O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

762 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

nuição que tem havido nos ultimos annos na exportação de gado vivo para Inglaterra.
Se o governo, em logar de crear julgados e negociar concordatas vergonhosas, procurasse alcançar que a Inglaterra levantasse a excommunhão com que fulminou a nossa exportação de gado, creia que bem mais teria merecido do paiz. Ao menos que sejam abolidos os direitos de exportação, e que se considere quanto possivel o projecto de lei do meu amigo o sr. Teixeira de Vasconcellos, que tem por fim minorar as penosas circumstancias em que se acham os creadores e engordadores de gado.
O sr. ministro das obras publicas, que tantas e tão despendiosas medidas decretou em dictadura, sem proveito para o paiz ; s. exa. que, com um traço de penna, transformou os institutos industriaes de Lisboa e Porto em verdadeiras universidades para as quaes despachou lentes pelo mesmo systema por que o sr. Marianno de Carvalho despacha guardas para a alfandega, bem poderia ter creado numerosas escolas praticas de agricultura onde se ensinasse, sem refolhos de sciencia balofa, o modo mais conveniente de amanhar as terras, de podar as vinhas, de fabricar os azeites, de preparar os vinhos segundo o paladar dos diversos mercados estrangeiros; podia ter pedido ao seu collega dos negocios estrangeiros que lhe fornecesse para estudar e meditar os luminosos relatorios em que alguns dos nossos consules tanto tem recommendado ao governo a maneira simples e economica de abrir novos mercados para os nossos productos agricolas, e sobretudo para o vinho, promovendo, com pequenissima despeza, modestas exposições temporarias ou permanentes d'esses productos nos principaes centros do consumo.
O anno de 1885 foi excepcionalissimo, não só na extraordinaria producção do vinho, mas tambem na boa qualidade d'este e na saida prompta e a preço altamente remunerador que encontrou, devido a um feliz concurso de circumstancias, que podem não repetir-se.
É necessario que o governo não durma, e trate de alcançar que novos mercados se abram para consumo deste importantissimo producto agricola, antes que se manifeste alguma crise de effeitos desastrosissimos. Não ha de ser quando a Argelia e a America começarem a inundar com os seus vinhos os mercados europeus que nós havemos de principiar a estudar a questão de lhes darmos facil saida.
Mas aos males que tenho apontado e com que lucta a agricultura vêem juntar-se outros, e não está infelizmente na mão dos estadistas o poder de os debellar.
A phylloxera e outros vários parasitas animaes e vegetaes têem ultimamente atacado os nossos vinhedos de uma maneira rapida e cruel.
Os lavradores luctam desesperadamente, na sua maioria pela salvação das vinhas, mas v. exa. comprehende que os tratamentos preventivos (os unicos em cuja verdadeira efficacia eu acredito) são deveras despendiosos, e que um grande numero de pequenos proprietarios não possuem os meios indispensaveis para encetarem a lucta, com vantagem, contra tantos males.
O capital que tão avida e sofregamente corre para os diversos syndicatos, para a divida fluctuante, para o jogo da bolsa, etc., só é accessivel aos lavradores por um juro elevadissimo, em extraordinaria desproporção com os lucros da industria agricola. Os governos, pela sua parte, só tratam de construir caminhos de ferro de necessidade problematica, estradas, portos artificiaes e mil outras obras mais ou menos urgentes, sem plano previamente concebido e perfeitamente estudado, deixando completamente ao abandono tudo que se refere á regularisação dos rios, á colmatagem, aos canaes de navegação e de irrigação, á hydraulica agricola, emfim. Os pântanos continuam envenenando a atemosphera com os seus miasmas; os campos a assoriarem-se e a alvercarem-se; e rios que poderiam ser um manancial abundantissimo de desenvolvimento de riqueza, tornam-se na maior parte das vezes um terrivel flagello para os proprietarios marginaes.
É muito bom construir estradas, caminhos de ferro, portos artificiaes, etc.; tudo isso é magnifico e o paiz num futuro mais ou menos remoto ha de tirar avultado juro do dinheiro que gastou com essas obras; mas o que é verdade é que a industria agricola está luctando com uma crise gravissima, que se acha sobrecarregada de impostos onerosissimos, tendendo sempre a crescerem, que vê fecharem-se aos seus productos a maior parte dos mercados, uns por circumstancias naturaes a que se não póde obviar, e outros por incuria e desleixo do governo; esta é a verdade. (Apoiados.)
Desejaria que o sr. ministro das obras publicas não quizesse inscrever o seu nome na longa lista d'aquelles que têem passado por essas cadeiras sem que apresentassem uma unica medida tendente a levantar a primeira industria d'este paiz, a industria agricola, da decadencia e do marasmo em que se acha. (Apoiados.)
Pergunto, portanto, a s. exa. se está resolvido a estudar convenientemente estas questões, a tomar em consideração as queixas e as representações dos lavradores, a attender e a pôr em pratica as medidas aconselhadas pelos nossos consules para facilitar a exportação dos nossos productos, a abrir exposições permanentes dos nossos vinhos, a favorecer quanto possivel a exportação d'esses vinhos, do azeite, da cortiça e do gado gordo, a mandar estabelecer no districto de Santarem, e nos demais centros agricolas de alguma importância escolas praticas de agricultura, sem grande luxo de sciencia, e de estados maiores, onde se ensinem praticamente aos lavradores os melhoramentos a introduzir no amanho das terras e na preparação dos estrumes, os processos aperfeiçoados da cultura, as sementeiras mais adequadas á natureza do terreno e às condições da localidade; o modo de preparar os vinhos, os azeites, etc., emfim todos os aperfeiçoamentos que possam ser immediatamente introduzidos, e com decidida vantagem, n'esta importantissima industria.
O que desejo e que s. exa. se resolva desde já a crear estas escolas, ainda que de começo sejam muito comesinhas e modestas.
Nas regiões vinicolas poder-se-iam limitar a ensinar aos lavradores e homens do campo a maneira de plantar, cultivar e tratar a vinha, e de applicar os remedios para os males a que está sujeita: de escolher as castas mais apropriadas, de empregar o systema de podar mais conveniente, de preparar os vinhos segundo os paladares dos mercados a que se destinassem, de os conservar e apresentar de um modo attrahente, etc.
Chamo, pois, a attenção de v. exa. para este importantissimo assumpto, e peço--lhe que applique uma parte da actividade, de que é capaz, como já tem demonstrado em outros negócios a seu cargo a accudir com remedios energicos á nossa agricultura, porque creia v. exa. que todos os beneficios que lhe dispensar serão largamente compensados. (Apoiados.)
Tenho dito.
Vozes:-Muito bem.
O sr. Ministro das Obras Publicas (Emygdio Navarro):- O illustre deputado fez considerações muito sensatas a respeito do estado da nossa agricultura, considerações que, póde dizer-se, são hoje quasi unanimes na boca de todos os partidos; porque hoje quasi que todos somos mais ou menos pequenos proprietarios agricolas, todos temos mais ou menos interesses ligados á sorte da agricultura. (Apoiados.)
É verdade que a agricultura está em muito más circumstancias no nosso paiz, mas o que tambem é verdade é que essa crise agricola não existe só entre nós, não existe simplesmente no nosso paiz, dá-se actualmente em todos os paizes da Europa, o que prova que o mal é muito maior e que provém de causas geraes; que não estão dependen-