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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

dependente do numero e da qualidade das pastas (apoiados), de conciliação sem reservas calculadas, sem desconfianças perturbadoras e sem intuitos insidiosos (apoiados).

Eu sei, que alguns compartidarios meus não perfilham esta doutrina; mas ainda que ella fizesse parte do crédo e da disciplina partidaria, creio, que podia romper por ella e manifestar a minha divergencia de opinião, porque os meus amigos politicos sabem muito bem, que os tenho acompanhado e hei de acompanhar sempre com a mesma lealdade (apoiados), que estou sempre prompto a combater e trabalhar com elles nas horas de boa e má fortuna, e que hei de continuar a ter o mesmo procedimento (apoiados). Mas sobre este ponto e n'este logar de tamanha responsabilidade, devo dizer á camara e ao paiz a verdade inteira como a entendo e com a franqueza a que não sei nunca faltar (apoiados).

Nenhum partido (e em todos reconheço valia e merito) póde nas actuaes circumstancias resolver isoladamente a questão de fazenda (apoiados). Nenhuma parcialidade politica por mais luzes, por mais capacidade, boas intenções e boa vontade, que haja no seu seio, tem n'esta conjunctura forças para desatar as difficuldades com que nos achamos a braços (apoiados).

Temos um deficit que nos estanca as forças e mina as entranhas. É preciso acabar com elle no praso mais curto (apoiados).

Um governo de conciliação devia ter força para realisar todas as economias e reformas precisas. De um governo de conciliação devia resultar talvez a votação dos impostos com o consenso unanime ou quasi unanime do parlamento, o que lhes daria uma grande auctoridade moral, e teria como effeito desfazerem-se ou attenuarem-se todas as reluçtancias e os impostos serem aceites pelo paiz como a expressão de uma necessidade absoluta diante da qual todos deviam inclinar-se.

Porque não havemos de enrolar por algum tempo as nossas bandeiras, pôr de parte as nossas dissidencias, esquecer os nossos aggravos, abrir um parenthesis no meio das nossas luctas, e celebrarmos a paz para fazermos guerra ao deficit? (Apoiados. — Vozes: — Muito bem.)

Porque não havemos de sacrificar no altar da patria os nossos orgulhos, as nossas vaidades, os nossos falsos caprichos, as nossas rivalidades de mando e competencias de supremacia? (Apoiados.) Era um sacrificio, mas abençoado sacrificio de que advinham muitas vantagens e beneficios ao paiz (apoiados).

Se uma junta de medicos convocada para acudir a um doente em estado de perigo gastasse o tempo em dissertações largas e eruditas, e se desatasse em contenções desabridas e disputasse tenazmente sobre quem havia de chegar primeiro á sua cabeceira e applicar-lhe o remedio, essa junta ou esses medicos tomavam sobre si uma grave responsabilidade, porque durante aquellas lutas e porfias o doente podia morrer. É este o triste espectaculo que nós ha muito tempo estamos dando. O paiz á similhança do doente cortado de angustias e sobresaltos para todos os lados se volta e de nenhum se acha bem (apoiados).

Nossos paes juntaram-se para crearem a nacionalidade portugueza. Juntaram os seus esforços, juntaram o seu sangue, e com elle cimentaram a independencia, e ungiram a gloriosa bandeira que nos legaram.

Á nossa questão de fazenda está vinculado o nosso socego, a nossa honra, a nossa independencia e o nosso futuro. Porque não hão de fazer os filhos o que fizeram os paes nas horas de perigo para a patria? As idéas podem dividir os homens, mas só o crime levanta entre elles barreiras insupperaveis. Aqui não ha crimes. Em todos os partidos, que se acham aqui representados, ha faltas e desacertos, mas não ha nodoas nem deshonras, que os tornem absolutamente incompativeis, e que sejam impedimento a uma conciliação.

Em nome das difficuldades e dos males que nos affligem, em nome do bem e da prosperidade da nossa terra eu faço pela conciliação um voto tão sincero como é a minha commoção, que me impede de continuar. Vozes: — Muito bem, muito bem.

(O orador foi comprimentado por muitos srs. deputados.)