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do biennio actual, em sessão de camara de 9 de novembro passado, tendo logar esta eleição no dia 22 do dito mez, e mandou affixar os editaes d'esta designação com antecipação de oito dias, designando as assembléas de Villa Pouca, Tellões, Alfarella e Urêa de Bornes, nas igrejas d'estas povoações, templos espaçosos e accessiveis, aonde se costumavam fazer as eleições, sendo composta a primeira assembléa das freguezias de Villa Pouca, Bornes e Affonsim; a segunda das freguezias de Tellões, Soutello, Goivães, Santa Martha e Parada de Monteiros; a terceira das freguezias de Alfarella, Tres Minas e Urêa de Jalles, e a quarta das freguezias da Urêa de Bornes, Valloura, Cappelludes, Bragado e Pensalvos, tendo a primeira 274 eleitores, a segunda 413, a terceira 343, e a quarta 363.

E por ver sabia que todas as freguezias estavam muito proximas e até confinantes da freguezia, sede da assembléa, excepto a freguezia de Parada de Monteiros, comprehendendo uma só povoação de 36 eleitores, e algum tanto mais distavam da sede.

E pela mesma via sabia, que o conselho de districto alterou para tres estas quatro assembléas, com a sua sede uma em Villa Pouca de Aguiar, na casa particular e habitada de Antonio de Sousa Sampaio, composta das freguezias d'aquella villa, Soutello, Goivães e Santa Martha; outra na igreja de Pensalvos, composta das freguezias de Pensalvos, Affonsim, Tellões, Parada de Monteiros e Bragado; e a outra na capella de Bornes, e não na igreja parochial, composta das freguezias de Bornes, Urêa de Bornes, Valloura, Capelludos, Tres Minas, Alfarella e Urêa de Jalles, vindo a assembléa de Bornes a comprehender o numero de 675 eleitores.

E por ver sabia, que a freguezia de Tellões, composta de 185 eleitores, que pela designação da camara era a sede da assembléa, dista da sede (Pensalvos), designada pelo conselho de districto, 12 a 15 kilometros, e tinham alem d'isto os eleitores de atravessar a assembléa de Villa Pouca de Aguiar.

E do mesmo modo sabia, que as freguezias de Tres Minas, Alfarella e Urêa de Jalles, que pela designação da camara formavam de per si uma só assembléa, distavam tambem de Bornes, sede formada pelo conselho de districto, 12 a 15 kilometros.

E do mesmo modo sabia que os editaes d'esta alteração ao conselho de districto foram affixados dois ou tres dias antes do da eleição.

E por ver sabia que a designação das assembléas feita pela camara, era incomparavelmente mais legal e commoda para os povos, do que a feita pelo conselho de districto, já pela mui pouca distancia em que ficavam as freguezias da sede da assembléa na divisão feita pela camara, distancia que se tornou mais grande na alteração feita pelo conselho de districto, principalmente respeito ás freguezias de Tellões, Tres Minas, Alfarella e Urêa de Jalles, que comprehendem 528 eleitores já porque são mais espaçosos e accessiveis os locaes designados pela camara do que os outros designados pelo conselho de districto, e já porque a grande freguezia de Tellões teve assim de atravessar a assembléa de Villa Pouca de Aguiar para ir votar á de Pensalvos, e a eleição de Villa Pouca de Aguiar foi feita em uma casa particular.

E do mesmo modo sabia que o conselho de districto para esta alteração não foi composto dos vogaes effectivos, em rasão de serem falsamente dados de suspeitos, como influentes na eleição camararia d'este concelho, tomando isso como pretexto para os expulsar do conselho de districto e no de este ser composto dos substitutos da facção do governador civil e do administrador d'este concelho, pelo qual consta foi feita a reclamação para o conselho de districto sobre a designação das assembléas feita pela camara.

E sabia, por ver, que na assembléa de Pensalvos, designada pelo conselho de districto, houveram duas mesas e duas eleições, uma presidida por José Xavier de Miranda Athaide Mello e Castro, e a outra por elle testemunha como vereador da camara, installando-se esta segunda mesa á hora competente marcada no edital convocatorio, e a outra com muita antecipação á hora marcada no referido edital.

E por ver sabia que na igreja de Pensalvos estava collocado um relogio de sala, o qual andava adiantado mais de duas horas, o que se conhecia já pelo sol, já por varios relogios de algibeira, que ali appareceram, e já porque o dito relogio havendo ainda muito sol marcava sete horas da noite, era publico que este relogio fóra posto pelo regedor da freguezia.

E sabia igualmente que os dois logares de Pensalvos e Bornes eram aquelles de entre os outros do concelho em que o administrador tinha os seus principaes influentes e todos os eleitores de ambos elles e o restante povo eram os seus partidarios.

E por ser voz publica sabia que na assembléa de Bornes logo para a formação da mesa appareceram alem dos eleitores muitas pessoas assalariadas do lado do administrador, que não eram eleitores, fazendo grande tumulto e vozerias, de que resultava não poder ser o presidente obedecido.

E do mesmo modo sabia que no acto da eleição o reitor da freguezia de Bornes e outros agentes do administrador do concelho pretenderam dar as listas á bôca da urna, e sendo advertidos com delicadeza e moderação, pelo eleitor Francisco Antonio de Madureira, foi este atacado dentro do templo com uma faca, entrando logo dentro do mesmo templo uma turba de gente armada commandada ora pelo regedor da freguezia, ora pelo administrador ad hoc Francisco de Assis Teixeira e Miranda, sem que o presidente a requisitasse.

E por ser voz publica sabia que no principio da eleição foi collocada junto do templo, em que ella se fazia, uma pipa de vinho pelo administrador e seus agentes, aonde os seus partidarios iam beber quando queriam.

E pela mesma via sabia que a referida gente armada do lado do administrador esteve sempre junto ao adro em roda da capella da eleição com armas aperradas, chegando se a bater-se algumas para cidadãos inermes da opposição.

E sabia por ser voz publica que o regedor da freguezia de Capelludos e o professor de ensino primario do logar de Carrezedo, Urbano José Rodrigues, coadjuvados pelo reitor de Bornes, Antonio dos Santos Lopes, e padre Caetano de Faria, do logar de Bornes, e todos do partido do administrador, fizeram passar por uma ala formada dentro do templo uni grande numero de eleitores, aos quaes deram as listas á bôca da urna, dizendo em altas vozes que para assim o fazerem tinham ordem do governador civil do districto e do administrador do concelho.

E pelo mesmo modo sabia que as deliberações da mesa da assembléa de Bornes foram sempre desobedecidas pelos agentes do administrador, e principalmente quando esta deliberou conduzir a urna, para melhor guarda, para a casa do cidadão padre Lino Candido Machado, ao que se oppozeram os acima ditos reitor de Bornes e padre Caetano de Faria, amotinando o povo e policia armada, a qual espancou os eleitores, entre estes a João dos Santos Soares, prendeu cidadãos, afugentou a mesa e influentes opposicionistas, perseguindo-os na assembléa e até nas casas para onde se refugiaram.

E do mesmo modo sabia que no dia 22 apesar de ter logar toda a recepção das listas feita na assembléa de Bornes, não foi feita n'esse dia a contagem das mesmas.

E que sabia por ser voz publica que a urna em que ellas ficaram foi mal guardada, em rasão de serem afugentados e perseguidos os mesarios da opposição, os influentes da mesma que ali estavam.

E do mesmo modo sabia que na noite do dia 22 se postaram piquetes de policia nas ruas e becos do logar de Bornes, sendo preso e espancado tudo o que pertencia á opposição como aconteceu a Francisco Paredes, creado de Francisco de Paula Carneiro Leite.

E por ser voz publica sabia que isto mesmo aconteceu ainda no dia 23 em que durava a eleição de Bornes, sendo preso José Sergio Rodrigues, portador de um officio do escrutinador da opposição o dr. Paulo de Sousa Leite Pereira Canavarro, para o presidente da mesa, em que lhe annunciava que por coacção não podia comparecer, o qual preso conjuntamente com mais dois creados do dito escrutinador, que era irmão do administrador do concelho, foram por este presos e mandados conduzir para as cadeias de Villa Pouca de Aguiar, aonde os teve presos arbitrariamente tres dias, e passados elles, com a mesma arbitrariedade os mandou soltar sem que lhes formasse culpa.

E pela mesma via sabia que no dia 23, durando ainda a eleição de Bornes, o presidente da mesa foi ameaçado e insultado por pessoas do partido do administrador.

E do mesmo modo sabia que no dia 23, na eleição de Bornes a contagem das listas foi feita pelo acima dito Urbano José Rodrigues e João José de Sousa Canavarro Lei te, sem que fossem mesarios, e ambos do partido do administrador do concelho, e o segundo até parente proximo, e durante a contagem das mesmas estes e o escrutinador José Joaquim de Sousa Machado, tambem do partido do administrador, as trocaram e substituiram, tirando muitas pertencentes á opposição, lançando outras das do partido do administrador.

E por ser voz publica sabia que as listas na eleição de Bornes deixaram de ser queimadas na presença da assembléa, sendo guardadas umas nos bolsos dos mesarios que pertenciam ao partido do administrador, e outras mettidas em uma gaveta em que ficaram.

E que do mesmo modo sabia que na assembléa de Bornes não foram affixados todos aquelles editaes que a lei manda affixar.

E que por ver sabia que o presidente da assembléa de Bornes, com a devida antecipação, requisitou ao general da divisão militar força para auxiliar na manutenção da ordem e liberdade eleitoral, e este a não deu, dizendo que tinha officio do governador civil do districto para sómente a pôr á disposição do administrador do concelho, a quem elle presidente a devia requisitar.

E que por ser voz publica sabia que o dito presidente a requisitou depois ao administrador do concelho, achando-se a força em Villa Pouca, esta não deu, conservando-a em Villa Pouca até á tarde do dia 22, sem que o presidente da assembléa da mesma villa lh'a requisitasse ou ella ali fosse necessaria, visto que na dita assembléa não havia receio da alteração da ordem.

E sabia, por ser voz publica, e mesmo viu que o administrador do concelho, acompanhado pelos seus agentes, andou pelas portas dos eleitores, com o fim de engajar votos para a eleição camararia; e por uma d'estas occasiões chegou a offender corporalmente ao eleitor Francisco Pinto, do logar da Freixeda, por este lhe dizer, que não podia votar com elle por já ter promettido o voto a seu irmão o dr. Paulo de Sousa Leite Pereira Canavarro.

E por ser voz publica sabia que o administrador do concelho se serviu da arma do recrutamento para o fim de engajar votos por elle e seus agentes, e que é verdade, pelo uso d'esta arma, achar-se agora ao serviço do eleitor Manuel Machado, do logar de Guilhado, um refractario, por nome José, que já tinha sido seu creado, e que até já tinha sido conduzido preso para a junta de revisão, conseguindo no caminho fugir aos guardas, cujo eleitor, por sete motivo, votou a favor do administrador, sendo certo que o refractario, ainda ha poucos tempos, e depois da eleição, recebeu, na presença do administrador, certos dinheiros que lhe deviam varios individuos do logar de Guilhado, os quaes o administrador do concelho tinha mandado embargar na não dos mesmos, para o fim de serem applicados para o pagamento do preço da substituição até aonde chegassem.

E que por ser voz publica sabia que o administrador do concelho ia algumas vezes a Villa Real receber instrucções do governador civil, para o fim do vencimento da lista camararia, e isto tanto antes como depois do dia 22 de novembro, afoutando-se elle e seus agentes com a protecção do governador civil do districto.

E mais não disse, e lido o seu depoimento, e o achar conforme, vae assignar com elle juiz, e comigo escrivão que o escrevi, Alves. — Balthazar Dias Carneiro. — José Maria de Castro. (Continúa.)