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esta alteração não foi composto dos vogaes effectivos, em rasão de serem falsamente dados de suspeitos como influentes na eleição camararia d'este concelho, tomando isto como pretexto para os espoliar do conselho de districto e poder este ser composto do substituto da facção do governador civil e administrador d'este concelho, pelo qual consta foi feita a reclamação para o conselho de districto sobre a designação das assembléas feita pela camara.

E que sabia, por ver, que na assembléa de Pensalvos, designada pelo conselho de districto, houveram duas mesas e duas eleições, uma presidida por José Xavier de Miranda Athaide Mello e Castro, e outra pelo vereador da camara Balthazar Dias Carneiro, installando-se esta segunda mesa á hora competente marcada no referido edital convocatorio, e a outra com muita antecipação á hora marcada no referido edital.

E por ver sabia que na igreja de Pensalvos foi collocado um relogio de sala pelo regedor da freguezia, o qual andava adiantado mais de duas horas, o que se conhecia já pelo sol, já por varios relogios de algibeira que ali appareceram, já porque o dito relogio havendo ainda muito sol marcava sete horas da noite.

E por ver sabia que os dois logares de Pensalvos e Bornes eram aquelles d'entre os outros do concelho em que o administrador tinha os seus principaes influentes, e todos os eleitores de ambos elles e o restante do povo eram seus partidarios.

E por ser voz publica sabia que na assembléa de Bornes logo para a formação da mesa appareceram, alem dos eleitores, muitas pessoas assalariadas do lado do administrador que não eram eleitores, fazendo grande tumulto e vozearias, do que resultára não poder o presidente ser obedecido.

E pela mesma via sabia que no acto da eleição o reitor da freguezia de Bornes e outros agentes do administrador do concelho pretenderam dar as listas á bôca da urna, e sendo advertidos com delicadeza e moderação pelo eleitor Francisco Antonio de Madureira, foi este atacado dentro do templo com uma faca, entrando logo dentro do mesmo templo uma grande turba de gente armada, mandada ora pelo regedor da freguezia, ora pelo administrador ad hoc Francisco de Assis Teixeira de Miranda, sem que o presidente a requisitasse.

E que por ser voz publica sabia que no principio da eleição foi collocada junto do templo, em que ella se fazia, uma pipa de vinho pelo administrador e seus agentes, aonde seus partidarios iam beber quando queriam.

E pela mesma via sabia que a mesma gente armada do lado do administrador esteve sempre junto ao adro em roda da capella da eleição com as armas aperradas, chegando a bater-se alguma, para cidadãos inermes da opposição.

E por ser voz publica sabia que o regedor da freguezia de Capelludos e o professor de ensino primario do logar de Carrazedo, Urbano José Rodrigues, coadjuvados pelo reitor de Bornes, Antonio dos Santos Lopes, e padre Caetano de Faria, do logar de Bornes, todos do partido do administra dor, fizeram passar por uma ala formada dentro do templo um grande numero de eleitores, os quaes deram as listas á bôca da urna, dizendo em altas vozes que para isso tinham ordem do governador civil e do administrador do concelho.

E igualmente sabia que as deliberações da mesa da assembléa de Bornes foram sempre desobedecidas pelos agentes do administrador, e principalmente quando esta deliberou conduzir a urna, para melhor guarda, para a casa do cidadão padre Lino Candido Machado, ao que se oppozeram simultaneamente os acima ditos reitor de Bornes e padre Caetano de Faria, amotinando o povo e policia armada, a qual espancou eleitores, entre estes a João dos Santos Soares, prendeu os cidadãos, afugentou a mesa e influentes opposicionistas, perseguindo-os na assembléa e até nas casas para onde se refugiaram.

E por ser voz publica sabia que no dia 22, apesar de ter logar toda a recepção das listas na assembléa de Bornes, não foi feita n'esse dia a contagem das mesmas.

E igualmente sabia que a urna em que ellas ficaram foi mal guardada, em rasão de serem afugentados e perseguidos os mesarios da opposição e os influentes da mesma que então ali estavam.

E por ser voz publica sabia que na noite do dia 22 se postaram piquetes de policia nas ruas e becos do logar de Bornes, sendo preso e espancado tudo que pertencia á opposição, como aconteceu a Francisco Paredes, creado do eleitor Francisco de Paula Carneiro Leite.

E que, do mesmo modo, sabia que isto mesmo aconteceu no dia 23, em que ainda durava a eleição de Bornes, sendo preso José Sergio Rodrigues, portador de um officio do escrutinador da opposição, o dr. Paulo de Sousa Pereira Canavarro, para o presidente da mesa, em que lhe annunciava que por coacção não podia comparecer, o qual preso conjunctamente com mais dois creados do dito escrutinador, que era irmão do administrador do concelho, foram por elle presos e mandados conduzir para as cadeias de Villa Pouca de Aguiar, aonde os teve presos arbitrariamente tres dias, e passados elles com a mesma arbitrariedade os mandou soltar sem que lhes formasse culpa.

E pela mesma via sabia que no dia 23, durando ainda a eleição de Bornes, o presidente da mesa foi ameaçado e insultado por pessoas do partido do administrador.

E igualmente sabia que no mesmo dia 23 de novembro na eleição de Bornes a contagem das listas foi feita pelos acima ditos, professor Urbano José Rodrigues e João José de Sousa Canavarro Leite, sem que fossem mesarios e ambos do partido do administrador do concelho, e até um d'elles parente muito proximo; e durante a contagem das mesmas, estes e o escrutinador José Joaquim de Sousa Machado, tambem do partido do administrador, as trocaram e substituiram, tirando muitas pertencentes á opposição, lançando outras do partido do administrador.

E sabia por ser voz publica que na eleição de Bornes as listas deixaram de ser queimadas na presença da assembléa, sendo guardadas umas nos bolsos dos mesarios que pertenciam ao partido do administrador, e outras mettidas em uma gaveta em que ficaram.

E por ser voz publica sabia que na assembléa de Bornes não foram affixados os editaes que a lei manda affixar.

E do mesmo modo sabia que o presidente da assembléa com a devida antecipação requisitou ao general da divisão militar força para o auxiliar na manutenção da ordem e liberdade eleitoral, e este a não deu dizendo que tinha officio do governador civil do districto para sómente a pôr á disposição do administrador do concelho, a quem elle presidente a devia requisitar.

E que, pela mesma via, sabia que o dito presidente a requisitou depois ao administrador do concelho, achando-se a força em Villa Pouca, este a não deu conservando-a em Villa Pouca até á tarde do dia 22, sem que o presidente da assembléa de Villa Pouca lh'a requisitasse ou ella ali fosse necessaria, visto que na dita assembléa não havia receio da alteração da ordem.

E por ser voz publica sabia que o administrador do concelho, acompanhado dos seus agentes, andou pelas portas dos eleitores com o fim de engajar votos para a eleição camararia, e por uma d'estas occasiões chegou a offender corporalmente o eleitor Francisco Pinto, do logar da Freixeda, por este lhe dizer que não podia votar com elle, por já ter promettido o seu voto a seu irmão o dr. Paulo de Sousa Leite Pereira Canavarro.

E por ser voz publica sabia que o administrador do concelho se serviu da arma do recrutamento para o fim de engajar votos, por elle e seus agentes, e que é verdade, pelo uso d'esta arma, achar-se ao serviço do eleitor Manuel Machado, do logar de Guilhado, um refractario, por nome José, que já tinha sido seu creado, e que até já tinha sido conduzido preso para a junta de revisão, conseguindo no caminho fugir aos guardas, cujo eleitor por este motivo votou a favor do administrador; sendo certo que o refractario ainda ha poucos tempos, e depois da eleição, recebeu na presença do administrador certos dinheiros que lhe deviam varios individuos do logar de Guilhado, os quaes o administrador do concelho tinha mandado embargar na mão dos mesmos, para o fim de serem applicados para o pagamento do preço da substituição até aonde chegassem.

E por ser voz publica sabia que o administrador do concelho ía algemas vezes a Villa Real receber instrucções do governador civil para o fim do vencimento da lista camararia, e isto tanto antes como depois do dia 22 de novembro, afoutando se elle e seus agentes com a protecção do governador civil do districto; e mais não disse.

Lido o seu depoimento, e o achar conforme, vae assignar com elle juiz e comigo escrivão que o escrevi. — Alves. — Antonio Luiz Borges. — José Maria de Castro.

Em vista do que elle juiz deu á exame por concluido, -e o mandou entregar á parte, pagando as custas. Vae assignar comigo José Maria de Castro, que o escrevi. — Domingos José Alves. — José Maria de Castro. (Continúa.)