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554 DIARIO DA CAMBRA DOS SENHORES DEPURADOS

dos negocios do paiz, fazer a leitura de folhetins, que tem o seu logar em outra parte. (Apoiados.)

É facil admittir em mim como em outro qualquer esta dualidade: eu posso ser aqui ministro lá fora escriptor ou folhetinista, e n'esta ultima qualidade parece-me que podia fallar de Serpa Pinto. No que disse me baseei senão unica e exclusivamente, e o illustre deputado póde confrontar, se quizer, nas noticias que a respeito de Serpa Pinto um jornal tinha dado. Não ha uma phrase que não seja a reproducção do que já estava escripto.

Imagine s. exa. portanto, a estranheza que eu tive quando vi ,que o illustre deputado vinha fazer politica com aquelle artigo, o illustre deputado que não à devia fazer n'esta questão, porque sabe melhor do que ninguém que eu não faço politica nem despachos de qualquer ordem (apoiados), é procuro unicamente, com relação às colonias, fazer o que julgo util ao seu desenvolvimento, procurando, os homens que julgo que são proprios para as missões que lhes são incumbidas, e ninguém estranharia que eu fosse procurar o sr. Serpa Pinto para fazer uma exploração.

Não quero entrar agora no debate, que. s. exa. levantou, refiro-me só ao lamentavel incidente que se levantou.

Posso dizer affontamente que se s. exa. lesse todo aquelle folhetim, e sê o não leu todo, póde-o fazer, havia de encontrar n'elle esta expressão humoristica que se encontra vinte vezes nas paginas de Ramalho Ortigão mais brilhante do que as minhas; porém não encontraria uma palavra sequer, que não seja uma homenagem aos talentos e á audácia patriótica de Serpa Pinto.

(S. exa. reviu as notas tachygraphicas.)

Vozes: - Muito bem, muito bem.

O Orador: - Mando para a mesa a renovarão de iniciativa de um projecto de lei.

Vae no fim da sessão.

O sr. Scarnichia: - O que tinha a dizer é relativo a um ponto em que tocou o sr. Elvino de Brito, mas, como s. exa. não está presente, peço ao sr. presidente que me reserve á palavra para outra occasião.

Aproveito estar com a palavra para dizer, que, com relação a um incidente que houve outro dia entre mim e o sr. Elvino de Brito estou plenamente satisfeito com as explicações de s. exa.

O sr. Presidente: - Estando terminado este incidente, e visto a hora estar adiantada, dava para ordem do dia de segunda feira a discussão do bill de indemnidade.

Está levantada á sessão.

Eram cinco horas e meia da tarde.

Relatorio e propostas de lei apresentadas n'esta sessão pelo sr. ministro da fazenda, e proposta de renovação de iniciativa apresentada pelo sr. ministro da marinha

N.º 15-A.

Senhores. - Pouco depois do. haver assumido a gerencia dos negócios da fazenda, vim exporvos, com a isenção e franqueza que devo á representação politica do meu paiz, os principios que professava e as convicções que me assistiam, ao entrar em lucta com as difficuldades que acercam o problema financeiro, de todos o mais grave na vida economica de uma nação. Um anno é decorrido; a experiencia que até hoje adquiri mais me confirma no juizo e apreciação, que então fiz, das condições em que esse problema se agita, e da necessidade, que de dia a dia se accentua, de o encarar na sua inteira verdade, sem exageros que o desvirtuem, e sem exaltações que o compliquem. Nesta questão, se o optimismo se avizinha da imprudencia, em perigoso desalento resvalam as carregadas invectivas que infelizmente a paixão politica não raro inspira.

Com a verdade todos temos a lucrar; oxalá que por ella, e para ella, se abatessem de vez as animosidades partidarias, e que, dirigidas por uma vontade consciente, e segura, as armas de combate porfiassem tão só no utilissimo emprehendimento da mais completa regularisação das nossas, finanças.

Comprehende-se, que n'um systema: genuinamente constitucional, e obedecendo mesmo às boas práticas parlamentares, as - opposições se esforcem - e genericamente fallo, não me referindo em especial a nenhum dos partidos militantes - por conter nos mais severos limites aadministração dos negócios públicos, discutindo os actos do governo, ou impugnando as suas propostas legislativas, quando menos convenientes se lhes afigurem; esse é o seu direito, o seu próprio dever. O que, porém, mal se justifica, o que deixa de ser um serviço prestado á causa publica para se converter num prejudicialissimo aggravo feito aos mais altos interesses do estado, é que no ardor da peleja tudo se sacrifique ao apertado desejo de mal ferir a situação política que se digladia, fazendo uma impensada propaganda de terror, que para logo se reflecte nos mercados, onde a confiança é uma condição de vida.

Segundo o movimento impulsivo das sociedades modernas, lançámo-nos no caminho do progresso; abrimos estradas, talhámos caminhos de ferro, estabelecemos telegraphos, instituímos escolas, melhoramos serviços, procurando assim firmar as bases primordiaes de um complexo desenvolvimento de forças e de meios de acção, que pela actividade e pelo trabalho nos preparem um futuro de mais largas compensações. Estão dados os primeiros passos; e não sem custo por certo. Para que, todavia, possamos prosseguir, de uma cousa precisamos sobretudo manter o credito. E o credito é como á sensitiva; retrahe-se mal lhe tocam.

Ao credito nos temos soccorrido, para fazer vingar os nossos mais productivos commettimentos; foi elle a poderosa alavanca de que nos servimos pára conquistar um tão apreciavel incremento de riqueza, que ninguém de boa fé o póde sequer por em duvida; a todas as luzes, se patenteia, em factos de todos os dias se traduz; de molde lhe cabe aquella expressiva affirmação de um escriptor de outros tempos: Hoc quisquis non videt, coecus; quisquis videt nec laudat, ingratus; quisquis. laudanti reluctatur, insanus est.

Trouxe-nos encargos esse ousado recurso, incontestavel é; encargos pesados, que nos absorvem uma avantajada parte das receitas do thesouro. Quando, porém, nos lembramos de que as nossas receitas se, inscreviam por réis 10.362:271$043 no orçamento de 1881-1882, e de que no orçamento de 1880-1886 se inscrevem por 31.378:490$OOO réis, temos o direito de perguntar se a esta notavel elevação de receita não corresponde uma sensível melhoria nas circumstancias economicas do paiz, e se tão estéreis são os sacrificios que nos temos imposto que nos não dêem a fundada esperança de lhes vermos succeder um período de mais rasgada prosperidade.

Não quer isto dizer que irreflectida e imprudentemente nos abalancemos a todas as despezas que demandaria o prompto implemento das nossas mais sentidas aspirações. E longa bastante a vida de uma nação para que gradual e successivamente progrida; preparar e promover a sua natural evolução é uma conveniência; precipitai a seria um erro.

Mas erro não menos grave, e sentimento bem pouco louvavel, seria abafar e denegrir os persistentes esforços, com que todos temos diligenciado alevantar aqui o nivel da nossa situação económica, ao passo que; honrando sempre os compromissos assumido, procurámos assegurar ao credito do paiz foros de inteira lealdade nas praças estrangeiras a que houvemos de recorrer. Até agora as cotações dos nossos fundos, e as clausulas dos contratos de empréstimo que temos celebrado são uma prova irrefragavel de