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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

economias fazem-se nas operações do thesouro. Essas é que se contam por centenares e milhares de contos de réis, e não as que cerceiem os ordenados de tres ou quatro empregados.» (Apoiados.)

O governo actual não pede ser accusado de não ter aproveitado as circumstancias prosperas nas operações do thesouro.

Os illustres deputados, ainda ha tres annos, quando se tratava da consolidação da divida fluctuante, instavam commigo para que eu trouxesse uma proposta de lei para o governo ser auctorisado a consolidar a divida fluctuante em condições mais largas do que as da lei de 13 de março de 1858; e eu disse-lhes que não trazia, porque não o julgava necessario, e esperava fazer aquella operação dentro dos limites da lei.

O sr. Mariano de Carvalho: — Era outra a questão.

O Orador: — Era tambem outra, mas era tambem essa uma das questões.

Eu disse que os governos passados tinham abusado d'aquella lei, e sabem o que me respondiam? Que se se tinha abusado da lei era em virtude da suprema lei da necessidade.

O illustre deputado acabou de dizer que a França, depois dos ultimos sacrificios que fez em consequencia da ultima guerra, está em circumstancias excepcionaes relativamente á sua divida, mas que nós pouca vantagem lhe levámos n'este particular.

Eu perguntarei se a França poderia tirar-se tão depressa do estado em que se encontrou depois da guerra, se, durante longos annos, a administração de tres governos, o da restauração, o de Luiz Filippe e o do imperio não tivesse empregado sommas immensas no melhoramento das suas condições.

A França resistiu, e o que lho deu forças para isso foi o desenvolvimento dos recursos do paiz.

Não desejo por agora cansar mais a attenção da camara.

Creio que haverá accordo em que a proposta mandada para a mesa pelo illustre deputado seja enviada á commissão, e por isso, quando vier o respectivo parecer, então discutiremos esse assumpto.

Discurso do sr. deputado Pinheiro Chagas, pronunciado na sessão de 16 de fevereiro, que devia ler se a pag. 398, col. 2.ª d'este Diario

O sr. Pinheiro Chagas: — Vejo-me obrigado a começar por um assumpto que não tencionava discutir, visto que a interrupção do sr. Thomás Ribeiro veiu levantar uma questão que me parece utilissimo que se discuta n'esta camara.

Se fosse seguida a doutrina do sr. Thomás Ribeiro, se por patriotismo occultassemos ao paiz a verdade que elle deve saber, esse patriotismo poderia conduzir-nos ás mesmas condições que conduziram a França a Sédan, como muito bem disse o sr. Mariano de Carvalho.

O sr. Thomás Ribeiro, interrompendo o orador, que me precedeu, fallou como poderia fallar Rouher na assembléa franceza.

O sr. Thomás Ribeiro attribuiu os desastres da França aquelles que combatiam, no segundo imperio, as illusões com que muitos pretendiam embalar esse paiz; é forçoso portanto que se lhe diga, que onde estava o patriotismo não era nos homens que illudiam a França e que a conduziram a Sédan; era no coronel Sttofel, que dizia a verdade ao seu governo, que lhe dizia que não estava capaz de se medir com a Prussia, porque esta estava armada convenientemente e tinha um exercito solido e serio. (Muitos apoiados.)

Quem dizia a verdade á França era Thiers, e foi Thiers quem a arrastou á ruina, ou foi Thiers quem a salvou dos ultimos desastres? (Apoiados. — Vozes: — Muito bem.)

Os que a illudiram foram os que a levaram a Sédan; aquelles que diziam a verdade ao seu paiz, aquelles que lhe diziam que se enganava quando se suppunha forte para entrar na luta, foram esses os que no momento da catastrophe levantaram a bandeira franceza caída na lama, e se não conseguiram desfralda la ao vento dos triumphos, souberam dar-lhe horas de gloria, de lustre e de esplendor. (Apoiados. — Vozes: — Muito bem.)

Esta questão era completamente incidental; não devia trazer-se para aqui uma questão que melhor se levantaria no parlamento francez; mas desde que ali se foi buscar o exemplo, para duvidar do nosso patriotismo, era indispensavel que invocássemos tambem os exemplos da historia franceza para provarmos o contrario (apoiados), e defender-nos das accusações injustíssimas que nos são feitas pelo sr. Thomás Ribeiro, era necessario dizer-lhe que nos honramos como patriotas, que nos honramos como cidadãos, seguindo, não os exemplos de Leboeuf, mas os exemplos de Thiers.

O sr. Marçal Pacheco: — Deixem fallar Thiers. (Apoiados.)

O sr. Mariano de Carvalho: — Peço ao sr. presidente que tenha a bondade de chamar o sr. deputado á ordem, visto que não se permittem aqui allusões pessoaes. (Muitos apoiados.)

Vozes: — Ordem, ordem.

(Interrupção do sr. Marçal Pacheco, que se não percebeu.)

O sr. Mariano de Carvalho: — O sr. Thomás Ribeiro que se defenda; V. ex.ª não é defensor d'elle.

O sr. Marçal Pacheco: — Se eu não sou Thomás Ribeiro, o illustre deputado tambem não é Pinheiro Chagas. (Apoiados.)

Vozes: — Ordem, ordem.

O sr. Presidente (tocando a campainha): — Peço ordem.

Convido os srs. deputados a tomarem os seus logares. (Pausa.)

O Orador: — Lamento profundamente que as minhas palavras levantassem este tumulto, e que o sr. Marçal Pacheco se lembrasse de suppor que eu pretendo comparar-me ao illustre estadista francez; não me comparo a elle, mas os mais humildes têem direito de ser tão patriotas como os mais illustres e os mais nobres. (Apoiados. — Vozes: — Muito bem.)

Se o sr. Thiers em França teve a gloria inacessível de poder salvar o seu paiz, outros homens houve, humildes e ignorados, que, se o não poderam coadjuvar com o seu talento, o coadjuvaram com a sua dedicação patriotica, o auxiliaram com os seus esforços obscuros, mas não menos santos, porque não eram menos leaes. (Muitos apoiados. — Vozes: — Muito bem.)

Eu aqui sou um dos humildes, dos desconhecidos, mas permitta-me s. ex.ª que, sem me comparar com Thiers, tenha tambem o direito de dizer, como elle disse á França, a verdade ao meu paiz. (Muitos apoiados,)

O sr. Julio de Vilhena: — Está o inimigo na fronteira.

O Orador: — Pois se não está o inimigo na fronteira, que pressas são estas de gastar em couraçados o dinheiro que nos é necessario para tanto trabalho civilisador. (Apoiados.)

Uma voz: — Preparemo-nos com antecedencia.

O Orador: — Pois comecemos pelo que é util, e não pelo pimpão, e aqui appello para o sr. Carlos Testa, para a sua consciencia de intelligente e digno official da armada, para elle que disse ha pouco, que o pimpão não serve para defeza do porto de Lisboa.

S. ex.ª entende que o pimpão serve para pôr fóra da barra navios que, entrados amigavelmente, se mostrem aqui hostis; quer dizer, s. ex.ª entende que este pimpão em que se não gasta menos de 500:000$000 réis, serve unicamente para áquelle excepcionalissimo caso, em que

Sessão de 22 de fevereiro