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do adro e em roda da capella com as armas aperradas, chegando a bater-se algumas para cidadãos inermes da opposição.

Que sabe, pelo ver e presencear, que o regedor da freguezia de Capelludos e o professor de Carrazedo, Urbano José Rodrigues, coadjuvados pelo reitor de Bornes, Antonio dos Santos Lopes, e padre Caetano de Faria, todos do partido do administrador, fizeram passar por uma ala que estava formada dentro da capella, um grande numero de eleitores, aos quaes entregavam as listas, e lhes recommendavam que levassem as mesmas na mão e com o braço levantado até á cabeça até que as lançassem na urna, dizendo os taes agentes do administrador, que para assim praticarem estes actos tinham ordem e instrucções do dito administrador e governador civil.

Que sabe, pela mesma rasão de o ver e presencear, que as deliberações da mesa da assembléa de Bornes foram sempre desobedecidas, e muito principalmente quando a referida mesa deliberou que a urna para melhor guarda fosse conduzida para a casa do cidadão padre Lino Candido Machado, ao que se oppozeram tumultuariamente o dito reitor de Bornes e padre Caetano de Faria, amotinando o povo e policia armada, a qual espancou eleitores, entre estes a João dos Santos Soares, prendeu cidadãos, e afugentou a mesa e influentes da opposição, perseguindo-os na assembléa e até nas casas para onde se refugiaram.

Que sabia, pelo ver e presencear, que no dia 22, em que teve logar a eleição da camara do presente biennio, apesar de todas as listas da assembléa de Bornes serem recolhidas dentro da urna, as mesmas não foram contadas n'esse dia.

Que sabe, pelo ver e presencear, que a urna da assembléa de Bornes ficára em poder dos agentes do administrador, entendendo que a mesma não ficava muito segura em poder d'estes, pela rasão de fazerem afugentar e perseguir os mesarios da opposição e influentes da mesma que ali estavam.

Que sabia, pelo ouvir dizer publicamente, que na noite do dia 22, em que teve logar a eleição de Bornes, se postaram piquetes de policia armada nas ruas e becos do dito logar, sendo preso e espancado tudo quanto pertencesse á opposição, como assim aconteceu a Francisco Paredes, caseiro do eleitor Francisco de Paula Carneiro Leite, e isto mesmo aconteceu ainda no dia seguinte 23 de novembro, em que durava a eleição em Bornes, sendo preso José Sergio Rodrigues, portador de um officio que o escrutinador da opposição Paulo de Sousa Canavarro dirigia ao presidente da mesa, no qual lhe dizia, que por coacção não podia comparecer, cujo preso juntamente com mais dois creados do escrutinador, que era irmão do dito administrador do concelho, foram por este presos e mandados conduzir para as cadeias de Villa Pouca, aonde os teve presos arbitrariamente tres dias, e passados elles com a mesma arbitrariedade os mandou soltar sem lhes formar culpa.

Que sabe, pelo ver e presencear, que no mesmo dia 23, durando ainda a eleição de Bornes, o presidente da mesma mesa foi ameaçado e insultado por varias pessoas do partido do administrador, e especialmente por José Xavier de Miranda Junior, do logar de Carrazedo da Cabugueira.

Que sabe, pelo ver e presencear, que no dia 23 de novembro, Da eleição de Bornes, a contagem das listas foi feita tambem pelo dito Urbano José Rodrigues, sem que fosse mesario, e que durante a contagem das mesmas, este e o escrutinador José Joaquim de Sousa Machado, tambem do partido do administrador, as trocavam e substituíam, tirando muitas pertencentes á opposição, e lançando outras á urna, da chapa do administrador; e percebendo os agentes do administrador que elle testemunha presenceava todos estes escandalos da trocadella das listas o mandaram pôr fóra da capella, depois de ser espiolhado e insultado, dizendo-lhe se era espião ou trazia algum officio para o presidente da assembléa.

Que, pela mesma rasão, sabia que as listas da eleição de Bornes, depois que finda esta, não foram queimadas na presença da assembléa, mas sim guardadas umas nos bolsos do eleitor João de Sousa Canavarro, que era do partido do administrador, e outras mettidas em gavetas, aonde ficaram.

Que sabe, pelo ver e presencear, que, durante todo o acto eleitoral, se não affixaram editaes alguns dos que a lei manda affixar, excepto o da formação da mesa.

Que sabe, por ser publico e notorio, que o administrador do concelho e seus agentes andavam pelos povos e portas dos eleitores, para o fim de engajar votos para o vencimento da eleição da camara, valendo-se para isto elle, e seus agentes, da arma do recrutamento.

Nada mais disse, e lido o seu depoimento o ratificou pelo achar conforme o havia deposto, e vae assignar com elle juiz e comigo escrivão Claudino José de Sousa, que o escrevi. = Luiz Gonçalves. = João Filippe de Magalhães. = O escrivão, Claudino José de Sousa.

José Bento Martins, casado, lavrador, do logar de Urêa de Bornes, de quarenta annos de idade, testemunha ajuramentada por elle juiz nos Santos Evangelhos, prometteu jurar a verdade, e aos costumes disse nada.

E sendo perguntado pelo conteudo dos factos exarados na petição retrò do requerente Custodio José Alvares de Matos, que lhe foram lidos por elle juiz, disse:

Que sabe, pelo ver e presencear, que na assembléa de Bornes, logo para a formação da mesa, appareceram alem dos eleitores muitas pessoas assalariadas do partido do administrador, e armados e sem serem eleitores, fazendo grande tumulto e vozearias, não podendo por essa rasão ser o presidente obedecido.

Que sabe, pelo ver e presencear, que no acto da eleição de Bornes o reitor d'esta freguezia, e outros agentes do administrador do concelho, davam as listas á bôca da urna aos eleitores; o que sendo observado pelo eleitor Francisco Antonio Madureira os advertiu, com, delicadeza e moderação, a que não praticassem taes actos ali junto á urna, sendo este logo atacado dentro do mesmo templo com uma faca, que elle testemunha pôde evitar não lhe chegar, em rasão de estar junto ao dito Madureira, vendo elle testemunha assim a faca que vinha dirigida por um braço coberto com um avental, entrando logo dentro do templo uma turba de gente armada, sem que o presidente a requisitasse.

Que sabia, pelo ver e presencear, que antes de principiar a eleição foi collocada junto ao adro da capella pelo administrador ou seus agentes, uma pipa de vinho aonde os seus partidarios iam beber quando queriam.

Que sabia, por ver e presencear, que a referida gente armada do partido do administrador estivera sempre junto do adro, em roda da capella da eleição, com as armas aperradas, chegando-se a bater algumas para cidadãos inermes da opposição, como tambem o fizeram a elle testemunha e ao eleitor Paulo de Sousa Canavarro, sem comtudo poder averiguar quaes os individuos que as bateram, por ser grande a turba de gente armada que ali andava, toda do partido do administrador.

Que sabia, pelo ver e presencear, que o regedor da freguezia de Capelludos e o professor de ensino primario do logar de Carrazedo, Urbano José Rodrigues, coadjuvados pelo reitor de Bornes, Antonio dos Santos Lopes, e padre Caetano de Faria, e outros agentes do partido do administrador, fizeram passar por uma ala formada dentro da capella, um grande numero de eleitores, aos quaes davam as listas, ordenando lhes que as levassem na mão com o braço levantado até por cima da cabeça, entregando-as depois ao presidente para as lançar na urna, dizendo em altas vozes que para isto assim praticarem tinham ordem e instrucções do governador civil e do administrador do concelho.

Que sabia, pelo ouvir dizer publicamente, que as deliberações da mesa da assembléa de Bornes foram sempre des obedecidas pelos agentes do administrador e principalmente quando a mesa deliberou conduzir a urna, para melhor guarda, para a casa do cidadão padre Lino Candido Machado, ao que se oppozeram tumultuariamente os referidos reitor de Bornes e padre Caetano de Faria, amotinando o povo e policia armada, a qual espancou eleitores, entre estes a João dos Santos Soares, prendeu cidadãos, afugentou a mesa e influentes da opposição, perseguindo-os na assembléa e até nas casas para onde se refugiaram.

Que sabia, por ser publica e notorio n'este concelho, que na noite do dia 22 de novembro ultimo, dia em que teve logar a eleição da camara d'este concelho, se postaram piquetes de policia armada nas ruas e becos do logar de Bornes, por ordem do administrador e seus agentes, sendo n'essa mesma noite preso e espancado tudo quanto pertencesse á opposição, como aconteceu a um creado do eleitor Francisco de Paulo Carneiro e Leite, que se chamava Francisco Paredes; acontecendo isto mesmo ainda no dia seguinte 23, era que durava a eleição de Bornes, sendo preso José Sergio Rodrigues, portador de um officio que o escrutinador da opposição Paulo de Sousa Canavarro dirigia ao presidente da mesa, no qual lhe communicava que por coacção não podia comparecer, o qual preso juntamente com mais dois creados do dito escrutinador, que era irmão do administrador do concelho, foram por este presos e mandados conduzir para a cadeia de Villa Pouca, aonde os teve presos tres dias, e passados elles os mandou soltar sem lhes formar culpa.

Que sabe, por ser publico e notorio, que no dia 23, durando ainda a eleição de Bornes, o presidente da mesa foi ameaçado e insultado por varias pessoas e agentes do partido do administrador.

Que, pela mesma rasão, sabe que no referido dia 23 de novembro na eleição de Bornes, a contagem das listas fóra feita pelo professor Urbano José Rodrigues e João José de Sousa Canavarro Leite, sem que fossem mesarios, e ambos do partido do administrador, e o segundo até parente proximo, e que durante a contagem das mesmas listas, estes e o escrutinador José Joaquim de Sousa Machado, tambem do partido do administrador, as trocavam e substituíam, tirando muitas pertencentes á opposição e lançando outras na urna da chapa do administrador.

E mais não disse, e sendo-lhe lido o seu depoimento o ratificou pelo achar conformo o havia deposto, e por declarar que não sabia escrever, vae elle juiz sómente assignar este depoimento comigo Claudino José de Sousa, que o escrevi e assigno. — Luiz Gonçalves. — O escrivão, Claudino José de Sousa.

João dos Santos Soares, casado, lavrador, do logar de Villarinho de S. Bento, de trinta e cinco annos de idade, pouco mais ou menos, testemunha ajuramentada por elle juiz nos Santos Evangelhos, prometteu dizer a verdade, e aos costumes disse nada.

E sendo perguntado pelo conteudo dos factos acontecidos no logar de Bornes por occasião da eleição da camara municipal do presente biennio, a qual teve logar no referido povo de Bornes no dia 22 de novembro passado, os quaes factos se acham exarados na petição retrò do requerente Custodio José Alvares de Matos, e que lhe foram lidos por elle juiz, disse que sabia, pelo ver e presencear, que na assembléa de Bornes, logo para a formação da mesa, appareceram, alem dos eleitores, muitas pessoas assalariadas do lado do administrador, que não eram eleitores, fazendo grande tumulto e vozearias, do que resultava não poder ser o presidente obedecido.

Que, pelo ver e presencear, sabe que a mesa da dita assembléa fóra sempre desobedecida em suas deliberações pelos agentes do administrador, e principalmente quando a mesa deliberou unanimemente conduzir a urna para casa

do cidadão padre Luiz Candido Machado, a que se oppozeram tumultuariamente em altas vozes o reitor de Bornes e padre Caetano de Faria, amotinando o povo é policia armada, a qual espancou alguns eleitores, e entre estes a elle testemunha, sendo um dos espancadores o eleitor Antonio Lapa, do logar de Bornes e do partido do administrador, que com uma grande pedra fechada na mão lhe bateu algumas pancadas dentro da capella, e virando-se elle testemunha para o dito Lapa, a perguntar-lhe porque lhe batia, lhe bateram uma grande pancada nas costas, ignorando comtudo quem; e receiando que lhe batessem mais; saíu precipitadamente pela porta principal do templo fóra, é ahi lhe descarregaram uma pancada com uma arma que o lançou por terra, e levantando-se elle testemunha, lhe descarregaram mais, até que lhe acudira um padre ou não sei quem, e o conduzira na frente da multidão que o perseguia armada, dizendo «mata esse ladrão que não é dos nossos», e o fez entrar para uma casa no fundo do povo, que depois lhe disseram ser da sr. D. Maria do Pereiro. E esta senhora e mais mulheres da casa acudindo aos gritos e barulho, não deixaram abrir de todo a porta, e deram assim tempo a que elle podesse saltar por uma janella para uns campos, salvando assim a vida com a fuga.

Que lhe constára depois, que ao entrar da policia armada n'essa casa, se batera ali uma arma, e que a dita policia e administrador dera busca no pateo d'essa casa, varanda e cozinha.

Que mais lhe consta quem lhe batera tambem fóra Bernardo Lapa, irmão do dito Antonio Lapa, um tal Lopes, e Domingos de Paula, todos de Bornes e da policia do administrador; sendo certo que este Paula lhe quebrou uma arma de dois canos nas costas, cuja era de Cribonio da Costa Freitas, do mesmo logar, escrutinador do partido do administrador.

E que mais lhe constára, que a urna tinha sido alterada e viciada pelos agentes do administrador.

Que mais sabia e jurava, que esteve mais de quinze dias de cama, o que ainda hoje passa mal.

Nada mais disse; e sendo lhe lido o seu depoimento o ratificou por estar conforme, e vae assignar com elle juiz e comigo Claudino José de Sousa, escrivão que o escrevi e assigno. — Luiz Gonçalves. — João dos Santos Soares.

Bernardino José da Silva, casado, proprietario, do logar do Bragado, de idade disse ter cincoenta e tres annos, e aos costumes disse nada.

E sendo perguntado pelos factos exarados na petição retrò, que lhe foi lida e declarada, disse emquanto aos factos praticados na eleição e assembléa de Pensalvos, por ser um do eleitores ali concorrentes, que sabia, por ver e presencear o seguinte.

Que de noite e muito de noite, ao dia que se seguia para ir para a eleição, ouvira tocar o sino para a missa conventual e se puzera a pé com sua familia e creados e fóra a ella, e no fim regressou para casa, que se tornara a deitar e que passado muito tempo chamára pelos creados que lhe fizessem o almoço, que este se fizera e se comera sem ter amanhecido; sendo certo que o seu parocho que disse a missa, com os mais eleitores do partido do administrador como elles, partiram logo ao sair da missa para o logar de Pensalvos, contigua a este, d'onde dista apenas 2 kilometros escassos, isto é, muito menos de meia legua, tendo por conseguinte muito tempo de lá chegarem e formarem a mesa antes de amanhecer.

Que logo que rompera o dia se puzera elle testemunha a cavallo e se dirigira tambem para o local da eleição que, como disse, distanciava menos de 2 kilometros, já encontrou eleitores no caminho depois de haverem votado.

Que chegára a Pensalvos antes de nascer o sol, que vira a mesa formada, sendo presidente o primo do administrador José Xavier de Miranda, e vogaes o seu parocho José Maximino de Sousa e outros, todos do partido do administrador, sem que ali estivesse pessoa alguma da opposição, e só sim alguns eleitores influentes do administrador, porque o resto já tinham votado e ausentado para suas casas, d'onde tinham saído de suas casas com muitas horas de noite.

Que mais sabe, pelo ver, que na igreja estava collocado um relogio de sala, que lhe disseram ser do regedor da freguezia, vogal tambem da mesa, que marcava para mais de nove horas ao despontar do sol, marcando igualmente sete da noite havendo ainda algum sol.

Mais disse igualmente sabia, pelo ver, que o presidente da assembléa nomeado pela camara, e bem assim os influentes da opposição ás oito horas e meia escassas chegaram ao local da eleição, isto é, á igreja aonde ella tinha de se fazer, cuja hora se verificou não só olhando para o sol, mas mesmo confrontando muitos relogios de algibeira que ahi appareceram.

Nada mais disse por lhe não ser perguntado, e sendo-lhe lido o seu depoimento o ratificou por estar conforme e vae assignar com elle juiz, e comigo, Claudino José de Sousa, escrivão que o escrevi e assigno. — Luiz Gonçalves. — Bernardino José da Silva.

Manuel dos Santos Rodrigues Pereira, casado, proprietario, de setenta e tres annos de idade, pouco mais ou menos, residente no logar de Soutelinho, e aos costumes disse cada.

E sendo perguntado pelos factos marcados na petição do requerente que lhe furam lidos e declarados, disse:

Que sabia, pelo ver e presencear, por ser vogal da camara e presidente da assembléa de Bornes, que a camara municipal mandou affixar os competentes editaes com antecipação de oito dias para a eleição da mesma. E que ella camara designara as quatro assembléas constantes do requerimento retrò, e que estas foram alteradas pelo conselho de districto para tres, na fórma dita do mesmo requerimento, sendo esta divisão de assembléas muito mais prejudicial e incommoda aos eleitores do que a divisão que havia feito a