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SESSÃO DE 25 DE FEVEREIRO DE 1885 539

illustre deputado, não póde nunca defender os interesses do estado, quando estes interesses estejam em conflicto com os do banco de que é accionista. (Apoiados.)

A norma do s. exa. é que todo o funccionario é venal, emquanto não provar o contrario!

Permitta-me, porém, que lembre um facto altamente honroso, praticado pelo partido progressista. Eu achava-me n'esta casa quando entrou aqui o ministerio progressista em 1879, e presenciei um facto que então se deu.

Um illustre deputado da oppodição d'esse tempo, cujo nome a camara me dispensara de pronunciar, porque pesa sobre elle a maior desgraça que podo esmagar um homem de elevada inteligencia, esse illustre deputado accusou o sr. Barres Gomes de ter acceitado a pasta da fazenda, sendo director do banco do Portugal. O sr. Barros Gomes levantou-se e declarou, que antes de ir ao paço enviára ao banco de Portugal a sua demissão...

Vozes: - Ah! (Apoiados.)

O Orador (com vehenencia):- Mas não disse que vendêra as suas acções ou se desfizera d'ellas, (Muitos apoiados.) e não o disse, porque era absurdo e em questões de honra e brio não recebe o sr. Barros Gomes lição de ninguem, antes podo servir de lição a todos. (Muitos apoiados.)

Folgo de prestar esta homenagem ao illustre deputado, que não sei se está presente, meu velho amigo e camarada de estudos, a quem sempre dediquei sincera amigado, tendo se felizmente dissipado a nuvem, que um equivoco levantou entre nós.

Mas, repito, s. exa. não disse, nem podia dizer, que tinha vendido as acções, porque geria ir muito longe; seria imaginar, que não poderia defender como ministro os interesses do estado, porque podia promover a diminuição dos seus proprios interesses!

Reconheço no illustre deputado, o sr. Elvino de Brito, superioridade sobro mim em muitas cousas; mas ha sobre todas uma em que, sinceramente o confesso, a minha inferioridade é completa.

É um defeito meu. Eu não tinha a paciencia do illustre deputado para me entregar á investigação de um certo numero de cousas.

E não invejo essa superioridade, mas presto-lhe a homenagem que ella merece.

Sr. presidente, não posso deixar de protestar energicamente contra este systema de descredito, de suspeições, que está sendo como a prova mais completa e nefasta de certa decadencia moral. (Muitos apoiados.)

Ha no nosso paiz um grupo de homens, cuja arma predilecta contra os seus adversarios politicos é dirigi ataques á sua honra. (Apoiados.) sem se lembrarem multas vezes que, as vicissitudes politicas podem leval-os a ter aquelles que desonraram, como seus camaradas e até como seus chefes! (Apoiados.)

O sr. Elvino de Brito: - Eu fallei só nas illegalidades e em mais nada.

O Orador: - Lançam suspeições, o que é mil vezes peior do que a accusação. E quasi sempre falla a coragem para se levar ao fim o que neste sentido se está fazendo; apenas produzido o effeito politico, abandonam-se completamente as armas; (Muitas apoiados) e os homens que na vespera eram infames, passam no dia seguinte a ser excellentes pessoas, desde que desappareceu o interessa politico. (Apoiados.)

O sr. Luiz José Dias: - Olhe a politica, de serralho.

O Orador: - Sá se vê! V. exa., como é padre, falla em ser alho. (Hibaridade.) E já por duas vezes. ( Hibaridade.)

É profundamente lamentavel estarmos incutindo no animo do povo, que assisto pensativo aos nossos debates, ás nossas recriminações, suspeitas estranham.

Trata se aqui de um homem que foi secretario geral durante o tempo do ministerio progressista, e que foi nomeado governador da ilha do Principe no tempo d'esse ministerio; e quando eu quero aproveitar a sua capacidade e o seu zêlo, a que o sr. Vicente Pinheiro fez os mais rasgados e merecidos elogios, nomeando-o governador de S. Thomé, como querem atacar-me a mim, atacam-n'o tambem, não só nas suas qualidades administrativas, mas na sua moralidade!

S. exas. devem lembrar-se que o sr. Vicente Pinheiro, ou o sr. visconde de S. Januario, podem amanhã ser ministros da marinha, e, querendo ser coherentes com os seus actos, hão de conserval-o como governador, e os amigos politicos d'esses cavalheiros hão de ter um grande trabalho em limpar a farda que ennodoaram.

Lamento profundamente este systema, que infelizmente vae já tendo acolytos em todos as partidos, e que ha de fazer com que, dentro em pouco, pese sobre todos os homens politicos do paiz, ainda os mais altamente collocados pelo seu caracter, o stygma e a lama de corrupção, que é necessario afastar completamente do todos.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem.

(O orador foi muito comprimentado.)

O sr. Presidenta: - A deputação que ha de apresentar ámanhã a Sua Magestade a resposta ao discurso da corôa, será composta, alem da mesa, dos srs.:

Manuel de Assumpção.
Francisco Augusto Correia Barata.
Fernando Affonso Geraldes.
Visconde das Laranjeiras.
Augusto José Pereira Leite.
João Ferreira Franco Pinto Castello Branco.
João Augusto Teixeira.
Francisco Roberto da Silva Ferrão de Carvalho Mártens.
Carlos Lobo d'Avila.
Visconde de Ariz.

O sr. ministro já declarou que Sua Magestade recebia a deputação ámanhã pelas duas horas da tarde.

Peço, pois, aos srs. deputados que compareçam a essa hora no paço da Ajuda.

Sobre a interpellação pediram a palavra os srs. Scarnichia e Elvino de Brito; mas devo prevenir o sr. Scarnichia de que não lhe posso conceder a palavra, senão quando por uma resolução da camara a interpellação se generalise.

Agora a quem cabe a palavra sobre a materia da interpellação sr. Elvino de Brito.

O sr. Scarnichia: - Eu não tinha pedido a palavra para tomar parte na interpellação, mas simplesmente para dar uma explicação.

O sr. Elvino de Brito: - Disse que toda a camara observára que no seu discurso pronunciado na sessão anterior tratára com a maior serenidade de espirito e moderação da questão de fazenda do ultramar, concluindo sempre por pedir ao gr. ministro que cumprisse a lei; não podia por isso deixar de estranhar que s. exa. viesse hoje, e por vezes acrimonioso, fallar em questões de que elle, orador, não se occupára, deixando de responder a muitos assumptos para que chamára a sua attenção.

Passou a fazer largas considerações em resposta ao sr. ministro da marinha, e como estivesse a dar a hora pediu para continuar o seu discurso na sessão seguinte.

O sr. Presidente: - A ordem do dia para ámanhã é trabalhos em commissões, e para sexta feira é a mesma que veiu para hoje, e, se houver tempo, entrará em discussão o bill de indemnidade.

Está levantada a sessão.

Eram mais de cinco horas e meia da tarde.

Rectificações

Na sessão de 23 do fevereiro, pag. 429, col. 1.ª, lin. 26, onde se lê «moções de confiança,» leia se «moções de ordem».

Na mesma pag. e col., linha 33, onde se lê «O sr. Coelho de Campos» deve ler-se «O sr. Coelho de Carvalho».

Redactor = S. Rego.