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Continuou pois a recepção das listas até ao pôr do sol.

Mas, ao pôr do sol, a apposição, que queria ver se achava um ensejo para fugir com a uma, perguntou: «Para onde ha de ir agora a uma?» Responderam-lhe os progressistas: «Fica em cima da mesa, e a porta aberta para a guardar quem quizer; e pede-se ao commandante da força que mande para ahi uma escolta». «Nada, a uma ha de ir para casa do padre Lino». «Não consentimos, ha de ficar em cima da mesa». E o sr. Paulo Canavarro, fingindo que saia fóra por outro qualquer motivo, foi buscar tres homens armados de punhaes é pistolas, seus creados, e entrou com elles pela igreja dentro. (Vozes: — Ouçam, ouçam.)!

O presidente, que estava de combinação com elle, pegou na urna, deu-a a um cavalheiro que era mesario; esse passou-a a outro, esse outro cavalheiro passou-a ao sr. Paulo Canavarro, e esse aos seus creados, que a trouxeram para fóra. (Vozes: — Ouçam, ouçam.)

Mas o parocho gritou, a povoação correu e a uma foi-lhes tirada e posta em cima da mesa. Ficou ali toda a noite com a porta aberta e com a força que lá estava a guarda-la, sob responsabilidade do commandante d'essa força.

E querem saber quem era o commandante? Era pessoa insuspeitissima para a opposição do districto de Villa Real.

Diz a junta geral do districto, na sua queixa a Sua Magestade:

«Bastou que um digno official, que é proprietario na capital do districto e que estava aqui com licença, mostrasse repugnancia a ouvir os manejos da auctoridade, para ser logo mandado recolher ao corpo.»

Pois foi este official, que commandava a força, quem guardou a uma da assembléa do Bornes.

Então como é que a uma foi roubada? Não sei. Deixaria elle roubar a uma, uma cousa que lhe foi entregue á sua guarda? Não o posso suppor e ninguem o crerá.

Era o sr. Luiz Antonio Ribeiro, um bello official a quem eu muito prezo e estimo, pessoa em nada suspeita para a opposição do districto de Villa Real, quem commandava essa força, e a quem os progressistas entregaram a uma para a guardar. E já se vê que o general não nomeou o sr. Luiz Antonio Ribeiro para este serviço, para o privar de influir nas eleições; nomeou-o para elle, porque precisava dos officiaes do corpo para lhes entregar forças que mantivessem o socego publico nas assembléas onde tinha de haver a eleição, para onde lho foi requisitada.

De Villa Pouca vieram tambem tres ou quatro cavalheiros pedir a demissão do governador civil, e remedio para essas grandes desgraças que houve n'aquelle concelho. Mas a esses tres cavalheiros responde um nós abaixo assignados de 600 o tantos eleitores, cuja assignatura foi reconhecida por um tabellião.

Dizem estes eleitores (leu).

Seguem-se seiscentas e tantas assignaturas. A tres que vieram dizer que o districto não queria o governador civil, responderam seiscentas e tantas que o querem.

Do concelho de Val Passos, de que fallei na ultima sessão, recebi hoje outra representação no mesmo sentido, e é assignada esta representação por cavalheiros respeitabilissimos, principiando pelo juiz de direito, o sr. José de Moraes Carvalho, e a maior parte dos homens distinctos do concelho, inclusivè alguns chefes da opposição; elles aqui estão assignados. São perto de quatrocentas assignaturas, e entre ellas as dos srs. Ayres Pinto de Magalhães Barreiro, João de Sousa Gavaias e José da Conceição Martins.

Estes, tres ultimos cavalheiros são effectivamente os chefes da opposição na cabeça do concelho. Por consequencia, uma de duas, ou é tão nojenta a perseguição que se faz ao sr. Barbosa do Abreu e Lima e tão revoltante o que d'elle se tem dito, que arrastou estes homens a protestar contra isso, ou então morreu a opposição no concelho de Val Passos. Uma das duas cousas ha de ser infalivelmente (apoiados). Estes e muitos outros homens notaveis da opposição no concelho de Val Passos estão assignados na representação.

O illustre deputado, o sr. Borges Fernandes, teve a bondade de negar o que eu dizia quando fiz uma comparação relativamente ao caminho a seguir para a assembléa de Tellões. Agradeço a attenção do illustre deputado, mas vamos a ver como é que a camara municipal de Villa Pouca designava as assembléas...

O sr. Borges Fernandes: — Eu disse que Pensalvos nunca foi a Tellões.

O Orador: — Eu leio a designação das assembléas (leu).

Tellões equivale a estar no Terreiro do Paço, Pensalvos aqui, e Parada de Monteiros fica legua e meia abaixo de Pensalvos. Por onde passavam os eleitores de Parada de Monteiros? Por Pensalvos...

O sr. Borges Fernandes: — Não, senhor, nunca por lá foi 0 caminho.

O Orador: — Eu acho esteril e inconvenientissimo estar a discutir aqui estas questões (apoiados), principalmente depois do que disso o nobre ministro do reino acho inconvenientissimo (apoiados), porque não é n'este fôro que deviam ser discutidas as eleições municipaes (apoiados). E se nós formos a discutir aqui todas as eleições municipaes, atrás das eleições municipaes hão de vir as eleições parochiaes; e as opposições, quaesquer que sejam, têem então encontrado uma mina inexhaurivel para impedir a marcha dos trabalhos do parlamento, e para o não deixar fazer cousa nenhuma (apoiados).

Eu não venho aqui desculpar quaesquer actos do governador civil de Villa Real, porque nem tenho licença d'elle para o desculpar, nem elle consente que o desculpem por cousas que praticou segundo a sua consciencia: eu venho aqui narrar os factos e dizer a verdade conforme entendo, conforme a sei, sem ter a pretensão de pedir perdão ou desculpa pura ninguem. Se ha peccado, o governo o examinará, e o saberá quando lhe for presente o inquerito a que mandou proceder (apoiados); e eu, que nunca pedi perdão para os meus peccados politicos, porque me diz a consciencia que os não tenho, tambem não venho pedir perdão para os peccados de ninguem (apoiados).

O illustre deputado, o sr. Manuel Pinto de Araujo, ameaçou nos com uma revolução, e perguntou ao ministerio — se não sabia o estado em que se achava o districto, só não temia a anarchia, se não temia uma revolução? Nem o governo pôde temer uma revolução, nem eu a temo, nem ninguem a pôde temer. Quem é que ha de fazer a revolução? Quem hão do seduzir? Querem comprar o general? Não ha oiro que o compre (apoiados). A força armada tem muito brio para se não deixar seduzir, para se não vender (apoiados). O povo? Pois os nobres opposicionistas contam com o povo do districto? Quem é que o quer? Projectam compra lo? Tambem o queriam comprar para a eleição, e elle cuspiu lhe no oiro e calcou o aos pés: se o quizerem comprar para a revolta, ha de arrojar-lh'o ás faces com a mão da indignação. O povo de Trás ás Montes não se vende por dinheiro, captiva-se com fineza.

Eu peço ao governo que se lhe for preciso tire de lá o genere! e a tropa, não deixe nenhum soldado de linha, mande os veteranos guardar as cadeias, e mais nada, que eu respondo pela tranquilidade do districto, respondo, digo o alto e bom som. E o soldado do Mindello que responde pela tranquillidade do districto. Ameaçara com a revolução? Pois tentem-a, que hão de soffrer as consequencias (apoiados).

Eu já disse que acho esteril e inutil este debate, e que o mais rasoavel era esperar-se pelo inquerito, para depois se entrar, mais miudamente e em vista dos factos e das provas, n'esta questão (apoiados). Por consequencia voto pelo adiamento, germinando assim o meu discurso. (Vozes: — Muito bem.)

Peço desculpa á camara de qualquer expressão menos agradavel que soltasse, porque o meu fim não é offender nenhuma pessoa, nem aqui nem em outra parte (Vozes: — Muito bem, muito bem); e agradeço a benevolencia com que me trataram. (Vozes: — Muito bem, muito bem.)

(O orador foi cumprimentado por muitos srs. deputados.)

O sr. Ministro da Marinha (Mendes Leal) (sobre a ordem): — Pedi a palavra para mandar para a mesa duas propostas de lei. A primeira, creando um logar de interprete da lingua china em Macau. A segunda, modificando as penas de degredo na India, assim para os gentios como para os christãos.

Se v. ex.ª permitte, aproveitarei a occasião para declarar á camara que recebi, ha poucos dias, tres notas de interpellação, uma do sr. Sieuve de Menezes, e duas assignadas pelos srs. Arrobas e Rodrigues da Camara, deputados por Cabo Verde, e que estou prompto para responder a ellas. Não 6 agora occasião, mas ámanhã, antes da ordem do dia, eu me apresentarei para responder a essas interpellações e a quaesquer outras que se tiverem de fazer. Vozes: — Muito bem.

O sr. Ministro da Justiça (Gaspar Pereira): — Tambem recebi uma nota de interpellação do nobre deputado, o sr. Mártens Ferrão, ao mesmo tempo acompanhada de um requerimento para virem certos documentos.

Os documentos apresentaram m'os hoje copiados, são um pouco volumosos, e ámanhã hão de ser remettidos. Logo que cheguem á mesa, irei declarar que estou prompto para responder á interpellação. Nesta interpellação hão de tomar parte tambem os srs. Quaresma e José Maria de Abreu, e é relativa a um despacho que se fez na camara ecclesiastica de Coimbra.

Ha uma outra, parece-me que do sr. Sieuve de Menezes, relativamente á ausencia de um juiz. Eu irei á mesa dar-me por prompto para responder a todas as interpellações que te têem dirigido, na occasião que o sr. presidente determinar que ellas tenham logar, e creio que é na prorogação da sessão que costumam ter logar as interpellações; mas em qualquer occasião estou prompto para responder a ellas.

O sr. C. J. Nunes: — Mando para a mesa o parecer das commissões de legislação e de fazenda, ácerca da proposta apresentada pelo governo para a abolição do monopolio do tabaco no continente do remo e ilhas adjacentes.

O sr. Presidente: — Faltam poucos minutos para dar a hora. A ordem do dia para a sessão de ámanhã é a mesma que vinha para hoje.

Está levantada a sessão.

Eram quasi quatro horas da taras.