618 DIARIO DA CAMARA DOS SENHORES DEPUTADOS
Elvas estar descançada, porque com as providencias que adoptei, os habitantes d'aquella praça estão ao abrigo de qualquer desastre que podesse occorrer em virtude das más condições dos paioes.
Agora pelo que diz respeita aos trigos na padaria militar, eu direi a s. Exa., que tanto o meu antecessor, como eu tambem, recommendámos sempre ao director da padaria militar, que consumisse exclusivamente trigos nacionaes, sempre que as necessidades do fabrico do pão, não exigissem farinhas estrangeiras. Ora, os trigos que se têem consumido na padaria militar, desde que eu estou no ministerio, para o fabrico do pão chamado de munição, são trigos exclusivamente nacionaes; são o trigo rijo e o trigo molle adquirido no Alemtejo e no Ribatejo. Apenas no anno de 1887 se comprou farinha que em parte era o resultado da moagem do trigo chamado palhinha, ou trigo estrangeiro; e esta farinha é que serviu para a confecção do pão chamado alvo, que é aquelle que se distribue ás praças graduadas, e que é em muito menor quantidade do que aquelle que se distribue aos soldados.
A não ser isso, a farinha dos trigos nacionaes não tem, para o fabrico d'este pão, as mesmas condições do trigo estrangeiro.
A quantidade de trigo rijo comprado em 1887, foi de 681:000 kilogrammas, de trigo molle compraram-se 701:000 kilogrammas e do trigo estrangeiro, absolutamente nenhum.
Quanto ás farinhas, compraram-se as necessarias para satisfazer aos preceitos da panificação do pão alvo. Os trigos comprados, como eu já disse, para fazer a maior quantidade de pão, que é chamado de munição, são exclusivamente nacionaes.
Agora em L888, que com grande economia para o ministerio da guerra, se arrendou por um certo numero de annos uma fabrica de moagens, sendo moido ali os trigos, por conta do ministerio da guerra, e começando já a fabrica a funccionar desde o principio de janeiro, é que se têem comprado os trigos estrangeiros necessarios para produzir a farinha.
Em logar de se comprar a farinha, compram-se os trigos necessarios; mas continua-se a compral os exclusivamente para o pão, que exige essa farinha, que é o pão alvo. Eu tenho aqui o mappa que diz, que desde janeiro d'este anno se compraram 500:000 kilogrammas de trigo rijo, na importancia de 21:285$000 réis; 425:000 kilogrammas de trigo molle, na importancia de 20:067$500 réis; e 320:000 kilogrammas apenas de trigo estrangeiro, na importancia de 16:580$000 réis, para com elle se fazer farinha, na nossa fabrica de moagens, necessaria para substituir a que se comprava para o fabrico do pão, de melhor qualidade, chamado pão alvo.
De maneira que, tanto no anno de 1887, como em 1888, os trigos comprados para serem moidos por conta do ministerio da guerra têem sido trigos exclusivamente nacionaes, o trigo rijo e o trigo molle, para o pão de munição; e só se tem comprado a farinha estrangeira indispensavel, segundo a opinião dos technicos, para melhorar o pão alvo.
Vê-se, portanto, que se comprou, sempre que foi possivel, trigo nacional para a moagem, satisfazendo assim a padaria militar ás recommendações que sempre lhe foram feitas.
Ha mais do um anno, vendo eu que a padaria militar estava muito mal installada, concebi a idéa de fazer uma nova installação, comprehendendo todas as officinas necessarias para a producção do pão, depositos dos generos necessarios para o exercito, tanto para homens como para o gado; emfim, um estabelecimento completo. Nomeei uma commissão para estudar essa questão e fazer um projecto. A commissão procurou em primeiro logar um local appropriado para uma tão vasta installação, e assentou que no convento do Grillo, ao Beato, com a expropriação de alguns outros terrenos o aproveitando a cerca actual, haveria o espaço necessario para essa installação.
Já se fez o projecto. A installação regula por 600:000$000 réis, suppondo, porém, a commissão que esta verba póde ser indemnisada por economias, que estão calculadas no projecto.
A padaria militar ficará assim em excellentes condições, com uma fabrica de moagens annexa, que poderá servir, não só para moer os trigos nacionaes para o fornecimento de pão ao exercito, mas tambem de pão e bolacha á armada, e poderá mesmo, se isso se julgar conveniente aos interesses da agricultura, alargar-se a ponto tal de poder fornecer em boas condições farinha aos particulares que ali quizerem mandar moer os trigos nacionaes.
Ainda não ha muitos dias que este projecto chegou ás minhas mãos.
Preciso estudal-o e combinar com os meus collegas o que se ha de fazer.
Poderá pensar-se que seja esta uma solução á importante questão do preço do pão e da protecção que é necessario dar á lavoura?
Não se me afigura de uma maneira muito clara o modo como o fornecimento do exercito, que comprehende apenas 20:000 a 22:000 rações, possa ter uma influencia directa, immediata e importante na questão cerealifera, quando o consumo em todo o paíz é de 4.000.000 a 5.000:000 de individuos, que todos se alimentam com melhor ou peior pão, em maior ou menor quantidade.
Não sei se simplesmente o consumo de uma certa quantidade de trigo nacional com o fornecimento do exercito, concorrer para resolver esta questão; entretanto a obrigação do governo, e em especial a minha como ministro da guerra, é não só fornecer de pão, o mais barato possivel, o exercito, mas tambem procurar quanto caiba na acção do ministerio da guerra, que se dê a protecção devida á agricultura. (Apoiados}
Mostro que tenho trabalhado n'este sentido, não só recommendando ao director d'este serviço para que se compre exclusivamente trigo nacional, sempre que não seja necessario empregar farinha estrangeira para melhorar o pão alvo; mas tambem mandando confeccionar este projecto, que está proximo a ter uma solução. (Apoiados.)
Não se me offerece mais nada a dizer.
O Sr. Arouca: - Agradece ao Sr. ministro da guerra as explicações que acaba de lhe dar; sobretudo agradece-lhe a clareza com que as deu, e a que o parlamento não está muito habituado desde que o partido progressista está no poder. (Apoiados.)
Mas, observa o orador, se os technicos entendem que é necessaria a introducção de farinhas estrangeiras para fazer o pão alvo, para que é necessaria a fabrica de moagens?
Sempre ouviu dizer que n'uma occasião critica, o diabo fez-se moleiro; mas o que receia agora é que o governo se faça padeiro.
E tambem tem muito receio de que n'esses calculos de economia succeda o mesmo que tem succedido com as reformas feitas pelos Srs. ministros das obras publicas e da fazenda.
O Sr. ministro da guerra esqueceu-se de lhe responder á ultima pergunta; mas elle, orador, repete-a agora ao Sr. ministro da fazenda.
Tenciona s. Exa. apresentar ainda n'esta sessão alguma proposta para resolver a questão cerealífera? Essa proposta vae alem da fabrica de moagens? Irá até ao augmento do imposto dos cereaes?
Aguarda a resposta.
(O discurso será publicado na integra, quando s. exa. o devolver).
O Sr. Ministro da Fazenda (Marianno de Carvalho): - Respondeu ao orador precedente.
(O discurso será publicado na integra quando s. exa. O restituir )