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DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

já de couraça defensiva. Acabe o instrumento, acabe a couraça.

Que se publiquem, pois, as contas é a cousa mais natural e mais simples que eu posso pedir. Não sei se n'este pedido, que é inteiramente innocente, póde ir qualquer offensa ao governo, que já devia ter publicado estas contas, não sei nem me importa saber.

Não sei tambem se este meu pedido poderá concorrer de algum modo para traduzir em factos effectivos uma pbrase que ouvi outro dia, creio que ha duas sessões, da bôca do sr. presidente do conselho, quando disse que o necessario é ganhar tempo.

S. ex.ª com effeito, respondendo ao meu illustre amigo e collega, o sr. Francisco Mendes, mostrou que a commissão de fazenda, de aecordo com o governo, tem tratado de, por todos os modos, mandar os pareceres sobre os orçamentos, tendo empregado a iniciativa e energia, esforçando-se o governo com o maior de todos os patriotismos, por não impedir nem pôr obstaculos.

Disse s. ex.ª o sr. presidente do conselho, e eu de receioso cuidei até não ter ouvido bem, disse que as circumstancias caminhavam fagueiras, que a nau do estado navegava com mares quietos e seguros, que as brisas eram propicias e muito nos favoncavam, e que o mister de palinuro era quasi uma sinecura. N'estas circumstancias, me parece, e quando a tempestade não roça com as azas negras a nau do estado, o officio grandioso de governar não consiste ainda assim em ganhar tempo.

Pergunto o que é ganhar tempo? Se o governar é synonimo de ganhar tempo, nada mais escusado e nada tão de sobejo. Se o ser governo é ganhar tempo, é cruzar os braços, é não fazer nada, é não ter iniciativa, é eliminar a energia, então é uma sinecura o governar.

Eu peço, portanto, ao sr. presidente do conselho, que vejo presente, se digne explicar a esta camara, a esta camara talvez não seja necessario, porque os membros que a compõem não têem uma rudeza intellectual como aquella com que providamente a natureza me dotou; eu peço a s. ex.ª se digne explicar-me, e a mim só, o que é que s. ex.ª entende por ganhar tempo.

Eu perguntei a diversos cavalheiros, meus mestres e amigos, o que era esta phrase ganhar tempo. Não a percebi, nem elles souberam dizer-m'o, ou, por outra, talvez não m'o quizessem dizer. Fiquei na mesma ignorancia, e enredado nas mesmas difficuldades.

Se ganhar tempo é não discutir o orçamento (apoiados), é deixar acabar o periodo que a lei marca para esta camara estar aberta, se é procrastinar as cousas para que a camara seja obrigada a votar a lei de meios, o que não posso acreditar, eu desde já digo a s. ex.ª o sr. presidente do conselho, e a todos os que me ouvem, que não voto a lei de meios, nem voto imposto de qualidade alguma sem que primeiro venha á camara a discussão do orçamento (apoiados), e sem que nós todos estejamos cabalmente convencidos de que podemos appellar para o povo seguros de que cumprimos o nosso dever reduzindo e cortando todos as excrescencias que haja nos serviços publicos (apoiados).

Portanto digo que, se é isto a phrase ganhar tempo, então eu rebello-me e revolto-me com todas as forças do meu animo contra esta phrase (apoiados). Mas, se tem outra interpretação, se a phrase ganhar tempo não quer dizer isto ou é apenas uma ociosidade, é um luxo de linguagem, é uma metaphora, é emfim uma figura rhetorica que nunca vi em Quintiliano algum, então passarei a esponja do esquecimento sobre esta phrase, pedindo a v. ex.ª e á camara desculpa por ter talvez exacerbado um pouco o sr. presidente do conselho, porque não era esse de modo algum o meu intento.

O sr. Presidente do Conselho de Ministros: — Eu protesto contra a phrase que o illustre deputado disse que eu pronunciei n'esta casa, e appello para os meus discursos, dos quaes nenhum tenho subtrahido á publicidade.

O illustre deputado disse que me ouviu esta phrase.

O sr. Osorio de Vasconcellos: — Eu ouvi essa phrase, mas talvez me enganasse.

O Orador: — Muito de proposito, apesar das minhas variadissimas occupações, as quaes toda a camara conhece, não tenho subtrahido á publicidade cousa alguma do que tenho dito n'esta casa (apoiados). Ahi estão os discursos que pronunciei, em nenhum d'elles se poderá encontrar a phrase ganhar tempo, pelo menos com a interpretação que lhe deu o illustre deputado, isto é, a de não se discutir o orçamento.

Eu podia dizer cousas amargas ao illustre deputado, mas não as digo.

(Áparte do sr. Osorio de Vasconcellos.)

Tinha direito de as dizer. Pois quem mais do que eu tem pedido a discussão do orçamento? (Apoiados.) Se a intenção do illustre deputado é exprimir aqui uma idéa de desconfiança a respeito do governo, protesto contra ella e commigo protestará, espero eu, o paiz inteiro.

Desde o principio d'esta sessão tenho eu pedido á camara que discuta o orçamento, tenho eu pedido á illustre commissão de fazenda que apresente os pareceres sobre cada um dos ministerios á medida que os tiver promptos, e depois do governo mostrar assim que estava inteiramente disposto a que se entrasse na discussão do orçamento, que estava muito desejoso de que se entrasse n'essa discussão (apoiados), apresenta-se um illustre deputado a dizer aqui, para que conste lá fóra, que o governo não quer que se discuta o orçamento!...

Então, se o illustre deputado ouviu essa phrase, porque não pediu explicação d'ella no mesmo momento em que a pronunciei? Era n'essa occasião, era quando eu acabava de dizer que ganhassemos tempo, que o illustre deputado devia perguntar o que similhante phrase queria dizer.

Não o fez e nem mesmo me pediu explicações na commissão de fazenda, a cujas sessões todas eu tenho assistido.

Pois o illustre deputado não me tem encontrado lá? Pois o illustre deputado não tem ouvido as declarações que eu tenho feito no seio da commissão de fazenda? Porque não me pediu então a explicação d'essa phrase?

S. ex.ª não me perguntou cousa alguma; deixou passar uns poucos de dias, e hoje vem com isto aqui, e se eu não estivesse presente, passava como caso julgado ter eu pronunciado a phrase que o illustre deputado me attribuiu, e com a explicação que s. ex.ª se dignou dar-lhe.

(Áparte do sr. Osorio de Vasconcellos.)

Desculpe-me a camara este calor, e permitta-me o illustre deputado que lhe diga, que se ha accusação injusta ao governo é aquella que acaba de lhe fazer o illustre deputado.

Podiam ainda os echos d'esta casa repetir as palavras que tenho pronunciado aqui constantemente, pedindo á commissão de fazenda que dê quanto antes o seu parecer sobre o orçamento (apoiados), que não espere mesmo o parecer geral sobre todo o orçamento, e que á medida que tiver examinado os diversos ministerios apresente o seu parecer sobre cada um d'elles (apoiados).

Eu tenho visto com muito desgosto, uma vez que o illustre deputado me chama para este campo devo dize-lo; tenho visto com muito desgosto que, ácerca das economias apresentadas n'um certo orçamento, as quaes foram todas apresentadas de acordo com o governo e sobretudo de acordo commigo, se tenha dito: o governo é verdade que não tem a iniciativa das economias, mas acompanha a iniciativa da camara.

O governo não tem a iniciativa das economias?!... A iniciativa d'estas economias é privativamente do governo, e o illustre deputado sabe isso muito bem.

Não se assevera n'esta camara o que o illustre deputado asseverou; porque é necessario que o paiz veja que todos nós estamos igualmente desejosos de remover as difficulda-