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488 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

Sejam intolerantes, se isso lhes aprouver, que não os tememos, nem imploraremos misericordia (Apoiados.)
Fiquem, porém, na certeza de que se lhes pedirão estreitas contas por todos os seus actos. (Apoiados.)
E visto que o sr. Emygdio Navarro, meu prezado amigo, acceita tão resignadamente a exautoração que lhe querem impor os seus collegas, permitia me que eu mo revolte contra similhante loucura, que ha de não só custar carissima ao thesouro e ao paiz, mas annullar irremediavelmente o seu futuro tão esperançoso e promettedor.
O sr. Emygdio Navarro reduzido a um ministro para o expediente!?
Mas não sabe o paiz, não sabemos todos, que elle é ha quinze annos, na imprensa como no parlamento um obreiro energico e infantigavel, um athleta em demolir velhos preconceitos e abusivas praticas de administração?
Chega agora o momento de se affirmar tambem por actos de administração e de governo, e querem condemnal-o a uma inactividade forçada e cheia de desdouro.
S. exa. mostra-se excessivamente modesto, só acceita um tal papel.
Não ignora o illustre ministro que no ramo da agricultura, commercio e industria ha uma mina abundantissima por explorar, capaz, como nenhuma outra, de fazer a gloria de um homem de estado.
E elle, o audaz, o infatigavel, o ambicioso, mas de legitima ambição, encarrega dessa tarefa um outro, e vae descansar á sombra dos louros colhidos em pugnas muito gloriosas, mas até hoje estereis para o seu paiz?!
Lamento sinceramente, sangra-me o coração, ao ver que as conveniencias politicas obrigam um homem de tanto valor a sacrificar o seu talento e o seu futuro a pequeninas ambições e a ridículas questões de bastidores.
Ser ministro não vale nada. Ser um bom administrador, era uma ligitima ambição que s. exa. podia e devia ter. (Apoiados.)
O sr. presidente do conselho, José Luciano de Castro, não quer retaliações, porque não julga que este momento seja o mais azado para ellas.
Mas s. exa., para as evitar, desafia-nos! (Apoiados.)
Altivo e forte, provoca-nos a tirarmos qualquer partido da questão de Guimarães.
Ousem, se podem, diz sobranceiro.
A opposição sabe cumprir com os seus deveres, e eu, que alem de membro da opposição, sou representante) do circulo de Guimarães, posso affirmar a s. exa., que não viria a esta casa fazer da questão de Guimarães o uso que o ministerio actual fez, quando estava nos bancos da opposição.
Não pretendemos explorar com uma questão de ordem publica. Ainda n'isso nos apartâmos dos nossos adversarios.
Havemos de sustentar o bom direito e os princípios da justiça, mas nunca trabalharemos na sombra, nem faremos das paixões de uma cidade instrumento para escalar o poder.
O ministerio é grato a Braga, e assim devia ser.
Não podia renegar os seus cumplices da vespera.
Mas engana-se, suppondo que Guimarães se satisfará com as contemplações, que o sr. presidente do conselho já annunciou.
A cidade de Guimarães não está em almoeda, nem mercandeja com as suas pretensões! (Apoiados.)
Não ha contemplações que a satisfaçam, porque a questão para ella não é de interesses, a questão é de brio e de honra. (Apoiados.)
Contemplações d'essa ordem poderiam tel-as com Braga. Esta não se levantou senão pelos interesses do districto, e os interesses perdidos compensam-se com interesses novos.
Mas Guimarães não se levanta em nome dos seus interesses. A rasão unica da sua agitação, dos seus protestos, está na grande afronta que soffreram alguns homens distinctos d'aquella terra, investidos do uma magistratura respeitabilissima, conferida pelos povos do concelho. (Apoiados.)
Não julgue o governo que dá uma grande prova de firmeza, nem que resolve a questão pela fórma mais conveniente, senão para o governo, o que pouco me importaria, mas para o paiz, o que me importa muitissimo.
A questão de Guimarães, para cada um dos nobres filhos d'aquelle concelho, é hoje uma questão de honra individual e pessoal. E todos sabem, que as paixões e os sentimentos das collectividades obedecem á mesma psycologia que os dos individuos. Houve uma afronta gravissima. Sobro os offendidos choveram es chascos e quiçá as injurias, e não é mandando para Guimarães dois regimentos, como dizem que o governo vae fazer, que se hão do callar tão justificados resentimentos. (Apoiados.)
E a situação mais se aggrava, quando se sente que a justiça e o direito estão pelo lado de Guimarães.
Nada me espanta que outra seja a opinião dos srs. ministros do reino e das obras publicas, cujos principios auctoritarios são bem conhecidos. Mas surprehende-me vêl-a compartilhada por outros membros do gabinete, que iniciaram a sua vida politica á sombra de uma bandeira, onde se inscrevia um lemma bem mais liberal. Refiro-me aos srs. ministros da justiça, da fazenda e dos estrangeiros, que fizeram as suas primeiras armas às ordens do ministerio Sá-Vizeu. Na reforma administrativa então apresentada, e por s. exas. defendida, fazia-se repousar a divisão administrativa do territorio em bases tão democraticas como racionaes. Os interesses e as commodidades dos povos; a manifestação expressa das suas vontades, e até os prejuizos locaes, quando enraizados e vivazes, como factos importantes da sentimentalidade das populações, eis o criterio aconselhado para uma boa circumscripção administrativa.
Tudo isso vejo renegado.
Preferem os districtos symetricos e arredondados, traçados a régua e a compasso, uma bella theoria de cabelleira e de rabicho, muito em voga ahi por 1820.
Não querem ver que a actual divisão administrativa, feita artificialmente em 1834, não teve outro fim senão matar a antiga tradição provincial, que se julgou menos conveniente e favorável á implantação do constitucionalismo.
Nem liberaes, nem avisados, e o futuro se encarregará de lho demonstrar.
Os sentimentos e as paixões podem ser suffocadas num momento dado, mas para surgirem mais fortes no dia seguinte. E o ministerio, que acaba de confessar que as questões de administração se impõem a todos nós, resolvendo por esta fórma o conflicto de Braga e de Guimarães, deixa apenas levedando um terrivel fermento, que não só lhe ha de torturar a vida inteira, mas que o ha de vir a matar também. (Apoiados.)
D'ali partirá o rebate, chegada a hora da punição, quando voltarmos ás eleições com os tres rufos, as inscripções baixarem a menos de 40, e o paiz se enfadar das contradicções constantes de um ministerio, que, logo ao primeiro dia, renega as suas tradições liberaes de 1869, e as velidades revolucionarias da Granja, e que, se não veiu ao poder pelo acaso, na phrase do sr. Pinheiro Chagas, que tanto incommodou o sr. Luciano de Castro, chegou lá pela agitação das ruas...
(Interrupção do sr. Luiz José Dias).
Eu lembro apenas ao nobre deputado que em 1881 houve uma votação na camara dos pares, que determinou constitucionalmente a queda do governo. (Apoiados.)
Mas se o governo não veiu do acaso, como tanto lhe custa a ouvir, e deve a sua existencia a um acto do poder moderador, não é menos certo que esse acto foi provocado incontestavelmente pelo acaso.
A questão de Braga e Guimarães foi perfeitamente uma questão do acaso.