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camara, como tudo consta do que acaba de ver ler, que é a propria verdade.

E que mais sabia, pelo ver e presencear, que antes de se formar a mesa da assembléa de Bornes, appareceram um grande numero de pessoas assalariadas do lado do administrador, que não eram eleitores, fazendo grandes tumultos e vozearias, dando isto occasião a que elle presidente começasse a ser desobedecido.

E que, pela mesma rasão sabia, que o reitor de Bornes e outros agentes administrativos deram listas á bôca da urna, e sendo advertidos com delicadeza pelo eleitor opposicionista Francisco Antonio de Madureira, foi este atacado dentro do templo com uma faca, entrando logo dentro do mesmo templo uma grande multidão de policia armada, commandada pelo regedor da freguezia e pelo administrador ad hoc, sem que tal força fosse por elle requisitada, a qual se conservou sempre armada junto do adro e quasi sempre em roda da capella da eleição, com armas aperradas muitas vezes, chegando-se até a bater algumas d'ellas.

Que pela mesma rasão sabia, que logo no principio da eleição foi collocada uma pipa de vinho junto da capella, pelo administrador e seus agentes, aonde seus sequazes iam beber quando queriam, do que proveiu, fóra o proposito, o augmento do barulho na maxima parte, em todos os incidentes desagradaveis d'aquelle dia.

Que mais sabia, pelo ver e presencear, que o regedor da freguezia de Capelludos e o professor de ensino primario, Urbano José Rodrigues, coadjuvado pelo reitor de Bornes e padre Caetano de Faria, e todos do lado do administrador, fizeram passar por uma ala, formada contra a vontade muitas vezes manifesta da mesa, um grande numero de eleitores, aos quaes o dito Urbano deu as listas á bôca da urna, dizendo em altas vozes que tinha ordem do governador civil e do administrador do concelho para assim fazer, como effectivamente fez.

Que igualmente sabia, que a mesa da assembléa dita foi sempre desobedecida pelos agentes administrativos, como já disse, e principalmente quando esta deliberou conduzir a urna ao sol posto para a casa do padre Lino Candido Machado para melhor segurança, na occasião em que elle presidente e vogaes conduziam a urna, levando-a elle presidente na mão lhe foi tirada no momento em que o dito reitor de Bornes e padre Caetano de Faria gritavam «acudam, a urna não sáe d'aqui sem passar por cima de nós», amotinando assim a policia e o povo, que fez retroceder a mesa, e em menos de um minuto foi a capella invadida com armas aperradas pela dita policia, fazendo assim afugentar a mesa e todos os opposicionistas, -á excepção d'elle presidente, que por andar em procura do seu chapéu, que te lhe desencaminhou até hoje, e por lhe fazer pouca sombra a sua velhice, ali se conservou; até que aos gritos do povo acudiu a tropa que a larga distancia estava aboletada, pondo fim ao tumulto, depois do administrador haver prendido dois creados do escrutinador Paulo de Sousa Canavarro, e de a policia haver espancado o caseiro do mesmo João dos Santos Soares, do logar de Villarinho; e o dito Urbano e outros haver igualmente espancado o secretario da mesa Antonio José de Sousa Machado, do dito logar de Villarinho, concluindo-se este tumulto com o se entregar a urna ao commandante da escolta, ao reitor de Bornes e a elle presidente, a qual urna, mettida dentro de um saco simplesmente com o baraço lacrado, ficou archivada na capella, sendo entregue uma chave ao commandante, outra ao reitor de Bornes e outra a elle deponente, a qual, na madrugada do dia seguinte, lhe foi exigida por ordem do dito reitor e elle entregou; sendo certo que n'esse dia, o seguinte á eleição, não tendo elle presidente tenção de assistir ao resto das operações eleitoraes com receio de receber os mesmos insultos do dia antecedente, o fôra convidar á casa aonde se achava hospedado, o já mencionado padre Caetano de Faria, e lhe asseverava que podia ir ao escrutinio que ninguem o havia de insultar: que fiado n'isso fôra, e apenas chegou o sobrinho do administrador, José Xavier de Miranda Junior, o principiára a insultar, chamando-lhe maroto camarista, infame e outros mais nomes injuriosos, e que querendo-se elle então retirar, aos empurrões o fizeram assentar, aonde fez officio de mero espectador e nada mais, só assignando no fim com receio ao futuro; mas não faltou ahi quem o substituisse e aos mais vogaes que faltavam, porque logo assumiram as vacaturas o primo do administrador João José de Sousa Canavarro Leite, e o mestre escola Urbano José Rodrigues, que a seu modo fizeram todas as operações eleitoraes, apesar de advertidos a principio por o escrutinador opposicionista Caetano de Sousa Madureira, que, como eu, fez de surdo e mudo por ver commetter tantas illegalidades, e com receio igualmente de se poder renovar os insultos anteriores, e muito principalmente por se acharem ali só dois homens, não sei qual d'elles mais velho, do seu partido, que eram elle testemunha e o dito Madureira, achando-se cercados de todos os agentes administrativos e quasi todos armados.

Mais sabia, por ver e presencear, que n'esse dia 23 sendo-lhe dirigido um officio do escrutinador Paulo de Sousa Canavarro, foi o portador José Sergio Rodrigues mandado prender pelo administrador, e o remettêra com os dois já presos na vespera para a cadeia de Villa Pouca, onde os reteve tres dias e depois soltou arbitrariamente.

Mais sabe que na noite de 22 o administrador prendera a Francisco Paredes, creado do eleitor opposicionista Francisco de Paulo Carneiro Leite, de Lago Bom o qual soltara na tarde do dia seguinte.

Que mais sabe, pela mesma rasão de o ver, que na referida noite de 22 se collocaram piquetes de policia armada por todos os becos e ruas de Bornes, e que as mesmas medidas se tomaram no dia 23.

Que mais sabe, em rasão de o ver, que elle presidente da assembléa officiára ao excellentissimo general da divisão requisitando-lhe força armada que o coadjuvasse na manutenção dá ordem e liberdade eleitoral na assembléa de Bornes; ao que elle general respondeu dizendo que tinha recebido ordem do governador civil para que pozesse tropa só á disposição do administrador, ao qual a este devia requisitar logo que ella chegasse; e assim que chegou se dirigiu a elle administrador, requisitando-lhe força para Bornes, obtendo por resposta que daria ordem ao regedor da freguezia para que lhe prestasse policia quando lhe requisitasse; e fez conservar quasi toda a tropa na assembléa de Villa Pouca sem lá ser precisa, pois não havia o minimo receio de perturbação de ordem, nem o presidente da assembléa a havia requisitado; e só na tarde baixa do dia 22, depois de constar em Villa Pouca que havia desordem em Bornes, marchou o administrador com á tropa pára este logar, aonde logo que chegou a aboletou em sítios distantes e separados, dando isto a conhecer que queria reprimir a desordem com os soldados nos quarteis, socegando tudo com a sua policia em brigada.

Que mais sabia, que lhe ía esquecendo de dizer, que observára que as listas da votação não foram queimadas mas sim guardadas umas nos bolsos dos agentes do administrador e outras em uma gaveta, e que se não affixaram os editaes que a lei marca; nada mais disse, só acrescentou que na contagem das listas o acima dito Urbano José Rodrigues e João José de Sousa Canavarro Leite se arvoraram em vogaes da mesa e com o escrutinador José Joaquim de Sousa Machado trocaram todos tres uma immensidade de listas, tirando com uma mão as da opposição e lançando com a outra, outras tantas das listas do administrador.

Nada mais disse e sendo-lhe lido este seu depoimento o ratificou por o achar conforme e havia dito, e vae assignar com elle juiz e comigo Claudino José Sousa, escrivão que o escrevi e o assigno, depois de elle juiz lhe haver deferido juramento. — Luiz Gonçalves. — Manuel dos Santos Rodrigues Pereira. = O escrivão, Claudino José de Sousa.

João Faustino Rodrigues, solteiro, proprietario do logar de Carrazedo, de idade de trinta e oito annos, e aos costumes disse nada. E sendo perguntado pelos factos exarados na petição retrò, que lhe foram lidos e declarados, disse:

Emquanto ao que se praticou na eleição da assembléa de Pensalvos, por ser um dos eleitores que ali concorreu, que sabia por isso, pelo ver e presencear, o seguinte: que estando deitado elle testemunha na cama, ao amanhecer para o dia da eleição sentira muito barulho em casa do seu vizinho José Xavier de Miranda e Castro, primo do administrador e presidente que foi da assembléa de Pensalvos, e mandando elle Miranda chamar e bater fortemente petas portas dos votantes do partido do administrador, fizera tudo isto com que elle deponente acordasse e se pozesse a pé, seria meia noite ou antes e então observára que o dito José Xavier de Miranda se pozera a caminho para Pensalvos á referida hora com os seus votantes, tendo muito tempo de lá chegar antes de amanhecer, pois que do logar de Carrazedo a Pensalvos só distam cerca de 4 kilometros, isto é, uma pequena legua.

Mais lhe consta que os votantes do logar de Villela da sua freguezia a igual distancia de Pensalvos que este povo, e votantes do administrador saíram para o local da eleição tão cedo ou tão tarde que ainda a gente do serão do seu povo se não tinha deitado.

Que mais sabe, por ser publico e notorio, que os votantes do partido do administrador do logar do Bragado saíram para Pensalvos, logo da missa conventual, isto é, immediatamente que esta se concluiu, tendo de andar para o dito logar de Pensalvos menos de 2 kilometros, e tão cedo foi dita a missa que tendo ido gente do seu logar de Carrazedo, e sendo 2 kilometros de Carrazedo a Bragado, regressou a gente d'este aquelle logar ainda com muita noite, e foi então que elle testemunha montou a cavallo, e se dirigiu para Pensalvos na persuasão de que já era dia, mas não só andou de noite os 2 kilometros, que vão d'aqui ao Bragado, mas tambem os 2 ou quasi os 2 que vão d'este a Pensalvos, aonde elle testemunha chegou muito pouco depois de amanhecer, achando já a mesa formada e composta do dito José Xavier de Miranda, parocho do Bragado, regedor da freguezia e outros padres da mesma, todos do partido do administrador, os quaes principiaram logo as operações eleitoraes antes de nascer o sol, chamando pelos seus eleitores que se achavam presentes; todos, á excepção de dois outros, lhes diziam «venham votar que já são onze horas, e o presidente não vem».

Effectivamente viu elle testemunha que o relogio que estava collocado na igreja, e que lhe disseram ser do regedor, marcava effectivamente onze horas antes de nascer o sol, marcando igualmente sete horas da noite quando elle testemunha saíu de Pensalvos, e quando chegou a sua casa, tendo percorrido o espaço de 4 kilometros ainda chegou com sol, de sorte que o tal relogio não podia deixar de andar adiantado tres para quatro horas.

Que mais sabia, pelo ver e pelo ouvir, que muitos eleitores não foram á eleição, e foram descarregados por esta mesa, como succedeu a Francisco Antonio de Macedo que, estando entrevado na cama, foi votar por elle Zeferino Alves Alfaiate, sem ser eleitor, e compadre e caseiro do presidente d'esta assembléa, e ambos estes do logar de Carrazedo; como succedeu tambem a João Pinto de Villela, eleitor, que se achava igualmente entrevado, indo por elle votar um seu filho; como succedeu a Henrique Lamas, do Bragado, eleitor que tinha morrido, e que ouvira que um filho por elle fôra votar; como succedeu tambem com João Bernardo Machado, do logar de Carrazedo, que estando Lino de Sousa Ganilha, que nem votante era, junto da mesa da votação, e achando-se o dito João Bernardo Machado, que o era, a distancia bastante da porta travessa do templo, lhe disse aqui Ganilha, para este que recusava ir para a mesa: «Cá vae o teu bilhete, João Bernardo, vê lo?» e assim votou por este; sendo certo que, d'esta fórma e maneira, correu a eleição do modo que queria a mesa, porque se não achava ali ninguem da opposição que lhe impugnasse as suas arbitrariedades.

Que mais sabe, pelo ver e presencear, que o presidente da assembléa, nomeado pela camara, e alguns influentes da opposição, chegaram á igreja, local da eleição, por volta de oito horas e meia, sendo nove as marcadas no edital convocatorio.

E mais não disse, e lido o seu depoimento o ratificou por estar conforme, e vae assignar com elle juiz, e comigo Claudino José de Sousa, escrivão que o escrevi e assigno. - Luiz Gonçalves. — João Faustino Rodrigues. = O escrivão, Claudino José de Sousa.

Padre Henrique Antonio Rodrigues, do logar da Freixeda, presbytero, de idade sessenta e dois annos, e aos costumes disse nada; e sendo perguntado pelo conteudo no requerimento retrò, que lhe foi lido e declarado, disse que era verdade tudo quanto n'elle se continha, dizendo mais que sabia, pelo ver e ouvir, que os editaes que o administrador mandou affixar com alteração do conselho de districto para a formação das assembléas, só o foram na sexta feira 20 de novembro, isto é, dois dias incompletos antes da eleição.

Mais sabia, pelo ver e presencear, que a designação que a camara fez de assembléas, era muito mais commoda e legal do que as designadas pelo conselho de districto.

E disse mais que sabia, pelo ver e presencear, que logo antes de se formar a mesa na assembléa de Bornes, appareceu grande numero de pessoas assalariadas pelos agentes do administrador e que não eram eleitores, fazendo grande tumulto e vozearias, fazendo com que o presidente da assembléa começasse a ser desobedecido logo desde o principio.

Mais disse que sabia, pela mesma rasão e ser publico, que o reitor de Bornes e outros agentes do administrador deram listas á bôca da urna, sendo advertidos com delicadeza pelo eleitor Francisco Antonio de Madureira, foi este atacado dentro do templo com uma faca, entrando logo dentro do mesmo uma grande quantidade de policia armada, commandada pelo regedor e administrador ad hoc, sem que tal força fosse requisitada pelo presidente, a qual força sempre esteve junta do adro e quasi sempre á roda da capella da eleição, e muitas vezes com armas aperradas, chegando-se algumas d'estas a baterem-se, segundo corre.

Que mais sabia, pelo ver, que logo no principio da eleição fôra collocada uma pipa de vinho junto do adro da capella, aonde os eleitores do administrador a cada passo iam beber mui frequentemente, cuja frequencia fôra o proposito que tinham de transtornar a ordem publica, foi causa d'esta mais se transtornar, no seu entender.

Disse mais que sabia, pelo ver e presencear, que o regedor da freguezia de Capelludos e o mestre-escola, Urbano José Rodrigues, coadjuvados pelo reitor de Bornes, o padre Caetano de Faria, do mesmo logar, fizeram passar por uma ala, formada contra vontade expressa da mesa, grande numero de eleitores, os quaes deram listas á bôca da urna, dizendo o dito Urbano, com muita intimativa, no meio de toda a assembléa, que tinha ordem do administrador do concelho e do governador civil para assim obrar, como effectivamente obrou, coagindo assim muitos eleitores dependentes do administrador a pegarem na lista á vista e bota-la da maneira que lhe era indicado, para se não verem no mesmo momento desfeitiados, no caso dos agentes administrativos duvidarem que não tinham votado, que ali mesmo lhe deram, como succedeu a José Joaquim Pinto das Eiras e Francisco Antonio Borges, ambos do logar de Capelludos, e dos que tinham tambem passado pela ala, mas porque assim mesmo duvidassem d'elles, os ditos regedor e professor, logo que elles acabaram de votar, e para intimidar os outros que ainda o não tinham feito, lhes examinaram os bolsos á força, na presença da assembléa, acompanhando este acto de improperios e nomes injuriosos, por desconfiarem que elles tinham votado com a opposição.

Que mais sabe, pelo ouvir e ser notorio, como verdade, por isso que a testemunha se tinha retirado para não presencear mais scenas escandalosas, que a mesa continuara a ser desobedecida sempre como até ali, ou principalmente quando a mesa deliberou que a urna fosse archivada para maior segurança em casa do padre Luiz Candido Machado, a cuja deliberação se oppozeram tumultuariamente o reitor de Bornes e padre Caetano de Faria, amotinando o povo e policia, que invadiu logo o templo e afugentou a mesa e opposicionistas, prendendo-se em seguida tres creados do dr. Paulo de Sousa Canavarro, e um do Francisco Paulo Carneiro Leite; e espancando entre outros ao eleitor João dos Santos Soares, caseiro do primeiro, e ao secretario Antonio José de Sousa Machado; sendo os espancadores do primeiro um tal Lapa e outros de Bornes, e o segundo o referido Urbano José Rodrigues, todos do reconhecido partido do administrador.

Mais disse, que sabia, pela mesma rasão de publicidade sabe e lhe consta com verdade, que no referido dia 23 o presidente da assembléa de Bornes fôra insultado pelo sobrinho do administrador José Xavier de Miranda Junior, e que este bem como o escrutinador da opposição Caetano de Sousa Madureira, com receio se conservaram mudos e meros espectadores sem praticarem actos alguns, senão fazerem de chancella no fim a sua assignatura, temendo o futuro, por isso que da opposição só ali se achavam elles dois unicamente.

Que, pela mesma rasão, sabe que o referido Urbano José Rodrigues, João José de Sousa Canavarro Leite, sem serem vogaes da mesa e José Joaquim de Sousa Machado, escrutinador da mesma, subtrahiram na contagem das listas