6 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
nos palacios ou nas choupanas, em todas as obras, das mais simples ás mais complicadas, lá se encontra sempre a madeira como auxilio ou como accessorio importante. é ella companheira constante do homem a quem presta serviços os mais relevantes.
Na Inglaterra, por exemplo, a sua importação é de 13 milhões de metros cubicos, sendo 3 milhões para fabrico do papel.
O seu consumo augmenta sempre. De 2 milhões e meio de toneladas de papel fabricado, milhão e meio foram feitos com pasta cellulorica, o que representa um consumo de 10 milhões de metros cubicos de madeira.
É longo mas interessante o estudo das mil applicações da madeira, e pensando ainda que a massa cellulorica pela compressão e professos chimicos pode tomar toda a sorte de propriedades, mesmo a incombustibilidade, facil é ver que tudo com ella se pode fazer, sendo a unica difficuldade, por emquanto, a mão de obra.
É para coroar estas vantagens incontestaveis, vieram os primorosos trabalhos de Chardonnet e Vivier, conseguindo no laboratorio fazer soffrer a massa cellulorica reacções semelhantes ás que se dão no estomago e glandulas do bicho de seda, e obtendo assim a seda artificial.
A arborização leva porém muito tempo, e nós precisamos remedios para já.
Parecia-me pois conveniente abrir nas encostas, com o fim de moderar a impetuosidade das aguas, e evitando assim os rasgões que vão alvercar os campos, valas de protecção, como se faz para evitar as torrentes nos Alpes.
Aconselha-se para isso o emprego de dragas, como se está fazendo no Guadalquivir, com o fim de abrir no leito do rio um canal por onde a circulação dos barcos se pudesse fazer no verão.
Entre as obras urgentes a executar encontram-se os dois diques que citei.
O dique da Senhora das Dores, pela sua posição, soffre na testa escavações profundas e choques violentos devidos ás correntes; de forma que parte do seu soleiramento se encontra já em más condições.
As ultimas cheias produziram-lhe alguns estragos, que reparados a tempo nada são e pouco dinheiro custam, mas que, abandonados, são o inicio de ruinas graves não só para o proprio dique, mas para os campos, o que é peor, pois toda a Camara sabe os desastres e as perdas colossaes que teem resultado, quando teem rebentado obras em identicas circumstancias; toda a Camara sabe o que succedeu com o dique dos Vinte em 1895.
Tive já a honra de apresentar a S. Exa. o Ministro das Obras Publicas uma representação assignada pela Camara Municipal da Gollegã e pelos 40 maiores contribuintes, pedindo reparações urgentes no dique dos Vinte, que se encontra, num estado deploravel, e mesmo perigoso, devido á enorme cheia de 1895 e seguintes.
Um novo officio tenho presente em que a Camara renova esse pedido.
Entre os pedidos justos, este occupa o primeiro logar.
Desde o grande rombo de 1895 começaram as reparações, mas até hoje pouco ou nada se tem feito.
Tem havido reparações é certo, mas reparações, que mais parecem brinquedos de criança do que trabalhos onde toda a attenção e todo o cuidado é pouco.
Não porque o pessoal, que dirige essas obras, não seja o mais habil e competente. É o decerto.
Mas que pode a sciencia, a boa vontade, e o desejo de ser util, se para essas reparações se não dá o que os orçamentos indicam?
O orçamento dos estragos das cheias de 30 de junho de 1897, approvado por officio de 30 de janeiro de 1898, foi de 5:800$000 réis, mas só foi dado 1:000$000 réis.
O dos estragos de 1898, fui orçado em 311$000 réis, e o de 1900 em 2:680$000 réis, mas d'esses nada se deu.
Ora assim os estragos continuam de dia para dia, e o que se faz hoje com 6:000$000 réis, talvez com uma nova cheia custe dezenas d'elles.
Comtudo o peor não é ainda o dique; são os campos.
Pois o estoque da agua que passa por este rombo vae rasgando-os em extensões enormes, cavando, destruindo terrenos que davam optimo trigo; cobrindo por fim tudo de areias. E o que era outr'ora terreno de optimas culturas, são hoje areias estereis, que progridem de anno para anno, causando prejuizos, não de dezenas de contos, mas de muitas e muitas centenas. (Apoiados).
São ainda as communicações da Chamusca e da Gollegã interrompidas, pois não ha outro meio de communicação, durante o inverno, senão esse dique.
São finalmente as victimas que essa povoação paga todos os annos ao Tejo, porque se é obrigado a ir á comarca, sempre que para isso se intimado. E essas diga a Camara com que dinheiro se pagam.
E pedindo desculpa á Camara do tempo que lhe tomei, concluo, esperando que o Governo providenceie energica e urgentemente no sentido das minhas reclamações, que são as de todos os habitantes do circulo que tenho a honra de representar, fiando-me para isso, não na auctoridade da minha palavra, que é nulla, mas na justiça das minhas reclamações.
Vozes: - Muito bem, muito bem.
(O orador foi muito cumprimentado).
O Sr. Presidente: - Vae passar-se á ordem do dia.
Os Srs. Deputados que pediram a palavra e tiverem papeis a mandar para a mesa podem fazê-lo.
O Sr. Rodrigues Nogueira: - Sr. Presidente: peço a V. Exa. me diga se já chegavam os documentos que pedi pelo Ministerio das Obras Publicas.
O Sr. Presidente: - Ainda não chegaram.
O Sr. Queiroz Ribeiro: - Peço a V. Exa. me diga se já estão na mesa os documentos que pedi pelos Ministerios das Obras Publicas e da Fazenda.
O Sr. Presidente: - Já instei duas vezes por elles, mas ainda não chegaram.
O Sr. Queiroz Ribeiro: - Peço a V. Exa. que insista de novo por elles, e agradeço lh'o muito gratamente.
O Sr. Alexandre Cabral: - Mando para a mesa uma representação da Liga das Artes Graphicas da cidade do Porto, e peço a V. Exa. que se digne consultar a Camara sobre se consente a sua publicação no Diario do Governo.
Foi auctorizada a publicação.
( Vae por extracto no fim da sessão).
O Sr. João de Mello Vasconcellos: - Mando para a mesa o parecer da commissão de guerra acêrca da renovação de iniciativa do projecto de lei n.° 14-C, de 1899, que tem por fim contar, para os effeitos da aposentação, aos presbyteros Antonio Coelho Ferreira Carreira e Antonio José Morão o tempo que serviram como professores de ensino primario.
Foi a imprimir.
O Sr. Frederico Ramirez: - Mando para a mesa o seguinte
Requerimento
Requeiro com a maior urgencia me sejam enviados pelo Ministerio da Marinha os documentos seguintes:
1.° Nota do rendimento das armações de sardinha "Barra da Fuzeta" e "Armona" desde maio de 1900 e em igual periodo de 1901;
2.° Rendimento da armação "Vergões", nos meses de julho e agosto de 1901;
3 ° Rendimento da armação de atum " Bias" na temporada de direito e na de revés, separadamente, de 1901;
4.° Se o concessionario da armação de sardinhas "Barra da Fuzeta" mantem ou já abandonou o local;
5.° Qual o rendimento da armação de "Amena", desde agosto de 1901 a fevereiro de 1902;