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498 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS

fórma decretada; mantém porém a esperança, de que caminharemos pouco a pouco, á proporção que nos formos livrando do peso das difficuldades financeiras em que nos encontrâmos e que conseguiremos mais tarde essa mobilisação, sem aggravar extraordinariamente as circumstancias do thesouro.
Feitas estas declarações e dadas estas respostas ás perguntas que lhe foram dirigidas, termina o orador dizendo, que na gerencia da pasta de que está encarregado, não póde deixar de limitar-se, por falta de recursos extraordinarios, simplesmente a administrar e a governar, e isso procurará fazer com acerto, equidade e economia.
Não póde nem deseja de modo algum sobresaltar o exercito com a idéa de novas reformas, ou seja a da organisação do exercito, ou sejam quaesquer outras.
Nas circumstancias financeiras em que nos encontramos limitar-se-ha, como já disse, a administrar com prudencia equidade e economia, mantendo a disciplina e desenvolvendo quanto possível a instrucção, dentro dos estreitos limites de que póde dispor; e não pense a camara que isto é pouco, porque administrar com equidade, economia, zêlo e acerto é justamente aquillo de que mais se carece n'este paiz.
(S. exa. foi cumprimentado por muitos srs. deputados.)
(O discurso será publicado na integra quando s. exa. o restituir.)
O sr. Ministro da Justiça (Francisco Beirão): - Como a hora está muito adiantada e eu desejava que a camara tomasse uma deliberação ácerca de duas propostas que vou mandar para a mesa, peço licença aos illustres oradores que ainda se acham inscriptos, para interromper o debate, rogando a v. exa. que tenha a bondade de submetter desde já á votação da camara as propostas a que me refiro, e que toem por fim poderem accumular os logares de deputados com as funcções que exercem no ministerio da justiça os srs. Manuel d'Assumpção e Germano de Sequeira.
Leram-se na mesa as seguintes:

Propostas

Senhores. - Em conformidade com o disposto no artigo 3.° do acto addicional á carta constitucional da monarchia, pede o governo á camara dos senhores deputados da nação a necessaria permissão para que possa accumular, querendo, as funcções legislativas com as do seu logar de director geral dos negocios da justiça, o sr. deputado Manuel d'Assumpção.
Secretaria d'estado dos negocios ecclesiasticos e de justiça, em 22 de fevereiro de 1886. = Francisco Antonio da Veiga Beirão.
Approvada.

Senhores. - Em conformidade com o disposto no artigo 3.° do acto addicional á carta constitucional da monarchia, pede o governo á camara dos senhores deputados a necessaria permissão para que possa accumular, querendo, as funcções legislativas com a do seu logar de juiz de direito da segunda vara da comarca de Lisboa, o sr. deputado Joaquim Germano de Sequeira. = Francisco Antonio da Veiga Beirão.
Approvada.

O sr. Carrilho: - Por parte das commissões de orçamento e de fazenda, peço a v. exa. que consulte a camara sobre se permitte que sejam aggregados ás mesmas commissões os srs. deputados Manuel dAssumpção e Pinheiro Chagas.
Assim se resolveu.
O sr. Marçal Pacheco: - Chego tarde o a más horas a este debate, mas ainda assim creio que hei de conseguir, em brevissimas palavras, definir a minha situação perante o novo gabinete.
Brevissimas palavras, como a solemnidade do momento e os melindres da conjunctura reclamam.
Declaro que sou opposição ao novo gabinete, não ás suas idéas, que tenho a ingenuidade pueril de acreditar que hão de ser as mesmas da situação transacta, mas opposição intransigente, franca e accentuada aos seus processos governativos, ás suas maneiras administrativas. (Apoiados.)
Se, na minha critica da nova situação, eu me determinasse pelo alto conceito que formo das capacidades e talentos dos novos ministros, quasi me sentiria inclinado a ser ministerial.
O partido progressista deu o melhor que podia dar; o gabinete tom ali a fina flor do seu partido, e, para que nada lhe faltasse, até foi convidado para fazer parte d'elle o meu honrado amigo, o sr. Antonio Candido, o que quer dizer que tambem ali está em espirito a mais bella, a mais brilhante, a mais prestigiosa palavra d'esta casa. (Apoiados.)
Mas a minha base de apreciação não póde ser esta.
Eu olho para aquelles homens cheios de formosas esperanças, de ridentissimo futuro, de grandes faculdades, e estou antevendo que elles hão de morrer apertados, suffocados, asphyxiados, ás mãos do espirito estreito, mesquinho e pharisaico do partido do onde saíram. São essas as suas tradições, é essa a sua indole. (Apoiados.) Nos partidos, como nas familias, ha qualidades hereditarias que não se perdem e difficilmente se apagam. (Apoiados.)
A estas horas estou em crer que, por esse paiz fora mais de uma tribuneca, mais de uma barraquinha, mais de um centriculo se terão armado para condemnarem o governo que está ali, porque não levantou já no caes do Tejo um patibulo para uso e consolo dos seus adversarios. (Apoiados. - Riso.)
Estão ainda na memoria de todos os processos de hontem. (Apoiados.)
Os annos de 1879 e 1881 não vão longe. (Muitos apoiados.)
É possivel que eu me engane. É possivel que o dia de hoje não seja o dia de hontem. Se assim for, tanto melhor para o paiz. Nós já ouvimos caír da bôca do nobre presidente do conselho palavras de paz e de tolerancia. Mas essas palavras de paz e de tolerancia foram incluidas no programma do novo gabinete, e todos sabem já o que valem os prograramas do partido progressista. (Apoiados.) Se s. exa. as não tivesse pronunciado, eu inclinaria o meu espirito a acreditar em paz e em tolerancia, como normas do novo governo, mas desde que as vi incluidas no programma ministerial, já estou a tremer. (Apoiados.) Temos os mesmos processos em acção! (Apoiados.)
Tambem ouvi fallar, como primeiro acto do programma governamental, na instituição de um ministerio de agricultura. Coherente com a minha ordem de idéas, eu quasi que não teria receio do cumprimento d'essa promessa, visto vir articulada no programma... mas d'esta vez abro uma excepção. E a excepção justifica-se, porque aquella creação do novo ministerio não é propriamente um artigo do programma, antes representa, segundo se diz, um artigo de necessidade da organisação ministerial, (Apoiados.) foi uma necessidade de compensação... (Apoiados.)
Diz-se e presume-se com bom fundamento que este, e não outro, foi o motivo da creação d'este novo ministerio da agricultura. Mas o meu espirito cede de presumpções em presença dos motivos reaes apresentados pelo sr. ministro das obras publicas.
Com effeito, ninguem dirá que o ministerio das obras publicas não está sobrecarregado de serviços; effectivamente, essa affluencia de serviços, os graves problemas de agricultura, commercio e industria, inherentes aquella pasta, obrigam ao desdobramento do ministério. Mas então occorrem outras observações.
Pois o ministerio progressista lembrou-se de ter dó de um homem infatigavel, activo, de larguissimas faculdades