroso só agora teve como eu a honra de entrar no parlamento. E no emtanto é já fácil encontrar contradicções na sua vida parlamentar, ou por outra responder a um deputado republicano com outro do mesmo partido.

Na sessão em que faltou o sr. Consiglieri Pedroso, accusou s. exa. os membros desta camara e os membros da camara alta porque em 1881 tendo os jornaes dado noticia de que Sua Magestade El-Rei tinha escripto uma carta a Sua Magestade a Rainha Victoria, a propósito do tratado de Lourenço Marques, não houve ninguem que pedisse explicações ao governo sobre um facto de tal ordem. Pois então não estavam aqui o sr. Arriaga e o sr. Elias Garcia? Porque se não incumbiram elles dessa missão? Porque não pediram essas contas ao governo? (Apoiados.)

Isto serve só para mostrar mais uma vez, que até nesta metaphysica parlamentar, permitta-se-me a expressão, que consiste em buscar contradições entre os actos do mesmo partido, o republicano presta tambem já armas aos seus adversários.

Tem já contradições na sua curta vida, e quem as não tem?

Dizia o marechal de Turenne, que só não fora batido, quem nunca fizera a guerra; eu digo o mesmo; só não tem contradicções, quem nunca fez nada de bom.

Fallou o sr. Elias Garcia das arruaças de 1881, repetindo o que já ouvíramos a alguns deputados progressistas.

Teima igualmente em affirmar que o partido regenerador, ou antes o ministerio regenerador, teve a sua origem nas arruaças, não querendo lembrar-se de que o governo progressista caiu em face de uma votação na camara dos pares. Essa votação produzio uma crise no seio do gabinete, que não podendo constitucionalmente ser resolvida, provocou a queda do ministerio e a ascensão dos regeneradores ao poder.

Não vale a pena insistir sobre este ponto. Os factos são por demais sabidos, e não ha rhetorica que os desnature. Mas se nos querem accusar de fazer arruaças, eu declaro com toda a franqueza própria da minha idade, e da obrigação em que me julgo de dizer toda a verdade ao parlamento, que os movimentos populares na rua podem em muitos casos ser legitimos, e dignos do apoio dos partidos mais serios.

Quando um governo se torna incompativel com a opinião publica e tem em ambas as casas do parlamento maiorias facciosas, é aos meetings e grandes assembléas populares que se deve ir buscar o remédio para tão grande mal. É na rua e nas praças publicas que se têem representado as scenas mais culminantes do grande drama social deste seculo.

Mas, proseguindo na minha ordem de idéas, direi que o partido progressista não nos póde accusar da agitação popular de 1881. porque tem na sua historia as arruaças de 1882.

Lembro-me bem, porque já estava nessa occasião em Lisboa, que, ao descutir-se no parlamento a celebre questão da concessão de um subsidio á companhia constructora do caminho de ferro de Salamanca á fronteira portuguesa se organisaram arruaças em Lisboa e eu que era magistrado do ministerio publico numa das varas de Lisboa, tive que intervir por causa dos ferimentos praticados em dois membros da commissão que por esse tempo veio do Porto agradecer ao governo a sua attitude nessa questão. E eu não posso neste momento dar á camara um testemunho mais lei e mais instruido da verdade dos factos que então se passaram, do que o sr. Correia de Barros que vejo presente e a quem muito considero o qual foi apedrejado, e soffreu grandes injurias dos arruaceiros. (Muitos apoiados.)

O sr. Mariano de Carvalho: - Mas o que v. exa. não prova, é que foi o partido progressista quem mandou atirar essas pedradas.

O Orador: - Foi talvez o governo contra quem essa agitação era dirigida, e não os progressistas a quem ella aproveitava. (Muitos apoiados.)

(Grande susurro, não se percebendo o orador na mesa dos tachygraphos.)

O Orador (dirigindo-se ao sr. Mariano de Carvalho): - O que ninguém póde negar é que as pedradas foram atiradas á commissão que vinha do Porto agradecer ao governo os esforços por elle empregados em favor de um melhoramento, de que essa cidade fazia então a sua questão capital. (Apoiados.) (Interrupção.)

O sr. Presidente: - Peço ao orador que se dirija para a mesa.

O Orador: - V. exa. sabe muito bem que em matéria criminal os indícios bastam muitas vezes para uma condemnação justa, e eu, nos tribunaes judiciaes, de onde ainda ha pouco vim, assisti a mais duma, tanto pelo jury como pelos juizes togados...

O sr. Mariano de Carvalho: - V. exa. dá-me licença...

O Orador: - Não lh'a posso dar, porque tambem o sr. presidente não me permitte travar dialogo com v. exa. (Riso.- Apoiados.)

(Nova interrupção do sr. Mariano de Carvalho.) O que eu vejo é que esta questão das pedradas é uma das feridas que mais afflige o partido progressista. (Apoiados.)

(Susurro.)

(Interrupção do sr. Mariano de Carvalho.) - O sr. Mariano de Carvalho engana-se, se suppõe fazer-me abandonar um assumpto quando eu entenda conveniente tratar o, assim como os membros da opposição se enganam julgando que a maioria está tibia em volta do governo. (Muitos apoiados.)

O sr. Elvino de Brito: - Mas corta a palavra aos oradores progressistas que querem dizer a verdade.

(Novo susurro, tocando o sr. presidente a campainha, pedindo ordem.}

O Orador: - Sr. presidente, eu li ainda não ha muito em Timon que o melhor critério para avaliar do effeito de um discurso político, era o grau de irritação que elle produzia nos adversarios.

Se eu quizesse, pois, applicar esse criterio ao meu discurso, e vendo a agitação que reina neste lado da camara, deveria concluir que estou fallando muito bem! (Riso.- Apoiados.)

E tempo, porém, de entrar na parte mais difficil do meu discurso, que é a resposta ao sr. Barros Gomes, cavalheiro por quem tenho a mais alta consideração, não só pelos seus elevados conhecimentos, como pelo seu honrado caracter, e aprimorada educação, e a quem tive a ventura de inspirar sympathia, já manifestada por mais de uma prova de estima.