O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

540 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

mão, a que na execução não correspondiam os factos; esquecendo-se ao que, tendo tomado o compromisso do levar o couraçado á India, como consta do documento n.° 4 annexo ao relatorio, mal se percebo como osso compromisso se tomou sem ser sobre uma base scientifica e segura, que só os roteiros o mappas, coordenados pela observação de seculos podem determinar.

Uma tal critica, alem do contraria aos regulamentos disciplinares, mostra falta de merito profissional, pois que, a acreditar em taça dizeres, o sr. Amaral tomou o compromisso da viagem perfeitamente de aventura!

A mia imprevidencia como commandante manifestava-se quando só um Malta pensa em verificar se o navio comportava o peso do 850 saccas de carvão fóra dos paioes, estudo que deveria fazer antes da partida, e ainda occupando-se ali a 6 de outubro do fornecimento possivel de carvão em Mascate, a que aliás eu providenciei, logo que o conselho do ministros definitivamente concordou no proseguimento da viagem, como consta de documentos da repartição, o da declaração do commandante da Rio Lima no seu relatorio, quando refere que lhe foi ordenado em 10 de outubro para seguir de Aden para Bombaim, garantindo-se lhe carvão em Mascate.

O regimen do seu navio não o illustra, quando no relatorio refere, que foi necessario "vir a ré recommendar actividade em metter as espias dentro" (sic), abandonando o seu posto de commando para desempenhar funcções de um simples cabo marinheiro, e alem de não reparar a avaria do helice em Suez, onde tinha todos os recursos, seguiu viagens, com o risco de a comprometter, e no regresso saíu de Port-Said, sem commissão urgente, em janeiro, com uma enorme baixa barometrica, só porque "quem vinha do mar (sic) noticiava bom tempo", e apanhando, poucas horas depois da saída, um temporal, diz no relatorio, que "nada fazia prever contratempo de maior", como se a baixa baromotrica não constituisse a indicação scientifica de mau tempo e o barometro devesse passar a ser substituido na navegação pelo informometro, apparelho a construir como o odographo indicador do professor de navegação da escola naval o sr. Mattal!

No mesmo relatorio se diz, como já ha dias referi, "que o Vasco da Gama, foi mandado á India n'uma missão militar longa e por todos os competentes julgada arriscada e impropria", mas taes competentes não se lembravam que a descoberta da India pelo Cabo da Boa Esperança se fez empregando navios de menos importancia do que o Vasco da Gama o com menos recursos materiaes o scientificos dos que ha actualmente.

O sr. Presidente: - Faltam só dez minutos.

O Orador: - Desculpe v. exa. isto é muito interessante, depois consultará a camara para o sr. ministro responder.

Esquecêra ainda aos taes competentes que pouco depois da descoberta veiu d'ali uma fusta, que em tamanho cabe n'esta sala e que D. Mannel mandou queimar para que não ficasse memoria de que tão facil era ir e vir da India.

Esqueceu-lhes ainda que o torpedeiro Childeres de 65 toneladas, fez viagem bem mais trabalhosa de Inglaterra a Mulbourne, n'um percurso de 12:000 milhas, emquanto que o couraçado, navio do 2:400 toneladas, tinha a fazer uma viagem de pouco mais de5:000 milhas, de Lisboa a Bombaim, com innumeras escalas de carvão de Lisboa a Suez e d'este porto a Bombaim; podendo tel-o, se carecesse, em Dgedah, entre Suez o Aden, o em Mascate, entro Aden e Bombaim, a que não foi necessario recorrer, por ter saldo de Lisboa preparado para accommodar, como accommodou, carvão supplementar para a viagem, que fez nas condições proprias que os roteiros indicam.

Entretanto, o mesmo sr. Amaral diz no seu relatorio que a opinião mais geralmente seguida na corporação era que só por milagre de fortuna o navio poderia desempenhar a commissão que lhe estava commettida" !

Confesso, sr. presidente, que commetti um imperdoavel erro, em suppor que havia alguem na corporação da armada que tal affirmasse, revelando ignorancia em materia nautica, quando o milagre a que se refere o sr. Amaral é outro e póde ser encarado debaixo de duas fórmas, uma constituindo um segundo facto extraordinario na historia da humanidade, e é que tendo o Padre Eterno separado as aguas do mar Vermelho para dar passagem aos hebreus perseguidos pelas hostes dos Pharaós, agora mandasse applacar as ondas do oceano Indico para passar o sr. Amaral pelo que recommendo ao sr. ministro que submetia o caso á apreciação da congregação dos ritos - outra, o esta é que deve ser a verdadeira, foi ter o couraçado escapado á cubica ingleza, tendo feito escola pelos seus portos militares, quando na opinião do sr. Amaral aquelle navio constituo um typo ideal dominador dos mares !

Encontra-se no relatorio da viagem a Tanger, em 1894, esta extraordinaria revelação, que a uma grande maioria tem passado desappercebida, e que constitue um segredo mais valioso e importante de que o segredo do Cubango!

Felicito-me, sr. presidente, por poder acompanhar os festejos da chegada do Adamastor commandado pelo sr. Amaral, fazendo aqui a devida apotheose a tão extraordinarios meritos scientificos.

Diz o relatorio que "se o Vasco da Gama, de 2:422 toneladas, tivesse umas 3:000 toneladas com 14 milhas de marcha, duas peças de 26 centimetros de tiro rapido! com um bom esporão reforçado e um tubo lança-torpedos, etc., entendia elle, que, "com um unico navio d'esse typo, comboiando dez ou doze navios de commercio, metteria no fundo seis ou mais cruzadores que quizessem forçar o comboio, e que um cruzador de 6:000 toneladas, custando 3:000 contos, seria mettido no fundo por um qualquer couraçado pequeno com esporão, desde que esse couraçado tenha evoluções rapidas - o typo do Vasco da Gama.

O milagre, pois, da viagem do Vasco da Gama a India não estava na sua incapacidade nautica, como os factos provaram, mas sim por ter aquelle typo ideal do sr. Amaral escapado á rapina ingleza, tendo estado nos seus portos militares de Gibraltar, Malta, Aden e Bombaim.

O sr. Amaral, mencionando no sou relatorio esta extraordinaria descoberta, não pôde furtar-se ao legitimo orgulho de, a todo o tempo, mostrar que lhe era devida, confiando que o segredo se conservaria, devido á pouca attenção que se presta aos relatorios; não convindo a sua divulgação para que a tola Inglaterra, a tola França e, não menos tolas, Rússia, Italia o Estados Unidos, poderosas nações que, por vezes, nos têem humilhado, parassem na sua ruina financeira, deixando de construir os enormes couraçados do 10:000 toneladas o os grandes cruzadores de 6:000, 7:000, 9:000, 11:000 e 15:000 toneladas, susceptiveis de serem mettidos a pique, por lotes de meia duzia, polo modelo ideal do Vasco da Gama, por s. exa. apontado! (Riso.)

Então quando as grandes potencias tiverem succumbido financeiramente pelas enormissimas despezas da construcção naval, raiará de novo para Portugal o poderio dos mares com o pequeno couraçado Vasco da Gama, illustre pelo nome, grandioso pela concepção !

Veja bem a camara, que emquanto o typo ideal do sr. Amaral devo ter 3:000 toneladas, 14 milhas de marcha, com dois helices, bom esporão, um tubo do torpedos e duas pecos de grosso calibre; os cruzadores que, em lotes, elle deve metter a pique, são de 6:000 ate 15:000 toneladas, de 20 a 23 milhas de marcha, de dois helices, de bom esporão, de muitas peças de grosso calibre, e chegando alguns a ter cinco tubos lança torpedos!

Por todos estes dados, a descoberta é tão extraordinaria que merece commemoração especial, não devendo ficar esquecida a dedicação a Portugal da casa constructora ingleza Thomes de Londres, que conserva em segredo, e reservado para nosso uso exclusivo, os planos de tão im