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SESSÃO DE 22 DE FEVEREIRO DE 1886 483

para qualquer dos membros do novo governo, para elle teria de ser fatal!
Não é esta a occasião propria para similhante ajuste de contas.
Mas não se illuda o nobre ministro, nem cuide que possam ser esquecidas tantas e tantas famosas diatribes, sempre vivas na memória de todos nós, e que de certo não saíram da penna, nem partiram da boca dos homens do meu partido. (Apoiados.)
Não é azado o momento para recriminações.
É cedo ainda.
Mas se os homens do governo, esquecidos das promessas que acabâmos de ouvir, quizerem, para desgraça sua e do paiz, renovar as tradições do 1879, fiquem desde já na certeza, que estreitas contas lhes serão tomadas, e que as retaliações hão de vir, quer isso lhes agrade eu não. (Apoiados.)
Não é de certo banal prometter economias. Bem ao contrario, esse é o dever, a primeira e principal obrigação do qualquer ministerio, e muito mais n'um paiz em que a questão de fazenda é a unica vital e assustadora.
Mas o que é banal é a simples enunciação de similhante promessa, logar commum estafado e velho de todos os programmas ministeriaes, apresentada como uma generalidade escusada, desde que se não fixam positivamente os ramos da administração publica em que ella poderá vir a realisar-se.
Ora a unica economia que o governo nos annuncia desde já, por uma fórma clara e definida, é a creação de mais um ministerio! (Apoiados.)
É novo, mas é bom. (Riso.)
Onde foi o governo inventar isso)
Quaes foram as discussões parlamentares ou as polemicas jornalisticas, que fizeram surgir na mente do governo esta urgente necessidade de crear um ministerio em que até hoje ninguem fallou? (Apoiados.) Eu tenho ouvido discutir mais de uma vez a necessidade e a conveniencia da creação de um ministerio de instrucção publica.
Não seria uma perfeita innovação, pois já existiu, já o tivemos na nossa epocha constitucional.
Mas a necessidade de um ministerio da agricultura e do commercio, separado do das obras publicas, demais a mais reconhecia e confessada por um partido que sempre nos tem accusado de exagerado amor pelos melhoramentos materiaes, é que eu não passo comprehender. (Apoiados.)
Para que fica então servido o sr. Emygdio Navarro, que não só é um dos mais bellos talentos do ministerio, mas um rude trabalhador, tão energico como experimentado? Para fazer caminhos de ferro?
Mas o partido progressista não os quer. Para abrir estradas? Mas o paiz tem quasi as que precisa. Para rasgar canaes e construir portos? Mas os homens que ali vejo sentados ainda o anno passado combateram o de Lisboa, e hoje se declararam inimigos d'esses grandes melhoramentos. (Apoiados.)
Sinto por mim, que sou amigo sincero do illustre ministro das obras publicas, e sinto pelo paiz, que tão mal queiram aproveitar uma das melhores e das mais bem fundadas esperanças do partido progressista. Mas não pensem illudir-nos, nem ludibriar o paiz. Ninguem acreditará na necessidade de um tal ministerio.
Sabe a camara, quer o paiz saber para que se pretende crear um tal ministerio? É para dar um premio de consolação a um corredor infeliz, que ficou desclassificado, não por lhe faltarem rijos musculos e sangue generoso, mas porque teve uma partida falsa (Riso. - Muitos apoiados.)
E para que a ninguem possam restar duvidas a similhantes respeito, um jornal da provincia, muito apreciado, e redigido por um publicista bem conhecido, foi que primeiro annunciou esta idéa salvadora do novo governo. E o promettido é devido.
Como pensa o governo em resolver o problema fazendario, que tanto preoccupa o paiz, ninguem ficará sabendo.
Agora como elle pretende resolver as suas difficuldades caseiras, é que já não fica sendo segredo para todos nos.
Mas será isso barato ao menos?
O ministerio de agricultura, segundo as declarações do sr. presidente do conselho, não castaria nada. Segundo o sr. Mariano de Carvalho já ha de custar um pouco.
na realidade ha de custar muito. (Apoiados.)
Eis a unica economia que o paiz póde já contar como certa. Outras virão, e no mesmo genero. Feito o que, e robustecido com a auctoridade e competencia moral que similhantes medidas não deixarão de lhe trazer, recorrerá, na phrase do sr. presidente do conselho, á bolsa dos contribuintes.
Animadora perspectiva!
Mas não é esta a unica penitencia do governo. A sua contricção vae muito mais longe.
Todos sabem que o partido progressista poz sempre a questão politica acima da questão de fazenda, ao contrario do partido regenerador, e que o sr. Luciano de Castro foi o principal collaborador, senão o verdadeiro auctor, do famoso programma da Granja, em que um tal credo ficou para sempre estatuido.
E como s. exa. não muda facilmente de opinião, a camara acaba de ouvir-lhe, que as reformas politicas ficarão para as kalongas gregas, isto é para um certo momento opportuno, que só o governo na sua alta sabedoria poderá determinar. Agrada ao menos uma franqueza assim. (Riso.)
Que justificação para o partido regenerador, e que condemnação formal e completa do seu proprio proceder! Para que haviam de desacreditar então as reformas politicas que nós fizemos? Pois não viam desde logo, que em tal caso a sua obrigação era fazerem outras? Se pelo contrario a reforma era boa, como agora se vê, a sua obrigação era tomar parte na discussão d'essa reforma, e envidar todos os esforços para n'ella ficarem igualmente traduzidos tanto quanto possivel as suas idéas. (Apoiados.) E elles que chamaram réles a essas reformas, quea final acceitam, indignam-se que o illustre deputado, o sr. Pinheiro Chagas, chame banal ao programma de moralidade e economica do sr. presidente do conselho.
Pois não é o sr. Pinheiro Chagas o unico que assim pensa. Essa é tambem a opinião do futuro ministro da agricultura. Porque emfim, apesar de ninguem ser completa na sua terra, eu permitto-me a vaidade de fazer uma prophecia. Eu vou dizer quem será o futuro ministro da agricultura. (Riso.)
É muita audacia, bem o sei, mas a fortuna espero que me protegerá.
Vou pois citar aos srs. ministros uma opinião do seu futuro collega, o sr. Oliveira Martins, (Riso.) referindo-se no seu Portugal comtemporaneo ao movimento conhecido pelo nome de janeirinha, e ao ministerio que d'elle saía, presidido pelo sr. duque d'Avila, que n'esta casa se apresentou com um programa tambem de moralidade e economia, encolhe desdenhosamente os hombros, e diz, se bem me recordo: «como se algum governo se houvesse apresentado a um parlamento affirmado a pravidade ou o esbanjamento». (Apoiados.)
Faço minhas as palavras do futuro ministro da agricultura.
Não queremos simplesmente que nos digam que hão de fazer economias. (Apoiados.) Visto que nos affirmam já uma nova despeza, digam-nos tambem quaes as economias que tencionam realisar.
Imagina o sr. ministro da fazenda que nos podemos contentar com a sua declaração, de que quando poder fazer lanços de estradas por 4:000$000 réis, não os fará por 5:000$000 réis, e que, podendo construir caminhos de ferro por 18:000$000 réis o hilometro, não irá construil-os por 20:000$000 réis?