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484 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Isso não é programma d'este ou d'aquelle governo, mas obrigação de todos os homens que honradamente acceitam o encargo de gerir os negócios publicos. (Apoiados.)
Deixando, porém, estas considerações, a que me forçou a resposta do illustre ministro da fazenda, vou agora referir-me ao que principalmente motivou o meu pedido da palavra.
Desejo fazer ao sr. presidente do conselho e ministro do reino uma pergunta sobro assumpto a que ligo a maior importancia, e em que comprometti de ha muito todos os meus esforços. Refiro-me ao conflicto levantado entre Braga e Guimaraes, bem como a um projecto que tive a honra de apresentar a esta camara, suscitado por aquelle conflicto.
Não é com intuitos politicos, nem para animar a desordem e a agitação das ruas, que me dirijo ao governo n'este momento. Nunca lhe crearei difficuldades d'essa ordem, excepto se o visse comprometter a independência do paiz, ou a fórma de governo que actualmente nos rege.
Seriam estas as duas unicas questões que me levariam a appellar para todos os meios de o combater até o ver saír d'aquellas cadeiras. (Apoiados.)
A camara sabe que, ao discutir-se aqui ainda ha pouco, e por incidente, a questão de Braga e Guimarães, e apegar de se sentarem então nas cadeiras do governo cavalheiros pertencentes ao meu partido, a quem eu devia toda a consideração e lealdade, de quem era amigo e partidario dedicadissimo, não duvidei declarar aberta e terminantemente que n'esta questão eu havia de insistir fóra de toda a disciplina partidaria, e em obediencia apenas a um compromisso de honra tomado para com os meus eleitores.
Tanto basta, para que ninguém possa suspeitar ou inquinar de malevoloncia politica o acto que pratico.
Procedo para com estes ministros, da mesma forma que procederia para com quaesquer outros, que ali estivessem sentados.
Pergunto, pois, ao sr. ministro do reino qual é a opinião do governo ácerca do projecto que tive a honra de apresentar á camara. Quaes eram as opiniões do sr. presidente do conselho e do sr. ministro das obras publicas, como deputados, sei eu; ouvi-as pronunciar n'esta camara.
É certo, porém, que na passagem do logar de deputado para as cadeiras do poder, as circumstancias especiaes da Administração, as complexas obrigações que impendem sobre os ministros, podem leval-os, muitas vezes, a modificarem as suas opiniões em harmonia com o interesse geral e o bem publico.
Toda a gente sabe, que o conflicto se aggravou, e que desde o seu principio o partido progressista tratou de fazer d'esta questão a mortalha do governo. Aguardou pacientemente a apresentação das propostas de fazenda, e apenas apresentadas, aproveitou a agitação que soubera conservar no Minho, para de um pequeno fogo passar a grande incendio.
Foi para o dominar que o governo transacto entendeu dever pedir o adiamento das camaras, que lhe foi recusado. D'ahi a crise ministerial, e a situação regeneradora desappareceu para ser substituída pelo ministerio progressista.
A agitação em Guimarães continua, e penso não haver nada que seja capaz de a dominar.
O sr. presidente do conselho, quando teve a palavra n'esta questão, pediu ao governo demissionario, e intimou-o mesmo a que manifestasse uma opinião franca e decisiva sobre o assumpto. Eu, pedindo a s. exa. que tenha tambem uma opinião franca e decisiva, não faço mais que repetir as palavras que s. exa. dirigi aos seus antecessores. (Apoiados.)
Aguardo, pois, a sua resposta, e como ha muitos oradores inscriptos, eu espero da benevolencia da camara, que ella me conceda o fazer novamente uso da palavra logo em seguida ao sr. presidente do conselho. (Apoiados.)
Vozes: - Muito bem.
(O orador foi cumprimentado.)
O sr. Ministro das Obras Publicas (Emygdio Navarro): - Em duas ordens de considerações dividiu o illustre deputado o seu discurso. Umas, foram dirigidas ao sr. presidente do conselho; as outras, a mim. A estas, só, responderei.
Mas, antes d'isso, cumpre-me agradecer ao illustre deputado e meu amigo as palavras de sympathia, que me dirigiu.
O militarmos em campos contrarios não impediu que entre nós nascessem e em breve espaço se estreitassem relações de cordial amisade. E o mesmo me succede a respeito de muitos outros membros do partido, que eu ainda ha poucos dias combatia, e que acaba de sair do poder. (Apoiados.)
No desempenho d'este elevado cargo, que me foi confiado, hei de esforçar-me por manter essas boas e sinceras amisades, que mais de uma vez têem sido, aos meus proprios olhos, a melhor consolação e calmante para as asperezas da vida politica; e creiam os illustres deputados, que o maior desgosto, que a carreira de ministro póde dar-me, será o de sair do governo tendo perdido a estima e os affectos de alguns dos cavalheiros que se sentam n'esse lado da camara e que com elles me honram.
Esta cordialidade de relações, que aqui se dá entre individuos, que honradamente cumprem os seus deveres partidarios, sem faltarem na menor cousa ao que d'elles exige o brio politico, (Apoiados.) não vale unicamente como facto individual e restricto. E de justiça generalisal-o.
A verdade é que no nosso paiz não ha odios politicos; ha só paixões. Os odios são sempre ruins, e as paixões raro deixam de ser nobres. (Apoiados.)
Ás vezes as paixões chegam a ser tão vehementes, ou tão exaltadas as manifestações occasionaes d'ellas, que parecem confundir-se com os odios; mas em breve volta a serenidade, e o espaço de vinte e quatro horas é muitas vezes sufficiente para que a distincção se affirme de um modo indubitavel.
O governo não espera, nem podia esperar, da maioria d'esta camara benevolência para a sua politica; mas está certo de que ha de ter d'ella, para os seus actos, a benevolencia que as circumstancias do paiz inspiram a todos nós. Momentos ha, e a conjunctura afigura-se-me ser uma d'essas, em que os homens de todos os partidos podem e devem encontrar-se numa collaboração pacifica e patriotica, sem offensa para as necessárias distincções partidárias, que mais tarde poderão affirmar-se com mais desafogo para os partidos, e com maior proveito para o paiz.
As declarações, que fez o sr. presidente do conselho, em nome de todo o governo, obedecem a este pensamento.
E agora vou responder mais precisamente a alguns reparos do illustre deputado.
O illustre deputado vae de certo ficar admirado por eu lhe dizer que a idéa da creação do ministerio da agricultura, commercio e industria é originariamente minha. Pois é verdade. Fui eu quem a suggeri ao sr. presidente do conselho. E não é de hoje, não é de hontem, não é de ha quinze dias; é de alguns mezes que eu tenho essa idéa, quando eu não suppunha que estava já tão breve o advento do meu partido a estas cadeiras. Nasceu em mim, e nos meus amigos, que de prompto a acceitaram, como em 1852 nasceu a idéa da creação do ministerio das obras publicas, a que o illustre chefe do partido regenerador tantas vezes se tem referido como um dos seus títulos de gloria. O momento psychologico, se me é permittida a expressão, é perfeitamente analogo. O pensamento de desdobrar o ministerio das obras publicas provém do influxo imperioso das circumstancias, como d'ellas proveiu a creação d'este ministerio em 1852. (Apoiados.)