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dos d'esta villa, de Canellas e Loureiro, e alguns de Villa Secca de Poiares e Villarinho dos Freires.

«As nove horas precedeu se á formação da mesa preparatoria, á qual ninguem da opposição concorreu. Na occasião em que se tinha de proceder á formação da mesa definitiva foram postados á porta da casa da camara dois homens, Pedro Maria Cardoso e seu irmão Custodio Maria Cardoso, não armados, como diz o sr. Araujo, mas completamente inermes, com recommendação de evitarem a entrada tão só e unicamente ás pessoas influentes da opposição da freguezia de Godim, que ali não eram votantes, a fim de evitar que se renovassem as scenas da noite anterior.

«A ninguem mais era vedada a entrada da casa da camara, aonde todos os eleitores podiam votar como quizessem, e tanto assim que os meus particulares amigos, os srs. Avellar e Penetra, duas das mais notaveis influencias da opposição, ali estiveram por algum tempo proximos da mesa eleitoral, correndo todo aquelle acto até final sem o menor incidente.

«Depois das dez horas appareceram á porta exterior da camara os srs. Champalimaud e Pacheco, influencias da opposição, mas não votantes n'esta assembléa, aos quaes, pelas rasões já dadas, foi negada a entrada, seguindo-se por isso altercações entre estes senhores e o sr. administrador do concelho. Em seguida e com permissão do mesmo sr. administrador resolveram aquellas e outras influencias eleitoraes da opposição fazer no meio da rua e quasi defronte da casa da camara um manifesto, que fizeram assignar por todas as pessoas que o quizeram, não havendo n'este acto a menor coacção, nem sequer um pequeno dito de provocação.

«A força de infanteria, que tinha sido requisitada para manutenção da ordem e socego publico, achava-se postada em tres differentes pontos, parte no meio da rua da Alegria, outra parte no largo do Cruzeiro, e a restante proximo á casa do sr. Ferreira.

«Nenhuma d'estas forças, aonde se achavam postadas, via nem podia ser vista pela gente que estava na casa da camara ou proximo a ella.

«Uma patrulha de dois soldados de cavallaria girava desde o cimo da rua da Alegria até ao largo do Cruzeiro.

«Finalmente, desde a madrugada do dia 22 até á noite houve o mais perfeito socego, e nem o mais levemente foi alterada a ordem.

«Eis os factos acontecidos, e tão singela como verdadeiramente narrados, não receiando por isso que com justiça possam ser desmentidos. Em vista pois do que deixo dito, quem foram os sicarios? D'onde partiu a provocação dos conflictos que se deram na noite de 21 para 22?

«Para que, e com que fim, se reuniu gente armada na casa da companhia, nos armazens do sr. Torres e proximo á ponte de Jugueiros?

« Os srs. Francisco José da Silva Torres, Antonio Bernardo Ferreira e todos os mais signatarios da representação e manifesto mentiram ao Rei. Digo com voz firme e bem alto, para que seja sabido por todos, que mentiram ao Rei, quando na representação dizem que foram disparados tiros para duas casas particulares da sr.ª D. Antonia Adelaide Ferreira, e quando alteram exagerando os acontecimentos da noite de 21 para 22. Que mentiram ao Rei, quando no manifesto dizem que homens armados de bacamarte apontam ao peito dos eleitores ao manifestarem a intenção de querer entrar na casa da camara, e outras que taes parvoíces. Que faltou á fé da verdade o escrivão que reconheceu as assignaturas do manifesto como feitas na sua presença no dia 22, quando bastantes dos signatarios não eram por elle conhecidos, e outros o assignaram dias depois.

«Que faltou á fé da verdade quando reconheceu assignaturas de cruz de pessoas que sabiam escrever, e não assignaram o tal manifesto.

«Que faltou á fé da verdade, finalmente, quando reconheceu assignaturas de outras pessoas que nunca o subscreveram.

«Para estes mentirosos e falsarios, sr. redactor, é que eu peço e espero um exemplo de alta moralidade.

«Régua, 6 de dezembro de 1863. — Camillo de Macedo.

«(Segue-se o reconhecimento.)»

Ora o tabellião faltou tanto á fé da verdade, que lá está mettido em processo. O tabellião, que reconheceu nomes de individuos que não tinham assignado, lá está mettido em processo. O sr. Pinto de Araujo estranhou muito, e eu tambem estranho, que fossem dados como tendo votado homens que ali não estavam. Realmente é um grande escandalo, se tal foi, não sei se o foi, duvido que o fosse, mas se o foi é um escandalo que não desculpo nem perdoo, porque não desculpo escandalos de qualidade alguma, venham d'onde vierem (apoiados). Mas não será tambem escandalo virem assignados no manifesto, que se apresentou á augusta pessoa de Sua Magestade, nomes de individuos que nem tinham assignado nem dado procuração para assignarem por elles? O tabellião praticou um acto de deslealdade e de má fé reconhecendo nomes de individuos que não conhecia, mas quem assignou esses nomes e depois os apresentou ao desgraçado escrivão d'aquelle concelho foi tão miseravel como o escrivão.

Os nobres deputados disseram que se ouvisse bem ler esta carta, mas se ella prova que houve algumas violencias, prova tambem por quem foi feita a provocação, e prova tambem que não houve taes homens armados á porta da igreja, e são já quatro testemunhas que dizem que não foram armados, porque não haviam taes homens armados. No entretanto o sr. deputado disse aqui em alto e bom som, que toda a camara ouviu, que estavam dois homens armados de carabinas e com cartuxeiras á cinta; e o caso é muito diverso.

A camara fará o juizo que quizer dos documentos que acabo de ler, e eu passo agora para o concelho de Villa; Pouca de Aguiar. O concelho de Villa Pouca de Aguiar, foi dividido em tres assembléas, uma na capital do concelho, outra na freguezia de Pensalvos, e outra na freguezia do Bornes.

Principiarei pela analyse do que se estabeleceu na cabeça do concelho. N'esta assembléa a opposição contava vencer por uma immensa maioria. E por consequencia pelas rasões que já demonstrei, e porque a opposição contava vencer a eleição, a ordem não foi nem levemente alterada, correu tudo muito regularmente. Não houve protesto, nem houve dissabor algum n'aquella assembléa, nem mesmo uma expressão que estranhasse por parte da opposição qualquer acto menos legal que lá se praticasse, sendo esta assembléa presidida pelo proprio chefe da opposição no concelho de Villa Pouca de Aguiar, por um homem que de certo não deixaria escapar a mais pequena nullidade ou illegalidade da parte da auctoridade sem protestar contra ella. Pois elle proprio confessou á noite que a ordem e a legalidade não tinham sido nem levemente offendidas. Quer dizer, nem levemente offendidas pelo lado dos governamentaes, porque pelo lado da opposição não deixou de se tentar a fraude e illudir a verdade.

Trago isto para responder ao sr. deputado Pinto de Araujo, que quiz fazer uma censura ao delegado da comarca, chamando a attenção do sr. ministro da justiça para o que elle tinha praticado.

Trago isto para certificar á camara e ao sr. ministro que o delegado do concelho de Villa Pouca de Aguiar é um dos magistrados mais rectos, mais imparciaes e mais cumpridores do seu dever que conheço. Mas o delegado do concelho, comquanto seja progressista, nem sequer foi votar, imitando o honrado juiz, que tambem fez o mesmo.

O administrador do concelho saíu de Villa Pouca, porque foi chamado a Bornes, onde tinha sido alterada a ordem, e levou comsigo a força de infanteria n.° 13 que estava em Villa Pouca. Quando perto do pôr do sol, estando ultimada a recepção das listas, era preciso fechar a uma, o presidente da assembléa, em logar de metter os cadernos dentro da uma, metteu os no bolso: era para que se não perdessem talvez. Tres ou quatro eleitores a quem o acto pareceu feio não consentiram que os levasse, e principiaram 1 a altercar. Foram chamar o delegado, dizendo lhe que estava para haver desordem na casa da assembléa. O delegado foi, o estranhou acremente ao presidente da assembléa o querer levar os cadernos para casa, e exigiu-lhe que os mettesse na urna como mandava a lei.

Aqui está todo o acto ou o unico acto do delegado nas eleições. E vem fazer-se uma accusação ao sr. ministro da justiça contra um magistrado que se houve d'esta maneira; que amigos da legalidade!! E vem dizer-se que o juiz estranhara ao delegado publicamente o ter praticado aquelle acto. O juiz era incapaz de o estranhar, porque é um homem que honra a magistratura portugueza, é o sr. Maximiano Osorio (apoiados), que esta casa conhece muito bem, porque já foi deputado, e deixou um nome honroso (apoiados).

Portanto o juiz era incapaz de estranhar ao delegado o acto que tinha exercido como eleitor na assembléa, embora não votasse.

Mas fosse como fosse, o que é certo, é que qualquer individuo tinha o direito de fazer aquillo, comtanto que fosse eleitor d'aquella assembléa. Aqui tem a camara o que houve na assembléa de Villa Pouca.

Vamos á assembléa de Pensalvos. É uma certa assembléa que se organisou, segundo se diz, para arrastar os eleitores a 18 kilometros de distancia, e estes eleitores eram os da freguezia de Tellões, que se diz queriam arrastar para longe de suas casas com o fim de os privar de votar! E fallou-se n'isto como de um grande escandalo. Pois não foi escandalo nenhum, porque Pensalvos era mandada para Tellões pela camara, e tão longe é de Tellões a Pensalvos como de Pensalvos a Tellões...

O Sr. Borges Fernandes: — Affirmo ao illustre deputado que nunca Pensalvos foi a Tellões.

O Orador: — E a mim parece-me que sim; porque na divisão feita pela camara não só ía Pensalvos para Tellões, mas ía tambem Parada de Monteiros, que é legua e meia mais longe de Tellões do que Pensalvos. E para que se faça verdadeira idéa d'estas distancias, direi que Tellões, por exemplo, é no terreiro do Paço, Pensalvos aqui e Parada de Monteiros em Santa Izabel. O que se queria era arrastar estas duas freguezias a Tellões para que não votassem. E o que fez o conselho de districto, que já disse que é a quem compete julgar? O conselho de districto decidiu que a assembléa se collocasse no centro, e o centro era Pensalvos.

E quem queria privar os eleitores do direito de votar? Era a camara municipal ou o conselho de districto? (Apoiados.) Esta camara o avaliará (apoiados).

Agora quanto á accusação que se faz da mesa da assembléa de Pensalvos se ter formado antes da hora, direi que me parece que esta accusação não tem o menor fundamento. A camara não sabe nem V. ex.ª qual era a hora em que de ha annos costumavam formar-se as mesas no concelho de Villa Pouca. Pois asseguro-lhes que não consta ha muitos que n'aquelle concelho a hora seja aquella que a lei marca, mas a do meio dia, uma hora e duas. E querem saber a rasão por que se fazia isto? E porque nas eleições dos deputados, no systema des grandes circulos, o concelho de Villa Pouca estava no costume de ser uma especie de reserva, um não chega, a que os traficantes para supprir a falta que havia nos outros concelhos (hilaridade) — e então fazia-se a eleição mais tarde — dizia o chefe do districto ou os seus: «Precisam-se tantos votos para fulano». Batia-se com a varinha de condão, e a uma de Villa Pouca respondia: «Ahi vão mais tantos para fulano. Ahi vae ainda mais tantos para fulano. Prompto.»

Aqui está a rasão por que ali se fez sempre a eleição tarde, e nunca se formou a mesa da assembléa menos do meio dia e uma hora. Por consequencia os da freguezia de Tellões, em logar de II em á hora de se formar a mesa, foram á hora em que costumavam ir, e então quando lá chegaram acharam a mesa formada, porque não querendo o presidente formar a mesa na hora que a lei manda, os eleitores nomearam outro presidente, e este formou a mesa com os eleitores que estavam presentes. Quando chegaram os eleitores da freguezia do Tellões a mesa já estava formada, e estava se já votando. Chegaram os senhores de Tellões, e disseram: «Nós não votámos n'essa mesa, não a queremos, vamos formar outra»; e assim fizeram; de modo que haviam duas mesas; os eleitores que eram de um partido entregavam as listas n'uma das mesas, e os do outro na outra mesa (riso). Agora que me digam — qual é a mesa intrusa? É a primeira ou é a segunda? (Riso.)

Talvez me digam, como disso o sr. Pinto de Araujo, formou se a mesa antes de dar a hora legal, adiantaram o relogio. Não tenho aqui as provas documentaes, mas breve hão de ser presentes á camara, porque esta questão é incidental de adiamento, porquanto a questão principal ainda ha de vir, ha de ser presente á camara, pois sei que fôra remettida ao governo uma justificação de seis parochos d'aquella assembléa, declarando que =a mesa fôra formada depois das dez horas =. Ha um unico parocho, que é o de Tellões, que não fez esta declaração. São seis contra um.

Disse o sr. Pinto de Araujo: «Votaram mortos e ausentes, não n'esta assembléa, n'outras». Pois n'esta assembléa se não votaram mortos, votaram ausentes, isto é, votaram homens que estão parochiando fôra do concelho ha dez annos; apesar d'isto lá foram votar... (Riso.)

Vozes: — Ouçam, ouçam.

O sr. Borges Fernandes: — E porque têem lá o seu domicilio politico.

O Orador: — A lei não permitte isso...

O sr. Borges Fernandes: — Permitte.

O Orador: — Pôde ter domicilio politico num concelho um homem que está parochiando ha muitos annos fóra desse concelho? Para mim é novo...

O sr. Borges Fernandes: — E da lei.

O Orador: — Pois tem ou pôde ter domicilio politico um parocho que está a 7 e 8 leguas de distancia do local aonde foi votar, e que está effectivamente parochiando?...

O sr. Borges Fernandes: — Tem e pôde ter.

Vozes: — Pôde, tanto em relação aos parochos, como a qualquer cidadão.

O Orador: — Não creio.

Mas vamos á assembléa de Bornes. A assembléa de Bornes tambem é accusada de violencias e de mais violencias.

Disse-se que = na assembléa de Bornes foi roubada a uma, que houve tiros no irmão do administrador do concelho, e não sei que mais violencias =.

Ora eu vou dar conta do que se passou na eleição da assembléa de Bornes, e sei tão bem o que se passou n'esta assembléa como sei o que se está passando agora na camara, e o que se passa em minha casa quando lá estou.

N'esta assembléa tentou a opposição transtornar a ordem publica, e projectou transtorna-la porque contava perder lá a eleição. No dia da eleição, pela manhã cedo, foram mandados pelos chefes da opposição homens armados para os logares proximos do local da assembléa. Os que eram votantes deixaram lá as armas e foram para a assembléa, e os que o não eram foram vigiar aonde era preciso. O sr. Paulo Canavarro, chefe da opposição e irmão do administrador (digo isto porque se fallou aqui no irmão do administrador), é quem assistia aquella eleição, e por parte da opposição fiscalisava o acto eleitoral. O presidente da assembléa, eram dez horas da manhã, fez a proposta para a formação da mesa; a assembléa rejeitou a. O presidente renovou a mesma proposta, a assembléa tornou a rejeita-la, e a final vieram a um accordo. O sr. Canavarro, com os chefes do partido progressista, combinaram n'uma mesa mixta; formada essa mesa mixta, assentaram começar os trabalhos. Tinham votado duas ou tres freguezias, e foram dizer a um dos chefes da opposição, que estava fóra, que o reitor da freguezia de Bornes estava dando e tirando listas na igreja; este cavalheiro, chefe da opposição, entrou imprudentemente com um punhal na mão pela igreja dentro, ameaçando com elle o reitor da freguezia!

Eis o primeiro acto de provocação e transtorno de ordem que houve na assembléa de Bornes.

Vieram outros, deitaram-lhe a mão ao punhal e tiraram-n'o para fóra da igreja sem lhe fazer mal nenhum, sem responder á violencia com a violencia.

N'estas circumstancias a povoação de Bornes agitou-se, porque é muito amante do seu parocho. Constando que elle estava para ser assassinado, houve toques de sinos, e reuniu-se a povoação toda, até as mulheres e os rapazes, para lhe acudirem.

Comtudo, no meio d'esta agitação, é certo que cão foi perturbada a ordem da eleição, e que a mesa continuou invariavelmente recebendo as listas dos eleitores que se approximavam da mesa.

Em consequencia d'estes toques de sinos e do alarma que causou o facto de ter aquelle individuo puxado pelo punhal para o parocho, houve alguem da opposição que correu a Villa Pouca, e foi dizer ao administrador do concelho que acudisse, porque havia em Bornes uma grande desordem.

O administrador do concelho deixou a assembléa de Villa Pouca, onde estava em cumprimento dos seus deveres, e foi com a tropa que ali se achava acudir á desordem. Chegou a Bornes; e quando lá chegou estava a ordem restabelecida.