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336-F DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

los propriso documentos que os heroes mandam para a metropole, para se enaltecerem, se vê o que são esses falsos heroes esses embusteiros. Appareceu publicado na folha official o relatorio do governador geral da India referente às oporeções militares n'aquellas colonias. Quer a camara ver o que ahi se diz:

(Lendo.)

"No dia 28 um destacamento commandado polo capitão Rosado destruiu as aldeias de Zeornem e Delem, e um outro commandado pelo tenente Sena destruiu Corqui.

"No dia 29 foram destruidas as aldeias de Pally e Nanelly por um destacamento commandado pelo capitão Albuquerque.

"A fuga dos rebeldes do forte de Nanuz fez evacuar das aldeias os que lhe eram afeiçoados, notando-se á chegada das nossas tropas às povoações o abandono por completo d'ellas, por isso que as povoações que lhe eram adversas, já se haviam refugiado no territorio britannico.

"No dia 30 um destacamento commandado pelo major Benjamim Pinto destruiu as aldeias de Sauvorchem, Golleli e Padelly, e um outro commandado pelo tenente José de Mello destruiu as povoações Hehpa-Cuido, Gaavem, Amosem, Sirçorem e Siramguhim."

Então se não ha ninguem, que pelejas são estas, que recontros são estes que fazem heroes?

(Continúa lendo.)

"No dia 7 de dezembro um destacamento commandado pelo capitão Rosado destruiu as aldeias de Vinquini e Maloli.

"No dia 3 foram destruidas as aldeias de Curchim, Sanvordem e Caramboli-Besuenio por um destacamento commandado pelo tenente José de Mello.

"No dia 6 saiu para Tanem um destacamento commandado pelo capitão Rosado, recolhendo a Nanuz no dia immediato, depois do destruir as aldeias de Ligonem, Helopa-Bedueneo, Chorondem, Zeorem-Cuido, Zorem-Boeneneo, Galanti, Campordem e Latorim."

Eu não sei quantas são, não quiz contar, mas para que a camara não imagine que são poucas as aldeias arrasadas e a campanha foi sem valor, continuo lendo.

(Continua lendo.)

Eu não sei se a pronuncia d'estas palavras é assim. Não conheço estes nomes, nunca estudei estes assumptos nem nunca os estudarei.

(Continúa lendo.)

E continua este documento, esta exposição que não sei que revela, porque nem habilidade houve para mandar ao governo um documento que não o envergonhe e que não mostre onde está a malvadez de ir arrasar aldeias de gente inerme. Pois não têem os ranes rasão de queixa para se insurgirem contra um governo que quer ter o prestigio de civilisar e colonisar, e que lhes ataca e arrasa todas as aldeias!

Tudo anarchismo! E nós que votámos ainda o outro dia uma lei contra os anarchistas!

Irrisoria, extraordinaria coincidencia! Não é anarchia isto?! Não é luctar contra a existencia da ordem social d'aquella gente?! Não é arrancar-lhe os bens, saqueal-os, um acto de malvadez?! Que cumulo de heroicidade!

(Continua lendo.)

"N'esse mesmo dia se destruiu a aldeia de Derodem.

Foi a marcha effectuada a Vaiguini, de modo a honrar o exercito portuguez."

Exercito portuguez! Estas palavras merecem-me tanto respeito que eu devo fallar sobre ellas.

Exercito brioso, sem duvida! Soldados valorosos, sem duvida, mas precisam de ser dirigidos. É preciso que não só sirvam do nome do exercito portuguez, para se vexar e esbandalhar o prestigio das quinas, o nome de uma nação gloriosa e as tradições de um povo de sentimentos nobres, que pela sua unidade e pelo seu trabalho tanto póde fazer, tão bello futuro tem diante de si, neste tempo
em que vivemos de mesquinherias, vindo até tirar o prestigio áquelles que o devem ter no brioso exercito portuguez.

Lembro-mo agora de uma phrase que ouvi a um brioso militar cujo nome tenho de calar. Eu estava calado nessa occasiã0 ouvindo fallar das questões da India, porque não queria que sobre mira lançassem a suspeição de que sustentava a tal inventada politica dos Costas.

Agora sim; agora, para defender meu pae, fallo aqui o fallarei em toda a parte. É possível que algumas almas modernas me lancem em rosto o tomar eu tanto calor na defeza de meu pae, mas eu envaideço-me por isso.

Mas, dizia aquelle brioso militar: "Eu não fui á Africa; mas se tivesse a dita de ter praticado uma acção heróica e contribuido com o esforço do meu braço para levantar o prestigio do nome portuguez, grande satisfação não seria a minha em pôr ao peito uma medalha, como que a testemunhar o meu feito valoroso. Trazer, porém, uma medalha que póde dar logar a uma suspeição, expor-me ao ridículo, dizendo que sou um heroe da campanha militar da India, quasi que preferia não ir á Africa, para, ao mesmo tempo que tinha a satisfação, a gloria, de ter praticado um feito heroico, não merecer o escarneo da população; porque o povo comprehende bem que se aquella medalha póde valer muito, póde tambem ser um escarneo".

Mas, continuemos.

(Leu.)

Até se é heroe em documentos officiaes d'esta ordem.

Eu tambem sou funccionario, tambem tenho escripto relatorios e enviado ao governo peças officiaes. Mas dizer o que ha pouco ouviu ler a camara, isto é, que se levava artilheria aos mais altos píncaros dos Grattes, é mangar com o governo.

Estou cansado. Se o assumpto fosse alegre, jovial e me fizesse entrar o sol na alma, fallaria trinta horas, se fosse necessário. Mas não merece a minha sympathia matéria tão ingrata, e devo pôr pedra sobro ella. Venho pedir justiça.
Eu não venho pedir um favor, venho effectivamente exigir que se mo faça justiça, apresentando documentos de ordem particular, como são cartas e telegrammas de meu pae e de minha familia, com todas as informações, para provar que houve uma perseguição torpissima contra um velho de setenta e cinco annos, que bem merecia da pátria, um honrado e leal servidor.

Portanto, venho cumprir um dever sagrado, venho exigir do governo uma reparação terminante e immediata a este aggravo profundíssimo que me foi lançado; exijo que me dêem essa reparação como deputado da nação; nSo fallo agora como filho, sendo a victima um funccionario do estado, que lealmente o serviu.

Venho defender um direito que me assiste, e exijo a demissão immediata do governador geral da India, em nome dos sentimentos generosos, dos verdadeiros sentimentos do povo e da nação. E em nome do paiz não paro aqui, exijo mais alguma cousa. Eu sei o que peço.

Essa auctoridade arcou com o governo, com a entidade que nos dirige e nos governa na metropole!

Não desejava referir-me a esse ponto para que se não dissesse que estava a fazer política numa questão tão sagrada como esta. Mas tendo o governador geral da India procedido de um modo tão extraordinario, incendiando propriedades e aldeias, peço mais alguma cousa: exijo a demissão immediata do governador geral da India, e que, em. nome da nação, seja submettido a um conselho de guerra.
Faço esta exigencia ao governo de Portugal. Não é agora o filho que mostra os seus aggravos e que vem entornar aqui o seu coração, India estalado todas as cordas, as mais sensíveis: é o deputado da nação que vem ao seio da representação nacional, e em nome do decoro do paiz, pe-