O texto apresentado é obtido de forma automática, não levando em conta elementos gráficos e podendo conter erros. Se encontrar algum erro, por favor informe os serviços através da página de contactos.
Não foi possivel carregar a página pretendida. Reportar Erro

SESSÃO N.º 34 DE 11 DE AGOSTO DE 1897 605

funccionarios publicos. Quantas vezes á falta de outro recurso o chefe do partido regenerador me escreveu pedindo me em nome da ordem publica para emprestar quantias, embora mais pequenas, mas urgentemente necessarias para pagar as ferias aos operarios da camara municipal!

Satisfiz sempre a esses pedidos sem levar um ceitil de commissão, contente de poder prestar serviço ao paiz e ao partido regenerador! Muitas vezes, quando não tinha dinheiro proprio disponivel, fui ao banco de Portugal garantir a camara municipal de Lisboa, para sob a minha responsabilidade, e firma, dadas gratuitamente, se lhe emprestarem algumas dezenas de contos de réis, para pagamentos urgentissimos. Quando em occasiões criticas alguns bancos, estiveram aponto de suspender pagamentos, sem que ninguem lhes valesse foi ainda a mim que se recorreu Quando o banco ultramarino, em tempos infelizes, muito atacado se viu na impossibilidade de pagar os cheques dos seus depositos e ninguem lhe queria emprestar um real, foi a mim que por conveniencia politica e do banco se dirigiu, o governo regenerador a pedir-me que valesse ao banco.

Que o diga o banco ultramarino; quantias de 100 contos de réis e outras que absolutamente ninguem lhe queria emprestar fornecia-lh'as eu repetidas vezes sem caução, nem commissão, unicamente como serviço prestado ao banco, ao paiz e ao governo.

Estou, e á camara vê-me deveras commovido, porque me custa trazer, pela primeira vez, a publico factos passados n'estes ultimos vinte annos, que nunca divulguei nem teria divulgado se me não provocassem.

Quando publiquei os artigos. «Em legitima defeza», tinha promettido historiar algumas das minhas operações com o estado e foi precisamente por estar então no poder o partido regenerador que não fiz essa publicação, não quiz n'essa occasião mostrar quanto tinha feito nem quanto o partido regenerador se tinha utilisado e havia confiado de mim, a ponto de me dar carta branca para dispôr de valores do estado e para fazer operações do ministerio da fazenda.

(Interrupção do sr. João Franco.)

N'um telegramma em que v. exa. me mandou dizer que fizesse pelo melhor.

Mas na mesma occasião das 400:000 libras, recebi outros telegrammas. Estava tudo em sobresalto.

Havia uma corrida ao montepio que ameaçava attingir o banco de Portugal. Decorreram trinta e um dias para encontrar um ministerio que quizesse succeder-se ao que estava demissionario, por toda a parte a suspeição, ninguem no paiz parecia querer dar um vintem que fosse para auxiliar o thesouro. Foi ainda, no meio dos acontecimentos a que acabo de me referir, que o governo me communicou que o concurso annunciado para a divida fluctuante que se í verificar d'ahi a poucos dias ameaçava não ser concorrido é que seria um verdadeiro desastre se elle ficasse deserto, pedindo por isso, a minha intervenção.

Em tal situação apertada, mandei um telegramma á minha casa dizendo lhe: que subscrevesse tudo que fosse necessario para que o paiz e o sr. ministro da fazenda, que era o sr, João Franco, fizessem boa figura.

E é depois de uma pessoa ter assim procedido que se fazem remoques, o sobre ella se vem lançar suspeitas mal cabidas!

Sr. presidente, estive tão ligado e fui tão dedicado ao partido regenerador que a camara ainda se deve lembrar que a esse partido se chamou a burnaysia.

Então só me achavam bom quando precisavam de mim, quando tinham afflicções ou se viam em apuros?

Já houve um jornal orgão do partido regenerador, que a proposito de uma questão qualquer para distruir a lenda da burnaysia entendeu que devia dizer de mim cousas desagradaveis e injustas.

Escrevi então ao sr. conselheiro Antonio de Serpa, chefe do partido regenerador, e director politico do jornal, que me atacava, censurando o facto, sabe a camara o que me respondeu s. exa.?

O illustre chefe do partido regenerador não hesitou, em lealmente reconhecer e declarar que o auctor do artigo tinha procedido com brutalidade e injustiça!

Ahi está sr. presidente, quem se encarregou de julgar o procedimento de alguns membros do partido regenera dor para commigo.

Tenho dito.

O sr. Presidente: - A hora está dada, entretanto vou consultar a camara se esta entende que o sr. deputado Jacinto Candido póde usar da palavra.

O sr. Franco Castello Branco: - Não discute se é o partido regenerador que deve favores ao sr. Burnay, ou se é esto senhor que se deve áquelle partido; simplesmente quer explicar que a unica operação que fez com s. exa. como ministro da fazenda, e a que já alludiu o illustre deputado, realisou-se em circumstancias difficeis. Foi logo apoz a rejeição do convenio luso-britannico;, estando demissionario o gabinete; e fel-o a rogo do governador do banco de Portugal, o sr. Pereira de Miranda, que lhe solicitava alcançasse a verba precisa para evitar as difficuldades com que áquelle banco poderia luctar em seguida á corrida ao monte pio geral.

Depois de ter telegraphado ao Crédit Lyonnais e ao Crédit Industrielle, que se recusaram a fazer a operação, com o fundamento na agitação que lavrava no paiz, motivada pelo convenio com a Inglaterra, telegraphou então ao sr. conde de Burnay, que então tinha ido a Paris para negociar o emprestimo dos tabacos, pedindo-lhe que se encarregasse da operação. S. exa. respondeu affirmativamente, mas impondo como condição a opção das operações futuras, opção que o orador não acceitou, dizendo-lhe apenas que não faria questão de juro.

O sr. Presidente: - Consulto a camara sobre se permitte que eu dê a palavra ao sr. Jacinto Candido para explicações.

Assim se resolveu.

O sr. Jacinto Candido: - V. exa. comprehende que, depois da benevolencia da camara, concedendo-me que use da palavra, não posso, nem devo, abusar do favor, que me foi concedido. Serei, pois, muito breve e resumido.

O sr. conde de Burnay attribuiu-me propositos, que se não continham nas minhas palavras, nem estavam na minha intenção, quando fiz a minha pergunta, sobre a partilha dos lucros da companhia com o estado, ao sr. ministro da fazenda, em face das informações documentadas de um jornal de, hontem. Limitei-me a perguntar a s., exa. se conhecia a questão; no caso affirmativo, qual o seu ponto de vista a respeito d'ella; - e, em todo o caso se o governo estava, ou não, disposto, a fazer entrar nos cofres do thesouro todas é quaesquer quantias, que lhe fossem, devidas - não me referi, n'estas perguntas, nem ao sr. conde de Burnay, nem a pessoa alguma da companhia. Limitei-me a pedir informações sobre uma questão do dia importante e interessante, e a respeito da qual o governo devia de ter uma opinião.

O que, a este proposito, o sr. conde de Burnay architectou, para entreter a attenção da camara, allegando todos os serviços, intimidados e relações, pessoaes, politicas, partidarias e financeiras, que manteve com o governo passado, sirva de lição aos futuros politicos, que tenham de tratar com s. exa. As suas manifestações perante o parlamento servem apenas para indicar as cautelas, as precauções de que todos se devem rodear, porquanto não se confunda: os serviços que prestou a todos os partidos, não os prestou aos homens, prestou-os ao paiz, se os prestou, e s. exa. vem atiral-os ás faces dos homens, não respeitando até as cinzas dos que jazem debaixo da terra.

Não commento nem aprecio os factos; e s. exa. vem hoje