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tade uma minuciosa descripção das scenas de ferocidade e de vergonha, que esta villa está com espanto e assombro observando!»

Não posso comprehender onde estivesse a coação. Pois a tropa coagiu os e vieram para o meio da tropa lazer o seu protesto! (Muitos apoiados).

Foi tambem grande motivo de terror na Regua, o estarem dois homens segundo disse o illustre deputado, á porta da assembléa armados de clavinas e cartucheiras á cinta. Devo observar á camara que taes homens não appareceram lá armados, e emquanto não vem um documento que mandei agora buscar, permitta-me a camara que diga, que pessoa que para mim é um cavalheiro perfeito, e que era, um dos candidatos da lista opposicionista da Regua, me disse que taes homens armados lá não estavam. Este cavalheiro era o sr. Amaral, muito conhecido e amigo dos srs. Pintos de Magalhães, de Alijó, e conhecido como homem de muita honra por muitas pessoas que aqui estão. Encontrei-me por acaso com este cavalheiro em Amarante, quando eu vinha para Lisboa, e disse-lhe: «Tenho ouvido dizer tanta cousa por um e outro lado contra as eleições do concelho da Regua, que peço que me esclareça sobre o que houve». Esse cavalheiro disse-me: «Houve muita paixão de um e outro lado; muita provocação de um e outro lado, mas tem-se mentido muito em toda esta questão». Isto são expressões de um amigo que eu relato, taes quaes elle m'as contou.

Perguntei-lhe: «E quanto a esses dois homens que estavam armados á porta da assembléa, foi isso verdade?» Respondeu-me: «A porta estavam dois empregados de policia, porque o espaço era pequeno e entrando para dentro todos os que quizessem entrar e que não tinham direito a votar, quando viessem os eleitores não podiam entrar». Mas estavam armados? Respondeu-me: «Não sei se tinham armas escondidas, mas não se lhes via nenhuma».

Ora este cavalheiro respeitabilissimo era incapaz de faltar á verdade, e era, como disse, um dos candidatos á lista opposicionista da camara da Regua. O sr. Amaral sustenta o que disse em toda a parte. Tenho inteira fé na sua honra e cavalheirismo.

Mas não é só o testemunho do sr. Amaral, é o testemunho de mais alguem. Aqui está o que dizem os dois officiaes que commandaram a força armada que foi requisitada para o concelho da Regua...

«Ill.mo sr. — Em resposta aos quesitos, sobre os quaes V. s.ª no seu officio n.° 229, de 30 de novembro ultimo, me pede declare o que se me offerecer, sou a dizer:

«Que não vi gente armada a vedar a entrada a individuo algum, que tivesse de votar para vereadores da camara municipal na assembléa da Regua no dia 22 de novembro do corrente anno.

«Que durante a eleição a força militar de infanteria, que por essa occasião ali se achou debaixo do meu commando, esteve collocada em tres differentes pontos, dos quaes não sé avistava a casa em que se estabeleceu a assembléa eleitoral; apenas uma patrulha de cavallaria girou por algum tempo na rua em que fica a dita casa.

«Que pela auctoridade administrativa não me foi requesitada força, nem n'esta auctoridade percebi intenção de a empregar, para carregar sobre os individuos que estavam reunidos junto á casa da assembléa e n'aquellas proximidades.

«E que emquanto no referido dia 22 me conservei na villa da Regua não vi praticar violencias ou outros quaesquer actos attentatorios da segurança individual.

«De quanto fica exarado pôde V. s.ª fazer o uso que lhe aprouver, para o que é d'esta fórma por mim auctorisado.

«Deus guarde a v. s.ª Quartel em Lamego, 2 de dezembro de 1863. — Ill.mo sr. administrador do concelho do Peso da Regua. = João Antonio Ferreira dos Santos, capitão do regimento n.° 9».

«Destacamento de infanteria n.° 13 em Villa Real. — N.° 8. — Ill.mo sr. — Para satisfazer ao que v. s.ª me pede no seu officio de 1 do corrente, relativo aos factos que se deram na noite de 21 para 22 de novembro passado, e bem assim n'este mesmo dia, direi:

«Que depois da força do meu commando estar aquartellada me foi requisitada pelo sr. administrador do concelho, seriam oito para nove horas da noite, uma força para obstar a uma desordem produzida por uns tiros que se dizia serem disparados das janellas de um armazem; e mandando logo uma força de oito soldados e um cabo, que permaneceram n'esse local até pela manhã, a ordem foi immediatamente restabelecida.

«Que não vi que o sr. administrador do concelho empregasse meios violentos servindo-se da força do meu commando para afugentar os eleitores da uma, pelo contrario o vi servir-se de meios conciliadores quando existia alguma altercação.

«Que a força do meu commando esteve durante o dia 22 collocada no adro do Senhor do Cruzeiro, d'onde se não via a casa da assembléa eleitoral; e não me consta que a ordem fosse alterada n'essa dia.

«Que não recebi ordem do sr. administrador do concelho para invadir á força a casa da companhia nem outra qualquer, nem me consta que isso tivesse logar.

«Que em vista da maneira por que os animos se achavam exaltados, haveria, talvez, a lamentar muita desgraça se não fosse a presença da força armada.

«D'esta minha declaração pôde V. s.ª fazer o uso que lhe aprouver.

«Deus guarde a v. s.ª Quartel em Villa Real, 5 de dezembro de 1863. — Ill.mo sr. administrador do concelho do Peso da Regua. = Augusto Cesar Saraiva, capitão do regimento n.° 13.»

Por consequencia, ao testemunho do sr. Amaral, de um cavalheiro tão respeitavel como elle é, é que é incapaz de faltar á verdade, vem juntar-se o depoimento de duas testemunhas maiores de toda a excepção, que não são suspeitos, dois officiaes distinctos, não só porque o Seu cavalheirismo, o pundonor e brios militares lhes vedava faltar á verdade, mas porque não quereriam de certo carregar com a responsabilidade moral que lhes resultava se a occultassem ou desfigurassem, e porque fôra do alcance das paixões que se agitavam na Regua, não tinham interesse em occultar o que soubessem.

, Ahi tem a camara o que elles disseram, e eram incapazes de dizer uma cousa que não fosse exacta (muitos apoiados). Está provado por consequencia que a força armada se não ingeriu nos actos eleitoraes (apoiados); está provado que não haviam taes homens armados á porta da assembléa (apoiados), e emquanto á coacção que exerceu a força armada, vou ler á camara um documento que tambem não deixa de ser curioso. E um artigo escripto e assignado pelo proprio cavalheiro que fez o protesto em face da força armada no dia da eleição. E quer v. s.ª saber o que elle vem dizer agora?

«Não temiam os eleitores que se repetissem de dia as infamias commettidas nas trevas da noite, porque ora dia e estavamos ao abrigo de força armada que, repetindo se aquellas infamias, tinha obrigação de as repellir; a falta pois d'este apoio fez com que não podessem impedir a assignatura do protesto, e muito menos o fazer-se; tentasteis impedi lo, mas faltou vos a força e o vinho que tivesteis para no escuro da noite commetterdes as infamias que, por serem já de todos assas sabidas, não repito aqui.»

Até aqui era a força armada que os coagia, e aqui dizem que = não temiam nada, porque estavam ao abrigo da força armada = (riso). Portanto aqui tem tambem comprovado, porque provado estava até á saciedade pelo depoimento dos dois officiaes que commandavam a força na assembléa da Regua, que ella não violentou nem coagiu ninguem (apoiados).

O concelho do Peso da Regua tinha sido dividido em tres assembléas; uma no Peso da Regua e as outras em Fontellas e Sedellos.

N'estas duas ultimas as cousas correram com toda a regularidade, porque a opposição contava vencer, e então não lhe convinha perturbar a ordem; por conseguinte não houve protestos; e é por esta rasão que vem o illustre deputado dizer que = nas duas assembléas a opposição tivera immensa maioria =; o tendo immensa maioria nas outras, admirava se que na Regua só tivesse a opposição quatro votos; mas se o illustre deputado fizesse entrar na casa da assembléa os 200 ou 300 eleitores que protestaram, e elles votassem como podiam votar e ninguem lhes estorvou que votassem, já a lista da opposição não apparecia só com 10 votos... (muitos apoiados).

O sr. Bernardo Ferreira: — Não os deixaram lá entrar.

O Orador: — Os taes trabucos é que os não deixaram lá entrar?...

(Interrupção do sr. Bernardo Ferreira que se não percebeu.)

O Orador: — E mais rasoavel o illustre deputado pedir a palavra e depois combater (apoiados); é mais regular do que estar a interromper uns aos outros, porque nunca interrompi pessoa alguma...

O sr. Bernardo Ferreira: — Estou no mesmo direito, visto que os outros tambem interrompem.

O Orador: — Nunca interrompi ninguem, e appello para o testemunho, de todos os membros d'esta casa...

Vozes: — É exacto.

O Orador: — Ha no concelho da Regua entre muitos cavalheiros respeitaveis, um respeitabilissimo, que é o sr. Camillo de Macedo (apoiados); e quando este cavalheiro disser que a cousa é branca, pôde acreditar toda a gente que ella é branca; mas se disser que ella é preta, é porque ella é preta, e ninguem a faz branca por mais voltas que lhe dêem (apoiados). O sr. Camillo de Macedo é um cavalheiro tão respeitavel, que o sr. Joaquim Pinto de Araujo; irmão do sr. Manuel Pinto de Araujo, nosso collega, mesmo no meio d'aquella grande excitação em que estava a Regua, no meio de acaloradas discussões e artigos insultantes que se dirigiam de parte a parte, appellou para o testemunho do sr. Camillo, e disse: «O que disser o sr. Camillo de Macedo é a verdade». Quer a camara saber o que diz o sr. Camillo de Macedo? Eu lh'o digo. Vae ver o que diz um homem insuspeito, para cujo testemunho se appellou.

«Sr. redactor. — Na correspondencia do sr. Joaquim Pinto de Araujo, datada de 1 do corrente mez, e publicada no seu acreditado jornal, com relação aos acontecimentos eleitoraes, que n'esta villa tiveram logar na noite de 21 para 22, e dia 22 de novembro ultimo, appella-se para o meu testemunho.

«Serei pois tão franco como verdadeiro na narração d'elles, por isso que os presenciei na maior parte, acompanhando quasi sempre n'aquella noite o sr. administrador d'este concelho.

«Próximo á noite de 21 foi este senhor avisado de que por ordem do chefe da opposição se reuniam na casa da companhia e nos armazens do sr. Torres, situados no extremo da rua da Ameixeira, uma numerosa porção de gente armada, com o fim de, á hora aprasada, assaltar a casa da camara.

«Em consequencia pois, d'este aviso, fez o sr. administrador reunir de prompto na casa da administração alguns cabos de policia sob as ordens do seu regedor e muitos dos seus amigos, entre os quaes me achava eu tambem, com o fim determinado de obstar a qualquer tentativa contra a casa da camara, e como supporte fez postar n'uma casa, pouco distante d'aquella, as quarenta praças de infanteria n.° 13, que pouco antes tinham chegado a esta villa, a requisição do presidente da assembléa para a manutenção da ordem no dia da eleição camararia.

«Dispostas e prevenidas assim as cousas, ás oito horas da noite, pouco mais ou menos, saíu o sr. administrador do concelho acompanhado tão sómente pelo sr. Cypriano Canavarro e por mim, em observação, dirigindo-nos para a rua da Ameixeira, aonde estão os armazens do sr. Torres, e para onde se dizia continuava a recolher-se gente armada. Um pouco adianto d'estes armazens, defronte dos quaes tinha ficado o sr. Canavarro, encontrámos logo dois homens armados com direcção aos mesmos, sendo um d'elles, por mim bem conhecido, tanoeiro do sr. Torres.

«O sr. administrador intimou-lhe a voz de presos fazendo-os seguir para o corpo da guarda de infanteria n.° 13, porém a pouca distancia deitaram a fugir e não foi possivel alcança-los.

«Sendo confirmadas por este facto as noticias da gente armada n'aquelle ponto, entendeu o sr. administrador fazer marchar para defronte dos armazens um piquete de oito soldados e seis homens dos que estavam na casa da administração, com o fim de obstar á continuação da reunião de mais gente armada n'aquelle sitio.

«Quando ali chegou esta força foram-lhe disparados de dentro dos armazens do sr. Torres, segundo affirmaram todos os soldados e homens que os acompanharam, dois ou tres tiros de espingarda, aos quaes responderam immediatamente com uma descarga, que felizmente não feriu ninguem, terminando este conflicto sem nenhuma outra consequencia desastrosa, devido tão sómente aos esforços do sr. administrador do concelho e de alguns seus amigos que ali correram logo para esse fim. Receiando o sr. administrador, por similhante provocação, a continuação de outros attentados por parte da opposição, e sabendo ao mesmo tempo que, alem d'aquellas duas forças reunidas na casa da companhia e armazens do sr. Torres, se achava ainda outra postada proximo á ponte de Jugueiros, resolveu, em harmonia com as instrucções do chefe superior do districto, requisitar mais sessenta praças de infanteria n.° 9.

«D’esta diligencia, prevenida já pelo telegrapho, foi encarregado seu proprio irmão; e quando este, seriam onze horas da noite pouco mais ou menos, atravessava na barca da passagem o rio Douro, foram lhe disparados alguns tiros. Se das immediações da casa da companhia, ou se de outro qualquer sitio, não o posso affirmar porque o não vi, nem com certeza o pude ainda saber; mas o que é certo, e que ninguem poderá com verdade negar, é que os tiros lhe foram disparados. Em uma das occasiões em que o sr. administrador, acompanhado de alguns seus amigos, rondava nas proximidades dos armazena do sr. Torres, appareceu na frente e na direcção de Jugueiros um cavalleiro, precedido de um homem a pé, a quem mandaram fazer alto para ser reconhecido. Não obedecendo á intimação marchou para a frente, e quando já voltava para a rua do Cruzeiro lhe foi disparado da retaguarda um tiro. Este cavalleiro era o sr. Joaquim Pinto de Araujo, que vinha de casa do sr. Torres.

«Pouco depois d'este acontecimento e quando saia da casa dos srs. Henriques, moradores no primeiro andar da casa da camara, e atravessava a pé a rua por entre a gente que ali estava, segundo affirma meu filho Camillo, que tambem ali se achava, foi ameaçado por dois homens armados que lhe apontaram as armas; mas foi promptamente soccorrido pelo dito meu filho, e nenhum insulto mais soffreu. Não desculpámos nem podemos louvar o acto, antes o estigmatisamos, no entretanto o sr. Araujo foi imprudente em se apresentar n'uma occasião de conflicto tal, armado de um rewolver, entre pessoas que sabia lhe não eram affeiçoadas e a quem por muitas vezes e pouco tempo antes tinha insolitamente offendido pela imprensa. Bastante depois appareceu proximo á casa da companhia o tal pobre carreiro do Salgueiral, que não ía do trabalho para sua casa, como diz o sr. Araujo, mas que vinha da sua casa do Salgueiral reunir-se á força da casa da companhia, como elle mesmo confessou, e quando o prendiam e quizeram desarmar resistiu tenazmente, e foi então que lhe deram uma bofetada e uma coronhada, da qual resultou um leve ferimento. Mais tarde tambem appareceu em frente da casa da camara outro homem, empregado no serviço do sr. Antonio Bernardo Ferreira, armado com duas pistolas e um punhal, com o fim de espionar o que se passava n'aquelle sitio; foi preso e desarmado depois de bastante resistencia, e quando era conduzido para o corpo da guarda de infanteria n.° 13, que era proximo, fugiu na direcção da casa do mesmo sr. Ferreira, á porta da qual foi novamente preso. Vi lhe sangue no nariz procedido de alguns murros que lhe deram quando resistiu. Mas alguns homens appareceram durante a noite que, por inermes e parecerem insuspeitos, ninguem se embaraçou com elles.

«Seriam seis horas da manhã do dia 22 quando chegaram a esta villa as sessenta praças de infanteria 9, requisitadas pelo sr. administrador. Com esta força e a de infanteria n.° 13, que aqui já se achava, procedeu o sr. administrador a uma busca na casa da companhia e nos armazens do sr. Torres, e ainda ali encontrou, apesar de já se terem evadido muitos, para mais de cento e cincoenta homens, segundo o que muitas pessoas e o proprio sr. administrador me affirmou, as quaes por essa occasião a pedido meu não foram presas.

«A casa da camara, que durante a noite tinha sido guardada e occupada pelos cabos de policia e amigos do sr. administrador, foi na madrugada do dia 22 evacuada, não apparecendo dentro d'ella mais ninguem armado, e foram fechadas as portas. As oito e meia horas da manhã foram estas de novamente abertas, porque junto ás quaes já se achavam todos os eleitores das freguezias de Covelinhas e Gallafura, com pequenissima excepção, uma grande parte