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SESSÃO N.° 32 DE 20 DE JUNHO DE 1908 7

rem afilhados, desmentindo e combatendo dignamente as affirmações menos verdadeiras e audaciosas, feitas com arrogancia e provocação por quem para isso não tem autoridade! (Apoiados).

Quando for preciso, eu provarei nesta Camara, que quem praticou abusos, escandalos e immoralidades, esbanjando os dinheiros do Thesouro para servir afilhados, para angviriar partidarios, para corromper com veniaga os adversarios, para ver se engrossava o seu minguado partido, violando leis e offendendo direitos, foi o accusador de agora, como Ministro das Obras Publicas, foi o Governo da infamante ditadura de que fez parte, e que tantas culpas teve! (Apoiados).

E o ultimo desplante, revolta até á indignação mais justificada, irrita os animos mais serenos, o atrever-se a vir aqui fazer accusações destas, esquecendo tudo o que se passou ha tilo pouco tempo e está na memoria de todos, um ex-Ministro dos mais odiados e accusados, que sendo réu, se quer arvorar em autor, que de criminoso quer passar a juiz, pensando que esta Camara, como o país que com justiça o condemnou, lhe deixará inverter os papeis, pôr maior que seja o seu ousio e atrevimento, apresentando-se da maneira impertinente e provocadora como acaba do fazer! (Muitos apoiados).

Por mim, não lh'o consentirei! E emquanto á opinião publica, que o castigou e aos seus cumplices, lhes não tiver perdoado, não serei mais generoso deante das suas provocantes arremettidas!

O Sr. Malheiro Reymão: - V. Exa. dá licença?

O Orador: - Eu não dou licença! Já me interrompeu inconvenientemente uma vez, sem ella, para que me mereça essa concessão que a todos farei, e faço, menos a S. Exa.! (Voltando-se para o Sr. Reymão). Velho parlamentar e com a lingua desimpedida pronta para a resposta, não tenho medo nenhum de interrupções ou apartes, mas, desde que elles representam um favor do orador, eu não quero conceder-lho! Não pode merecer-mo quem como S. Exa. se apresentou e procedeu, sem minha licença, no começo desta discussão!

Recuso-lhe o que me pede agora! É o meu direito!

O Sr. Malheiro Reymão: - Quando quiser discutir os meus actos, é preciso que me caiba a palavra para me defender.

S. Exa. accusa-me de ter praticado actos de violação da lei.

(Sussurro e grandes risadas em toda a Camara).

O Sr. Presidente: - Peço ao orador que dirija o seu discurso para a Presidencia. Se S. Exas. estabelecem outra vez dialogo, eu vejo-me obrigado a interromper a sessão.

O Orador: - Eu não dei licença para ser interrompido! Fizeram-me um aparte com pretensão a explicações, não o quis permittir! E repito, não os receio, não tenho medo nenhum d'elles! Com mais de vinte e um annos de Parlamento, não receio apartes nem interrupções, e tenho-os permittido sempre e em discussões bem acaloradas e importantes, mas agora não quis, por virem de onde vieram e pela maneira como vieram. E nada mais, pedindo desculpa a V. Exa. que muito respeito, se a discussão não corre com a serenidade e calma que V. Exa. deseja, mas que é impossivel manter, deante de provocações mal cabidas, inadmissiveis e inopportunas, que nem eu nem a Camara tolera sem um protesto. (Muitos apoiados).

O Sr. Reymão fez um discurso tão altivo, tão ousado, provocador e irritante, querendo accusar tão violenta como injustamente o Governo, de faltar ao cumprimento das leis, atrevendo-se a perguntar se as leis se não fizeram neste país para ser cumpridas! Ora, este ousio e atrevimento, inqualificavel por parte de um ex-Ministro da ditadura, que tanto oiFendeu as leis, os direitos, e todas as liberdades publicas, merecia correctivo pronto e energico, para que se não dissesse que se estava censurando, impunemente, com consentimento da Camara, dos representantes da nação, que revoltados, amaldiçoaram e condemnaram para sempre a ditadura e os ditadores! (Apoiados).

E extraordinario que aqui faça uma pergunta desta ordem um ex-Ministro tão culpado como os outros, pretendendo falar ainda em nome do franquismo, desse aventureiro franquismo que era um homem e não um partido, e que depois de tão graves erros, faltas e crimes, de toda a ordem, tantos males causados ao país, escorraçado do poder pela indignação publica, pelo maior desastre que a nossa historia aponta, ainda pense em resuscitar, e sobretudo ainda se atreva a ameaçar, a accusar, como a camara presenceou! Não pode ser! (Apoiados).

E diz o Sr. Reymão que ha de vir aqui dar conta dos seus actos; pois venha que a Camara os apreciará e julga como elles merecem! só o que digo é que me admira, e muito, que S. Exa. ouse ainda levantar aqui a- sua voz, da maneira por que hoje o fez, parecendo esquecer-se, ou julgando que os outros esquecem os seus actos e pesadas responsabilidades de homem publico! (Apoiados).

Sr. Presidente: fechado este inesperado parenthesis, e pedindo desculpa á Camara da maneira um pouco mais energica e apaixonada como falei, instado e impressionado desagradavelmente pela maneira como correu a discussão, e agradecendo os constantes e calorosos apoiados com que a Camara acompanhou as minhas modestas palavras, que mereceram o seu applauso, não por mim, mas pelas ideias que manifestei, volto serenamente ao assunto para que tinha pedido a palavra. Ha dias tive a honra de mandar para a mesa um requerimento pedindo alguns, documentos pelo Ministerio da Fazenda, mas ainda não me foram enviados. Esses documentos referem-se á grande questão dos adeantamentos, e necessito d'elles para melhor poder formar o meu juizo ácerca dessa grave questão, que a todos interessa e que todos desejam ver resolvida a toda a luz da verdade, nada se occultando no que ella possa ter de importante. (Apoiados).

Chamo a attenção do Sr. Ministro da Fazenda para esse meu requerimento, pedindo a S. Exa. a fineza de me mandar os documentos o mais depressa possivel.

Sr. Presidente: é necessario que se acabe com a lenda de que todos os homens politicos teem mettido as mãos nos cofres do Estado, como, para fazer estilo, ainda ha pouco aqui ouvi dizer ao Sr. Brito Camacho. Ha nos partidos monarchicos muito homem honrado e de bem, a quem as suspeitas nunca podem ferir. Os homens dos dois grandes partidos, que teem dirigido os negocios publicos, podem ter commettido erros de administração, mas nunca se serviram dos dinheiros do Thesouro para seu beneficio ou de suas familias! (Apoiados}. Esta é a verdade que é preciso dizer e affirmar bem alto, (Apoiados) e que ninguem pode contestar! O Sr. Brito Camacho, que é um dos vultos mais valiosos do seu partido, deve saber muito bem que se não metem garras aduncas, nem curtas nem compridas, nos cofres do Estado, e que tudo quanto ali entra ou sae é escriturado, podendo-se apurar, como agora se está fazendo, quem entrou, com quanto, o que sae, para quem e á ordem de quem! Não ha portanto desvios mysteriosos, nem contas escuras que se não possam aclarar, como se ha de fazer para honra de todos e para a todos se fazer justiça!

Ninguem receia luz, muita luz, como se ha de fazer, esperem os Srs. republicanos. (Apoiados). Eu por mim nunca exerci funcções do Estado ou de responsabilidades com que não possa, de nada me receando, como todos os mais Deputados, honestos e honrados; e tambem nunca exerci emprego algum publico, ou commissão de serviço